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24/06/2012 - 07h00

Terapeuta aiurvédica, Laura Pires ensina segredos da comida que cura

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KARLA MONTEIRO
DO RIO

"Tudo o que entra em contato com os cinco sentidos é alimento", afirma Laura Pires, 31, ex-arquiteta que virou chef de culinária aiurvédica.

"Até o que você ouve pode equilibrar ou desequilibrar seu organismo. Você não se intoxica só com o que bota na boca", diz, enquanto pilota uma panela de bobó de pupunha fresca. Todo sábado, Laura ensina receitas e truques para uma plateia seleta na Barra da Tijuca. A atriz Grazi Massafera entusiasmou-se tanto que mudou a alimentação do seu Cauã Reymond. "Aprendi a comer, consumindo quase as mesmas coisas. Salada depois do prato principal, por exemplo, ajuda na digestão", diz Grazi.

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A culinária aiurvédica nasceu na Índia, há mais de 5.000 anos. É irmã gêmea da ioga. E faz parte de um conjunto de práticas medicinais em que o fundamento, a base, é a desintoxicação.
No curso, Laura ensina desde pratos para o dia a dia até a utilização de especiarias que colaboram para o equilíbrio do organismo.

Gustavo Pellizzon
Laura percebeu que comida podia ser remédio depois de receber um diagnóstico de esclerose múltipla, em 2006
Laura percebeu que comida podia ser remédio depois de receber um diagnóstico de esclerose múltipla, em 2006

Entre uma receita e outra, solta dicas. Entre elas, não beber nada gelado, pois o corpo esfria e despende muita energia para reaquecer. Usar o "ghee", uma manteiga clarificada, carro-chefe do aiurveda, em vez de óleo. Cachacinha de gengibre com limão e mel facilita a digestão. Tudo segue a mesma lógica: harmonizar o funcionamento do corpo.

Febre entre os naturebas dos Estados Unidos e da Inglaterra, o aiurveda não é unanimidade. O endocrinologista Alberto Serfaty, do Rio de Janeiro, diz: "Não há verdade absoluta. Mas já se sabe que os alimentos previnem e alteram quadros clínicos. Mas é preciso agregar suplementos, como faz a medicina ortomolecular".

A turma que frequenta a cozinha de Laura, porém, aposta na comida. "Tinha pouca energia, minha digestão não era boa. E cansei de tomar remedinhos e voltar para os mesmos problemas", diz a corretora de investimentos Alice Maia.

Laura aprendeu que comida podia ser remédio depois de receber um diagnóstico dramático, em 2006: esclerose múltipla. Na época, morava no Rio e trabalhava em um escritório de arquitetura em São Paulo. Vivia na ponte aérea. "Eu era uma doida", resume.

RUMO À ÍNDIA

Um dia, acordou com a visão do olho esquerdo borrada. E logo vieram outros sintomas: paralisação parcial de um lado do corpo, perda da coordenação, fadiga. "Ia a médicos a cada dois, três dias", lembra.

"Uma noite, olhei para o meu marido e falei: 'Vamos para a Índia'. Ele pesquisava tratamentos alternativos e havia recebido um e-mail de um médico indiano."

Na Índia, Laura foi parar em um hospital de neurologia que trata os pacientes com o aiurveda. Por um mês, submeteu-se a um "panchakarma", sistema de "detox" radical. Desde então, voltou quatro vezes ao subcontinente asiático para tratamentos, fez cursos de formação em terapia aiurvédica e seguiu à risca as orientações.

Há quatro anos, ela diz, está livre dos sintomas: "Após dois anos, entrei em equilíbrio. O corpo tem uma tendência a se desequilibrar. Estou bem porque não entro mais na máquina. Se eu bobear, a doença volta".

Os limites são claros. Laura só trabalha três dias por semana. Às quartas e às sextas, atende no consultório. Aos sábados, dá aulas. Nunca ultrapassa seis horas diárias de labuta.
"Foi muito bom ter ficado doente porque enxerguei outra realidade. Isso é o que quero ensinar: a importância do estilo de vida", afirma.

Diante das panelas, a moça é alquimista. Com rapadura, faz um doce incrível. Com aveia, panquecas. Com manga, uma entrada apimentada. Com farinha integral e nozes, um bolo de lamber os beiços.

Numa manhã de sábado, ela ensinou 15 alunas a preparar um banquete para o organismo: "O segredo para o equilíbrio é mesmo aprender a relaxar. Comida ajuda, mas não resolve".

 

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