Descrição de chapéu Futuro da Alimentação

Empresas usam tecnologia para popularizar comida vegana

Expectativa é que o valor desse segmento cresça e chegue a R$ 843 bilhões em 2030 ante R$ 150 bilhões em 2020

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São Paulo

Produtos à base de plantas ganham espaço nas prateleiras dos supermercados e nas despensas em meio ao aumento da preocupação com a saúde e com as mudanças climáticas.

A expectativa é que, em 2030, o valor desse segmento chegue a US$ 162 bilhões (R$ 843 bilhões) ante US$ 29,4 bilhões (R$ 150 bilhões) em 2020, segundo relatório do instituto de pesquisa Bloomberg Intelligence.

Para abocanhar uma fatia desse mercado, empresas apostam na tecnologia para criar soluções inovadoras na área de alimentos. São as chamadas foodtechs.

Pratos com comidas
Fundada em 2018, a Beleaf vende comida congelada à base de planta, como nhoque, strogonoff e espaguete com almôndegas - Divulgação/Beleaf

"Essas empresas atuam no desenvolvimento de tecnologias e funcionam como precursoras de novos negócios", explica Caroline Mellinger, pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Boa parte do púbico dessas empresas é formado pelos flexitarianos, ou seja, pessoas que querem diminuir o consumo de proteína animal apesar de não serem veganas nem vegetarianas.

"São pessoas que, por diferentes motivos, querem substituir a proteína animal, mas preservar seus hábitos alimentares, como o sabor e o prazer na hora de comer", diz. Por isso, surgem no mercado produtos que reproduzem pratos tradicionais, só que à base de proteína vegetal.

"Essas empresas têm como público pessoas preocupadas com a saúde, sustentabilidade e com a vida animal", afirma Caroline.

A Beleaf é uma das foodtechs que decidiram investir nesse público. Fundada em 2018, a empresa de comida congelada oferece pratos como nhoque, estrogonofe e espaguete com almôndegas. Tudo isso, é claro, feito à base de plantas.

"A alimentação vegana passou a ser vista como algo que não é só para vegano. Hoje, 80% dos nossos consumidores são pessoas que comem carne, mas querem reduzir o consumo", diz Fernando Bardusco, fundador da empresa.

Segundo ele, já foi vendido cerca de 1 milhão de refeições e a ideia é baratear os preços para chegar a mais gente.

"O preço das refeições está em R$ 30 no varejo e nosso objetivo é chegar a R$ 19", diz ele.
Leonardo Nones é outro empresário que diz estar colhendo bons frutos dos alimentos à base de plantas.

Em 2020, ele fundou a Marmita App, aplicativo que entregava tanto refeições veganas quanto com proteína animal.A partir de maio daquele ano, Nones decidiu mudar o nome do negócio para Veggi e apostar apenas no mercado vegano.

"A gente viu que 90% das nossas vendas eram de produtos veganos", explica ele, e acrescenta que teve receio de enfrentar uma queda nas vendas em razão da mudança. "Foi justamente o contrário. Observamos um aumento de 100% depois da transição."

Não só o consumidor recebeu bem a mudança. Nones afirma que, em 2021, dois grupos de investidores colocaram na foodtech o total de R$ 700 mil. Já neste ano, ele diz que a Veggi captou R$ 1 milhão.

Com esse dinheiro, o empresário afirma que pretende levar a empresa para 80 cidades até 2025. Hoje, o aplicativo funciona em São Paulo e em Florianópolis.

Homem de capacete dirige uma motocicleta
A foodtech Veggi foi criada em 2020 e se consolidou no mercado por fazer entrega de comida vegana - Divulgação/Veggi

A exemplo do que acontece na Beleaf, a maior parte dos usuários do aplicativo são flexitarianos. "Cada vez mais as pessoas entendem que comida vegana é saudável e barata."

Especialistas, no entanto, recomendam que o consumidor tenha cautela na hora de comprar certos produtos à base de planta, como alimentos que imitam linguiça e hambúrguer.

Assim como as versões tradicionais, esses produtos podem passar por transformações industriais que os tornam ultraprocessados, alimentos que contém altos índices de açúcar, gordura e aditivos químicos. Em excesso, essas substâncias fazem mal à saúde.

"Não é porque é à base de planta que o produto é necessariamente saudável", diz Julio Beltrame Daleprane, professor do Instituto de Nutrição da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Segundo o especialista, as pessoas acabam recorrendo aos ultraprocessados veganos porque querem ter um estilo de vida saudável, mas sem deixar de lado a comodidade.

"Elas querem abrir uma embalagem e ter uma refeição pronta", afirma Daleprane, acrescentando que estudos internacionais mostram que alimentos ultraprocessados estão relacionados ao surgimento de doenças, como câncer e obesidade.

"Por isso, é importante que as pessoas leiam o rótulo para saber a quantidade de gordura e açúcar desses produtos."

Opinião parecida tem Anna Paola Pierucci, professora de nutrição da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A pesquisadora acrescenta que ultraprocessados vegetais também não trazem ganhos ambientais significativos.

Em muitos casos, afirma ela, a fonte de proteína desses produtos é a soja, grão associado ao aumento do
desmatamento. "Existe um ganho na redução da pegada hídrica e na emissão de carbono, mas não tem um ganho na devastação florestal, uso de agrotóxico e fertilizante", afirma Anna.

Presidente da Nude, Giovanna Meneghel diz que a empresa se preocupa com a sustentabilidade e com a qualidade nutricional de seus produtos. A foodtech vende leite vegetal feito à base de aveia. "A gente trabalha com aveia orgânica e os nossos produtos não têm glúten nem aditivos, além de terem poucos ingredientes."

De acordo com ela, a expectativa é que o faturamento da empresa cresça 350% este ano em relação ao ano passado.

Apesar disso, ela diz que é um desafio popularizar produtos à base de planta. Isso porque, em geral, eles têm preços mais altos do que os tradicionais. No site da Nude, por exemplo, o leite vegetal custa quase R$ 21 (embalagem de 1 litro).

"A gente tem uma média de 40% a mais de encargos do que o leite de vaca, que tem subsídios de PIS/Cofins e ICMS. Já o leite vegetal não tem incentivo", explica ela. Giovana afirma ver a questão tributária como um complicador para aumentar o alcance do produto, mas acredita que o mercado evoluirá.

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