Projetos na Amazônia querem unir lucro e sustentabilidade

Seminário da Folha discutiu maneiras de preservar floresta e evitar que região vire 'cemitério de projetos'

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São Paulo

Aceleradoras de negócios, fundos de investimentos e iniciativas governamentais tentam transformar projetos de economia sustentável na Amazônia em um novo modelo socioeconômico para o país —de desmate zero.

A bioeconomia, uma das soluções apresentadas para cumprir a meta do governo de zerar o desmatamento no país, foi debatida na última segunda-feira (15), durante o seminário Desafios do governo Lula para ambiente e clima, promovido pela Folha.

O evento teve apoio da Open Society Foundations e mediação dos jornalistas Cristiane Fontes e Marcelo Leite.

Especialistas em meio ambiente participam de seminário no dia 15 de maio, no auditório da Folha, em São Paulo - Marcelo Chello/Folhapress

"Acreditamos profundamente que, para construir essa nova economia, seja bioeconomia ou sociobioeconomia, vamos precisar de uma nova geração de empresas e empreendedores talvez tão grande e motivada quanto a geração que colonizou a Amazônia", disse Mariano Cenamo, CEO da Amaz, aceleradora de negócios de impacto social. Ele também é fundador do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas).

As iniciativas nessa linha na região, afirma Cenamo, frequentemente acabam em um "cemitério de projetos", que não conseguem se sustentar sozinhos.

"A Amaz nasceu de uma dor que nós tínhamos no nosso trabalho no Idesam, de nunca conseguir ver o projeto se transformar em negócio."

A aceleradora investe mais de R$ 4 milhões em projetos como o Floresta S/A, de implantação de agroflorestas em áreas degradadas, e o Inoca, que produz óleo vegetal a partir da macaúba, uma palmeira nativa, que gera desmatamento menor do que as culturas de soja e de palma.

Estudo do Banco Mundial publicado no início de maio deste ano afirma que, em pé, a floresta amazônica vale até sete vezes mais que a exploração privada por atividade agropecuária, de mineração e madeireira.

"Essa nova economia não pode ser discutida sem pensar primeiro na garantia da terra e do território", disse Edel Moraes, secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Ainda de acordo com ela, 70% dos territórios preservados ou conservados na região estão sob a responsabilidade de indígenas e comunidades tradicionais.

Há 598 terras reivindicadas por indígenas que aguardam alguma providência para regularização, de acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

Nessa linha, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse que é fundamental fortalecer as medidas de comando, controle e fiscalização para reduzir e combater crimes ambientais, mas também garantir a chamada economia de baixo carbono.

As duas cidades que mais emitem gases do efeito estufa no Brasil estão no Pará, Altamira e São Félix do Xingu.

"Sou um defensor da pesquisa para a bioeconomia, um incentivador da nossa biodiversidade, que precisa ser conhecida como um ativo dos negócios verdes", disse ele, que defendeu, no debate, que a Petrobras estude a exploração de petróleo na foz do rio Amazônia.

Já Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do Instituto Socioambiental, questionou quais tipos de projeto têm sido enquadrados como bioeconomia.

"Nos perguntamos se [a bioeconomia] realmente é um caminho distinto ou se é mais do mesmo. Se é só a economia dos recursos naturais, do pau- brasil até a soja, uma economia predatória insensível colonial, não tem nada de novo. Se usa mão de obra barata de povos da floresta, a gente continua na colonização." "A ideia não é transformar todo mundo em proletário da floresta", concluiu.

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