Descrição de chapéu Guia do MBA

Modelo de formação está em crise nos EUA; no Brasil, procura aumenta

Lá e aqui, currículos mudam para acompanhar nova velocidade do mercado

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São Paulo

Empresas mais velozes e e tecnológicas põem em xeque o MBA como principal alavanca profissional.

Ao menos nos Estados Unidos. Lá, os cursos de negócios mais bem classificados, como os de Harvard e Stanford, começaram a registrar declínio no número de candidatos.

Em 2018, as dez principais escolas de negócios norte-americanas juntas apresentaram uma queda na procura de 5,9%: de 53.907 candidatos contra 57.311 no ano anterior. Os dados foram levantados pelo Poets and Quants, site de educação executiva. 

“Fora do Brasil, de fato, há um questionamento muito grande sobre o MBA. É um programa integral, longo, e hoje os profissionais têm disponibilidade diferente”, diz Marcelo Orticelli, diretor de educação para executivos e desenvolvimento institucional do Insper.

Uma grande diferença em relação ao cenário brasileiro é que cursos de tempo integral são comuns nos EUA. Aqui, o profissional mescla atividade acadêmica e dedicação ao trabalho, diz o diretor.

A segunda diferença é a conjuntura econômica. A crise brasileira aquece o mercado de MBA. “Em tempos em que a economia está mais devagar, percebe-se aumento de profissionais em cargo de gestão que buscam por reciclagem e networking”, afirma Orticelli. “É o momento em que as pessoas investem mais.”

O diretor da pós-graduação lato sensu da ESPM, Tatsuo Iwata, lembra que a crise de 2008, desencadeada quando um dos maiores bancos de investimento do mundo declarou falência, gerou questionamento da atuação dos executivos nos Estados Unidos. Esse teria sido o estopim para se repensar a formação do ponto de vista ético, diz ele.

Essa mudança é um ponto de aproximação entre o mercado de MBA nos EUA e no Brasil. 

Na Fundação Dom Cabral, por exemplo, as disciplinas abordam o legado de uma organização, a crise migratória mundial e a sustentabilidade. “Isso é uma grande tônica. Que MBA é esse em que as pessoas não consideram o impacto de um trabalho sobre o meio ambiente, por exemplo?”, diz Lívia Barakat, coordenadora acadêmica de MBA da instituição.

Nos 19 meses de MBA, a fundação usa o Watson, serviço de inteligência artificial da IBM, para medir o desenvolvimento dos —por eles chamados— “líderes com propósito”, atentos às mudanças globais. 

A partir de um questionário feito em momentos diferentes do curso, a fundação mede essas aptidões nos alunos.

Barakat enxerga uma necessidade de repensar o propósito e as formas de aprendizagem dos MBAs, mas não vê crise para a modalidade no Brasil, já que a procura pelos cursos só aumenta. Ainda assim, é bom estar em constante movimento.

A grande mudança nesses programas de formação executiva ocorrida nos últimos anos envolveu a metodologia de ensino, antes totalmente centrada no professor. 

Hoje os alunos são estimulados a manter uma atitude mais ativa em sala de aula, interagindo com o professor e os colegas para a construção coletiva do conhecimento. “Aulas com excesso de carga expositiva, de fato, perderam a atratividade”, afirma Bakarat. 

Orticelli, do Insper, explica que isso é reflexo de um mercado de trabalho movido por equipes cada vez mais dinâmicas. 

Na instituição, os estudantes participam de aulas baseadas em solução de problemas como uma forma de trazer essa dinâmica das companhias para dentro do curso. 

“No passado, os MBAs eram muito funcionais. Hoje, esses cursos têm que preparar o aluno para atuar em empresas mais modernas, em que se trabalha com grupos e pessoas de diferentes áreas, e em que essa pessoa vai ser líder de um grupo e, em outro, pode estar sendo liderada”, afirma o diretor de educação executiva da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, Paulo Lemos.

A instituição lançará uma modalidade de MBA personalizado em março de 2020 como um reflexo das mudanças curriculares pelas quais o curso tem passado.

O candidato será submetido a uma avaliação feita por profissionais da instituição, que então montam um programa de 18 disciplinas mais adequadas ao perfil do aluno. Ao longo do curso, o programa vai sendo repensado e ajustado para se adequar melhor ao momento.

Além de se adaptar às novas dinâmicas do mercado, os currículos de MBA precisam agora contemplar outra tendência: a das “soft skills”. Essas competências socioemocionais se tornam mais relevantes ao passo que a transformação digital aumenta, de acordo com Elaine Tavares, que é diretora do Coppead/UFRJ, instituto de pós e pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

“Botar a pessoa para aprender soft skills não é trivial, da mesma forma que ensinar conceitos técnicos a um gestor não é trivial. Escolas precisam se atentar a isso para montar currículo”, diz.


3 para 1
é a proporção  média de candidatos por vaga para os MBAs oferecidos por  ESPM e por Coppead/UFRJ. Há a opção de abertura de mais turmas caso a procura seja grande

3.400
candidatos a menos procuraram cursos de MBAs em 2018 em comparação ao ano anterior nos EUA. O levantamento é do site Poets and Quants, que analisou 50 instituições mais bem classificadas

8,5% 
foi a queda, em um ano, no número de candidatos ao curso de MBA da University of Michigan Ross School of Business, escola que apresentou o maior declínio no ranking do site Poets and Quants

4,6%
foi a redução no total de candidatos para o MBA de Stanford (EUA) registrada em 2018

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