Para mercado de trabalho, o importante é profissional ser capaz de resolver problemas

Há uma tendência de menos vínculo entre o curso universitário e a profissão exercida, dizem especialistas

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São Paulo

Para formar profissionais completos e capazes de resolver problemas, as instituições de ensino superior precisam trabalhar o conteúdo de forma interdisciplinar. Só assim será possível acompanhar as mudanças sociais, tecnológicas e de mercado de trabalho que foram aceleradas pelo contexto da pandemia.

É o que afirmam os convidados da 2ª edição do seminário Universidade do Futuro, promovido pela Folha, com patrocínio na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), na segunda (4) e terça-feira (5).

“As soluções não virão de uma única área de conhecimento, a gente está em um momento de oportunidade de diálogo das áreas de tecnologia com ciências humanas, que não deveriam estar tão separadas”, afirma Silvana Bahia, coordenadora da PretaLab, iniciativa de inclusão de mulheres negras na inovação e na tecnologia.

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, diz que é preciso trabalhar de forma colaborativa entre as universidades. “Para aumentar o impacto da ciência brasileira, é necessário fazer pesquisa em parceria com outras instituições dentro do país e com estrangeiras. A produção do conhecimento muito individualizada dificulta grandes descobertas”, afirma.


Veja, abaixo, o vídeo do debate


Há uma tendência de menos vínculo entre o curso universitário e a profissão que o aluno exercerá no mercado de trabalho, avaliam os especialistas. “Precisamos formar profissionais resolvedores de problemas”, pontua Eduardo Migliano, co-fundador da 99jobs, comunidade colaborativa de carreiras.
Ele cita como exemplo o profissional de design, que precisa dominar tecnologias relacionadas com interface e experiência do usuário na internet.

A pandemia acelerou o desenvolvimento tecnológico e há uma demanda muito grande de profissionais de tecnologia que o mercado tem dificuldade em preencher. “Com o trabalho remoto e híbrido, grande parte vai trabalhar para empresas estrangeiras.”

O resultado desse cenário é o que Migliano chama de “juniorização” do mercado de trabalho, com as empresas tendo que competir com a oferta de concorrentes estrangeiras, cuja remuneração é em dólar, resultando em profissionais pouco experientes com salários altos.

“O processo de contratação fica desestruturado e insustentável para as empresas. Vivemos um apagão. Trabalhamos com 3.000 empresas e temos recusado projetos porque sabemos que o mercado não consegue atender.”

O atual coordenador do curso de design da PUC-SP, Diogo Cortiz da Silva, conta que a grade foi desenvolvida visando não apenas as habilidades e competências, mas a inserção daquele profissional no mercado.

Cortiz, que também é pesquisador no NIC.br (Núcleo de Coordenação de Iniciativas e Serviços de Internet no país), diz que o curso de design no Brasil sempre foi muito direcionado para o gráfico ou de produto, e já se percebia uma demanda por um profissional que soubesse trabalhar com tecnologia.

“Tentamos abandonar o olhar só do conteúdo e trazer metodologias ativas.” O resultado é um curso que não não tem disciplinas fechadas, mas em que, a cada período, os alunos precisam desenvolver um projeto.

“Apesar de a universidade ser uma instituição estável, numa sociedade que se transforma de maneira tão forte, ela tem que se abrir para entendê-las e para criar um futuro melhor para todos nós”, defende Cortiz.

Outro desafio que se coloca é a qualidade do ensino, especialmente nas instituições particulares com fins lucrativos, afirma Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação.

“Há, por exemplo, uma demanda excessiva por cursos como direito, que formam pessoas que nunca entram no mercado de trabalho. É um negócio gigantesco. Esses alunos fazem faculdade achando que vão melhorar de vida, mas boa parte é reprovada no exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e a carreira não tem continuidade.”

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