A detecção do câncer de próstata era um desafio para a medicina, já que métodos tradicionais por vezes não conseguiam identificar o tumor de forma precisa.
Esse cenário tem mudado graças à biópsia por fusão de imagens, considerada um dos principais avanços no diagnóstico dessa doença.
Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de próstata é o mais comum entre os homens, com exceção do de pele não melanoma. Em 2020, foram registrados 65.840 novos casos da doença e 15.841 mortes.
Coordenador da área de radiologia intervencionista do Hospital Albert Einstein, Rodrigo Gobbo diz que a biópsia por fusão de imagens permitiu que os médicos tivessem um alvo definido na hora de examinar a próstata.
Ao contrário do que acontece no câncer de mama, cuja biópsia é direcionada, na próstata o exame é feito de forma aleatória. Isso quer dizer que o profissional pode coletar até 28 fragmentos da glândula sem saber com certeza em quais áreas se localizam os possíveis tumores.
Os dois procedimentos usados para rastrear a doença não a identificam de maneira precisa. O mais conhecido é o toque retal, no qual o médico insere o dedo no ânus do paciente para apalpar a próstata em busca de alterações. Em geral, o profissional examina a zona posterior e lateral da glândula, onde os tumores costumam se instalar.
"Esse teste tem como vantagem a sua disponibilidade, porque ele é simples de ser feito, mas o médico só consegue detectar lesões que estejam ao alcance do toque digital e nem toda lesão da próstata é passível de ser alcançada dessa forma", explica Gobbo.
O outro exame é o PSA, que mede no sangue os níveis do antígeno prostático específico. Essa proteína é excretada pela glândula e, em altos níveis, pode indicar um câncer.
Existem, porém, doenças benignas da próstata que elevam o PSA, como a hiperplasia prostática. Além disso, o exame nem sempre consegue detectar alterações na concentração do antígeno, diz Marcus Vinícius Sadi, responsável pelo setor de uro-oncologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pelo setor de câncer de próstata da Sociedade Brasileira de Urologia.
"A gente ainda faz o toque retal porque, além de ser simples e barato, algo em torno de 5% e 15% dos pacientes podem ter tumores graves da próstata que não elevam o PSA", diz.
Para driblar esses problemas, a medicina tem apostado na biópsia por fusão de imagens, que combina ressonância magnética e ultrassom para localizar áreas onde há mais probabilidade de câncer.
"Isso aumentou a precisão do procedimento em muitas vezes. As publicações mais recentes dizem que o paciente deve fazer a biópsia com fusão de imagem, porque ela está se tornando a melhor prática médica. No futuro, essa vai ser a regra", diz Gobbo.
Para fazer esse procedimento, porém, é preciso ter feito antes o toque retal e o PSA. Caso haja alguma alteração, o médico pode recomendar uma ressonância multiparamétrica, que gera múltiplas informações sobre a glândula.
Caso as imagens indiquem a necessidade de uma biópsia, o especialista encaminha a pessoa para o ultrassom transperineal, considerado um avanço na detecção da doença.
O procedimento é feito com um ultrassom para que se possa ver em tempo real a glândula e realizar a extração dos fragmentos para análise.
A grande mudança é que os exames modernos acessam a próstata pelo períneo (região entre o ânus e a base do pênis), e não pelo reto, como é mais comum hoje.
Segundo Gobbo, com o método tradicional, há risco de levar bactérias do reto para a próstata e provocar uma infecção potencialmente grave.
Com o novo procedimento, diz, as infecções podem zerar.
Durante o ultrassom transperineal, o médico é guiado pelas imagens da ressonância de modo a encontrar com precisão as áreas onde a suspeita de câncer é maior. Na biópsia tradicional, não havia uma maneira exata de saber quais pontos eram esses.
Apesar de ser um avanço, o exame ainda não é acessível à população em geral. O hospital A.C. Camargo, especializado em câncer, por exemplo, ainda não definiu o valor por ser uma novidade.
No entanto, a biópsia por fusão de imagem pode custar cerca de R$ 1.250, mesmo com cobertura do plano de saúde.
Na rede pública, uma exceção é o Hospital Municipal Vila Santa Catarina, em São Paulo. Sob gestão do Albert Einstein, a unidade realiza o procedimento desde setembro deste ano.
Veja o seminário completo:
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.