Os usuários do Facebook na Austrália acordaram com feeds de notícias vazios em suas páginas nesta quinta-feira (18). A rede social bloqueou todo o conteúdo da imprensa em uma surpreendente e dramática intensificação de uma disputa com o governo sobre leis de pagamento pelo conteúdo presente na plataforma.
A medida foi criticada pelo setor jornalístico, políticos e defensores dos direitos humanos, especialmente porque as páginas oficiais de órgãos de saúde e redes de assistência social também tiveram o conteúdo de suas páginas apagado. A manobra não tem relação com a diminuição da presença de conteúdo político na plataforma.
"As ações do Facebook contra a Austrália, cortando serviços de informação essenciais sobre saúde e serviços de emergência, foram tão arrogantes quanto decepcionantes", escreveu o primeiro-ministro Scott Morrison em sua própria página no Facebook, se referindo a uma “amizade desfeita” entre a rede e o país, em uma referência à funcionalidade do Facebook.
"Essas ações só vão confirmar as preocupações que um número cada vez maior de países tem sobre o comportamento das grandes empresas de tecnologia, que pensam estar acima das leis", continuou o primeiro-ministro.
A medida do Facebook é oposta à do Google, mesmo as duas companhias tendo se unido para fazer campanha contrária à nova regulação australiana. Ambas ameaçaram cancelar serviços na Austrália, mas o Google, em vez disso, fechou acordos com vários conglomerados de notícias nos últimos dias.
A News Corp de Rupert Murdoch foi a última a anunciar um acordo pelo qual receberá "pagamentos significativos" do Google em troca de fornecer conteúdo para a plataforma Destaques – da qual a Folha, entre outros veículos de mídia brasileiros, faz parte.
A lei australiana, quando em efeito, exigiria que o Facebook e o Google fechassem acordos comerciais com agências de notícias cujos links direcionem o tráfego para suas plataformas ou seriam forçados a aceitar o preço estabelecido judicialmente. A União Europeia cogita seguir os passos da Austrália com uma nova lei regulatória do setor.
O Facebook disse, em comunicado, que a lei, que deve ser aprovada pelo parlamento dentro de alguns dias, "interpreta mal" a relação entre a rede social e a agências de notícias e, por isso, foi forçado a fazer uma escolha difícil entre se adequar à lei e banir o conteúdo noticioso.
A big tech disse que as notícias representam apenas 4% do que as pessoas veem em seu site, mas o papel do Facebook como meio de contato com as notícias tem crescido entre os usuários australianos. Um estudo da Universidade de Canberra em 2020 descobriu que 21% dos australianos usam a mídia social como sua principal fonte de notícias, um aumento de 3% em relação ao ano anterior.
As mudanças feitas pelo Facebook deixaram em branco páginas operadas por agências de notícias e removeram postagens de usuários individuais que compartilhavam notícias australianas. Também foram afetadas várias contas do governo estadual importantes, incluindo aquelas que fornecem conselhos sobre a pandemia do coronavírus e ameaças de incêndio florestal no auge da temporada de verão, e dezenas de contas de instituições de caridade e ONGs. O país inicia um programa de vacinação nacional para diminuir a disseminação do Covid-19 em três dias.
Lisa Davies, editora do jornal The Sydney Morning Herald, tuitou: "O Facebook aumentou exponencialmente a probabilidade de desinformação, radicalismo perigoso e teorias da conspiração abundarem em sua plataforma."
No meio da tarde, algumas páginas no Facebook de entidades governamentais foram restauradas, mas várias páginas de órgãos de caridade e todos os sites da imprensa permaneceram apagados, incluindo os de veículos internacionais como o New York Times, a BBC, o Wall Street Journal e a Reuters.
Um comunicado posterior do Facebook disse que a proibição não deveria afetar as páginas do governo, mas "como a lei não fornece uma orientação clara sobre a definição do conteúdo de notícias, adotamos uma definição ampla".
A própria página do Facebook ficou fora do ar por várias horas na Austrália.
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