A obrigação de manter distanciamento social e a possibilidade de trabalhar remotamente, questões que emergiram na pandemia, têm levado mais gente a procurar refúgios longe das grandes cidades, aquecendo o mercado imobiliário no interior.
A Bossa Nova Sotheby's, imobiliária especializada no segmento de alto padrão, viu a busca por casas no campo e no litoral de São Paulo crescer mais de 600% e o preço dos imóveis nesses lugares aumentar entre 20% e 40% desde o começo da quarentena.
O destaque têm sido os condomínios localizados num raio de 100 km da cidade de São Paulo. "O grande atrativo é a segurança, porque são condomínios fechados", afirma o diretor-executivo da empresa, Marcello Romero.
O movimento, que no início era principalmente de busca por imóveis para alugar, se transformou e abriu espaço para transações mais duradouras, conta José Roberto Graiche, presidente da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).
"As pessoas já estão pensando em ter um segundo imóvel de lazer, para evitar o confinamento em apartamentos."
Graiche ressalta, no entanto, que em grande parte dos casos não se trata de uma mudança definitiva. "É um plano B. Não acreditamos que a maioria pretenda transferir sua residência de vez."
Para Romero, fatores como a volta às aulas e o retorno do convívio social devem fazer com que alguns voltem às metrópoles. Para outros, porém, a possibilidade de home office e os benefícios de viver no interior podem motivar uma decisão mais permanente.
Na imobiliária que comanda há 40 anos em Atibaia, a 60 km de São Paulo, Celso Turra tem visto uma tendência clara. Cerca de 80% dos que buscam imóveis na cidade chegam decididos a permanecer por lá.
"Desde março, as imobiliárias daqui notaram um aumento no número de paulistanos querendo morar no interior. São pessoas que querem vir em definitivo, não para passar o fim de semana", diz.
A advogada Sandra Lopes, 39, vinha planejando sair do imóvel onde mora com o filho de oito anos no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Com a pandemia, passou a trabalhar em casa e percebeu que no interior conseguiria ter o que sempre procurou: mais espaço, segurança, parques e boas escolas.
"Mesmo quando as coisas voltarem ao normal, pretendo ir duas vezes por semana ao escritório", conta a advogada, que comprou em julho uma casa num condomínio em Jundiaí, a 60 km de São Paulo. Ela quer se mudar para lá até o final de outubro.
Segundo Tiago Salles, sócio da Salles Imóveis, que negocia casas de médio e alto padrão em condomínios de Jundiaí e Itupeva, o aumento da procura é puxado por jovens casais com filhos pequenos, que buscam mais qualidade de vida e não querem ficar muito longe do trabalho na capital.
"Os clientes enxergaram a possibilidade de antecipar um projeto de vida que pretendiam implantar só bem mais para frente."
Enquanto não existir uma vacina confiável, o mercado do interior deve continuar aquecido, de acordo com Graiche, da Aabic. Ele alerta, porém, que um aumento na oferta de imóveis pode levar à saturação dessas regiões.
O corretor Celso Turra concorda. "A cidade de São Paulo tem mais de 10 milhões de habitantes. Se 1% quiser sair, são 100 mil pessoas. Ainda que, num raio de 80 km, existam dez cidades com a infraestrutura necessária para atendê-las, são ao menos dez mil pessoas por cidade buscando um imóvel", afirma.
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