Empresas erguem hortas próprias para incentivar hábitos saudáveis entre funcionários

Iniciativas, que usam métodos sustentáveis, respondem a demanda por alimentação equilibrada

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Rio de Janeiro

Restaurantes de empresas passaram a comprar de produtores locais, além de construir hortas em fábricas, para se adaptar à demanda por alimentação mais saudável e sustentável.

Uma fazenda de produtos orgânicos foi instalada na fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP), para abastecer o refeitório. A iniciativa foi feita em parceria com a startup BeGreen, uma rede de hortas urbanas.

Segundo Rafael Gazi, assessor da presidência da montadora, a variedade que a fazenda oferece —incluindo sete tipos de alface— incentivou funcionários a consumirem opções mais saudáveis.

Fazenda da Mercedes-Benz, construída em parceria com a startup BeGreen, fornece alimentos orgânicos para o restaurante da empresa
Fazenda da Mercedes-Benz, construída em parceria com a startup BeGreen, fornece alimentos orgânicos para o restaurante da empresa - Karime Xavier/Folhapress

"A inserção das hortaliças estimulou não só a curiosidade das pessoas para o produto, mas a busca por uma alimentação equilibrada", afirma.

Por mês, são geradas 2,4 toneladas de hortaliças para o restaurante, que serve 10 mil refeições por dia. Parte disso é vendido em uma loja na fábrica e destinado a um programa de assinaturas da BeGreen, que entrega hortaliças em casa. O excedente é doado a entidades parceiras da Mercedes, como a IAM (Instituição Assistencial Meimei).

Diretor-executivo da BeGreen, Giuliano Bittencourt diz que a produção nas fazendas urbanas é 28 vezes maior do que no cultivo convencional, devido ao uso de tecnologias.

Uma delas é a hidroponia, que reduz o consumo de água em até 90%, diz. A técnica consiste em plantar fora da terra por meio da submersão de mudas em uma solução líquida. Como a água não vai para o solo, o gasto é apenas com o que a hortaliça consome.

Outra vantagem é a diminuição do uso de transporte. Bittencourt afirma que as fazendas urbanas têm uma emissão reduzida de gás carbônico, causador do efeito estufa, já que ficam em grandes centros, como São Paulo e Belo Horizonte. Na fábrica da Mercedes, a horta está a cerca de 100 metros do refeitório.

A fazenda foi construída em um espelho d’água próximo ao restaurante, onde foram postas as mesas de hidroponia. No local, foram instalados sistemas para regular a plantação, como sensores que ajustam a temperatura e a luz.

A BeGreen tem oito unidades em shoppings e empresas. Entre elas está a do iFood, que instalou uma fazenda urbana na sede, em Osasco (SP).

Embora a foodtech não tenha um restaurante corporativo, a produção é destinada a um bar de saladas que complementa a refeição dos colaboradores. Entre os alimentos produzidos estão tomate, couve e temperos.

Flavia Rosso, gerente de sustentabilidade do iFood, considera difícil o acesso à alimentação saudável, daí a iniciativa de oferecer as opções. Parte da produção é doada para o banco de alimentos de Osasco, alcançando 3.000 famílias.

Na Suzano, fabricante de papéis localizada na cidade de mesmo nome, o projeto sustentável tem foco na cooperativa de agricultores do Alto Tietê (SP), que fornece hortaliças para o restaurante.

Para Marcelo Martins, gerente-executivo de segurança e saúde ocupacional, a iniciativa é sustentável por oferecer refeições mais saudáveis ao mesmo tempo em que fortalece os pequenos produtores.

Além da atuação no restaurante, ocorre na fábrica uma feira semanal em que os agricultores vendem os produtos para os funcionários.

O projeto é feito com a Sapore, empresa de alimentação corporativa responsável pelo refeitório da Suzano. Ao se tornarem fornecedores, membros da cooperativa passam por um treinamento em que aprendem sobre plantio, colheita, embalagens e logística.

Para Vanessa Veloso, diretora-executiva de operações da Sapore, o cunho social incentiva o apoio dos funcionários. "É importante o usuário saber que está consumindo um alimento sustentável que gerou empregos e ajudou famílias com dificuldade financeira."

Alguns itens são mais caros que os de grandes fornecedores, mas o apoio à sustentabilidade justifica o custo, de acordo com a Sapore.

Quando empresas oferecem opções mais saudáveis, podem mudar o comportamento do funcionário fora da rotina de trabalho, afirma Almir Neto, presidente da Abpass (Associação Brasileira para a Promoção da Alimentação Saudável e Sustentável).

Para Almir, as companhias devem aproveitar o espaço que ocupam no dia a dia do trabalhador para ajudá-lo a melhorar a alimentação.

Funcionários no refeitório da Ambev, em Jaguariúna (SP)
Funcionários no refeitório da Ambev, em Jaguariúna (SP) - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Outro projeto da Sapore é o resfriamento de comidas que, diz Vanessa, visa reduzir o desperdício. Disponível em cerca de 150 dos restaurantes corporativos da empresa, o processo usa tecnologias para congelar o excedente de alimentos em vez de descartá-lo, para que seja servido depois.

O manuseamento das sobras é uma aposta da ElringKlinger, fabricante de autopeças de Piracicaba (SP), onde, por meio da compostagem, os resíduos do refeitório viram adubo da fazenda da firma.

A produção da horta é suficiente para abastecer o refeitório uma vez por semana, mas o plano é estendê-la, segundo Raul Pereira, gerente de qualidade e sustentabilidade. Cerca de 380 funcionários da ElringKlinger vão ao restaurante diariamente. Para Pereira, o projeto ajuda na fidelização dos trabalhadores com a empresa.

"Traz um valor intangível para o funcionário, porque você sai do escopo do trabalho. Isso é levado em consideração ao pensar em mudar de emprego", afirma ele.

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