Bancos correm para concluir adaptações exigidas pelo Open Banking

Implantação entra em sua segunda fase no próximo dia 15 de julho

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Belo Horizonte

Três dos cinco maiores bancos do país estão correndo para concluir todas as adaptações tecnológicas exigidas para entrar na fase dois da implementação do open banking.

A partir do dia 15 de julho, as instituições participantes devem viabilizar o compartilhamento de dados como informações cadastrais, transações em contas e cartões, empréstimos e financiamentos contratados por seus clientes.

O processo envolve desde a padronização de bancos de dados à criação de um ambiente dentro dos aplicativos com o passo a passo para que o usuário possa autorizar o compartilhamento.

“O cronograma é bastante desafiador. Sempre foi, desde o início, mas avaliamos como factível”, diz João André Pereira, chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do Banco Central.

Desafiador foi também o termo usado por Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil. “É um cronograma apertado, principalmente se compararmos o nível de complexidade da implantação do sistema no Brasil ao de outros países, como Reino Unido e Austrália”, diz Thiago Charnet, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco.

O modelo britânico, explica ele, não incluiu o compartilhamento de dados de investimento, câmbio, seguros e previdência, por exemplo.

No caso do Santander, o histórico de crescimento por aquisições e o fato de já operar em regime de open banking no Reino Unido são diferenciais que têm ajudado, segundo Jayme Chataque, superintendente-executivo de Open Banking, Tecnologia e Operações.

“Estamos acostumados a fazer adaptações tecnológicas de grande complexidade para integrar diferentes aplicações às nossas. Também somos o único grande banco de varejo no Brasil com operação fora do país”, afirma. Chataque diz que a equipe internacional de tecnologia do banco está compartilhando experiências com o time brasileiro.

Ainda assim, o Santander contratou profissionais externos para garantir as entregas e colocou parte significativa de seu setor de tecnologia em regime de dedicação exclusiva à implantação.

Ilustrações para o caderno especial sobre Open Banking
Catarina Pignato

O Banco do Brasil, por sua vez, decidiu contar apenas com sua equipe interna. Karen Machado, gerente-executiva de negócios digitais, afirma que a instituição está muito próxima de concluir as mudanças demandadas pelo BC. “Já tínhamos experiência na construção de APIs, é um território em que já navegávamos com bastante conforto.”

Bruno Magrani, diretor de Relações Institucionais do Nubank, afirma que graças ao DNA digital do banco, a implantação deve ocorrer “de forma muito natural”.

O lançamento da primeira fase do open banking, previsto inicialmente para 30 de novembro de 2020, acabou adiado pelo BC para 1º de fevereiro, a pedido de entidades do setor. Pereira afirma que o tempo adicional foi necessário para um ajuste fino na operação e que há a possibilidade de ocorrer o mesmo agora.

Além das adaptações exigidas pelo BC, as instituições financeiras preparam, em paralelo, novos serviços e produtos a serem lançados juntamente com a fase dois.

É o caso do Banco do Brasil, que planeja oferecer uma nova versão de seu módulo de gerenciamento de finanças pessoais: além de visualizar as transações realizadas na conta do banco, o cliente poderá trazer os dados de outras instituições financeiras e consolidá-los em um único extrato. Assim, o correntista poderá ver em uma única tela todas as suas movimentações bancárias, tendo uma visão geral de renda e gastos.

O Santander também planeja oferecer as funcionalidades. Com o dia 15 de julho cada vez mais próximo, as equipes de tecnologia começam a se organizar para entregar a terceira fase, que promete ser ainda mais trabalhosa.

Até 30 de agosto, os bancos têm de estar prontos para compartilhar serviços entre si, o que envolve um trabalho mais minucioso e com atenção redobrada à segurança das plataformas.

“A complexidade vai aumentando de acordo com a sensibilidade do compartilhamento de dados”, diz Pereira, do BC. Ele afirma, no entanto, que a corrida pela implantação vai além do mero cumprimento das regras.

“Mesmo os bancos grandes, que no início tinham alguma resistência porque estavam em sua zona de conforto, já enxergaram que o open banking é um campo de oportunidades de negócios para eles.”
Procurados para falar de seus planos para a implantação do open banking, Bradesco e Caixa Econômica Federal não responderam.


O que é open banking
O sistema financeiro aberto é a possibilidade de instituições financeiras compartilharem informações de seus correntistas com outras. Só ocorre com autorização do cliente, que define também quais dados podem ser compartilhados e com quem. A permissão pode ser suspensa a qualquer momento

Países que já adotaram
Reino Unido e Austrália

Onde está em análise
África do Sul, Canadá, EUA, México, União Europeia, Quênia, Nigéria, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Singapura, Hong Kong e Japão

Cronograma no Brasil
2ª fase (início 15/7/2021)  
Compartilhamento de dados transacionais entre as instituições e os cadastrais autorizados pelo cliente (CPF, CNPJ, telefone, endereço etc.)

3ª fase (início 30/8/2021)
Compartilhamento de serviços de iniciação de pagamento (transferências) pelo Pix

4ª fase (início 25/10/2021)
Compartilhamento dos dados de instituições (como lista de produtos e preços) sobre demais operações (como câmbio, investimentos, previdência e seguros)

15/2/2022
Compartilhamento de transferências entre contas do mesmo banco e TED

30/3/2022
Compartilhamento do serviço de encaminhamento de proposta de operações de crédito

31/5 2022 
Compartilhamento de dados de clientes sobre demais operações, como câmbio, investimentos, previdência e seguros​

30/6/2022 
Compartilhamento de pagamento por boleto

30/9/2022
Compartilhamento de débito em conta


Glossário

Open finance 
Formato mais ampliado do open banking, quando todos os produtos passam a integrar o sistema, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio​

Fintech
Junção de finance technology, identifica empresas ligadas ao sistema financeiro especializadas em inovação e tecnologia. Podem ser de crédito (que concedem empréstimos), de pagamentos ou outros tipos de negócios (como de controle financeiro)

Iniciadores de pagamentos (Pisp)
Ou prestador de serviço de iniciação de pagamento (Pisp), são empresas autorizadas a intermediar o repasse de recursos entre contas em bancos diferentes. O WhatsApp recebeu em maio autorização do BC para atuar nessa categoria

Agregadores
​Plataformas que se conectam a todas as contas do usuário e centralizam dados de saldo e dívidas, para maior controle financeiro

API 
Canal de compartilhamento de dados entre instituições. São conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para trabalhar dados de maneira padronizada

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