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Treinar inteligência artificial não desrespeita direitos autorais, diz CEO do GitHub

Companhia é alvo de processo por infringir direitos autorais de programadores em treinamento de inteligência artificial

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Rio de Janeiro

O executivo-chefe por trás da inteligência artificial (IA) que acelera o desenvolvimento de programas GitHub Copilot, Thomas Dohmke, diz que treinar IAs está de acordo com direitos autorais, já que não se trata de reprodução e sim de pesquisa.

A empresa é alvo de um processo judicial sob acusações de desrespeitar a propriedade intelectual de programadores que publicaram seus códigos na biblioteca digital GitHub. A tecnologia, criada em parceria com a OpenAI (do ChatGPT), completa trechos de scripts de programação de forma automática.

"A inteligência artificial vai permitir que profissionais da computação sejam mais criativos e não vai substituir programadores", afirma Thomas Dohmke em entrevista à reportagem nesta quarta (3), no terceiro dia do evento de tecnologia Web Summit no Rio de Janeiro.

Dohmke prometeu que vai desenvolver um jogo em 18 minutos com auxílio do Copilot, mas não antecipou mais detalhes de como será o programa.

O executivo-chefe da plataforma para programadores GitHub, Thomas Dohmke, posa ao lado do logo da empresa, um gato, com tentáculos
O executivo-chefe da plataforma para programadores GitHub, Thomas Dohmke, posa ao lado do logo da empresa, um gato, com tentáculos - Divulgação/GitHub

Em março, o GitHub anunciou o Copilot X, versão atualizada do auxiliar de programação integrada com a IA mais potente da OpenAI, o GPT-4. Essa atualização, além de completar trechos de código de programação, permite que o usuário interaja com a plataforma por texto e áudio.

A assinatura do plano individual do Copilot custa US$ 10 (cerca de R$ 50,30) e já escreve 46% dos códigos de programação, segundo dados do GitHub. A empresa oferece acesso gratuito à tecnologia a estudantes de ensino médio e superior e também a participantes de grandes projetos de código aberto.

A plataforma informa que os desenvolvedores que atingem os critérios para assinatura gratuita são informados de forma automática pela plataforma.

Programadores de todo o mundo compartilham seus códigos e também explicações sobre seus projetos no GitHub, desde a sua fundação em 2008. Essas informações ajudam outros desenvolvedores a tirar os próprios programas do papel. "A plataforma passou a ser o que chamamos de lar do código aberto nos últimos 15 anos", afirma Dohmke.

Segundo Dohmke, ele entrou no GitHub como usuário em 2008 para desenvolver sua própria plataforma de criação de aplicativos, o HockeyApp, adquirido pela Microsoft em 2014.

Duas pessoas entraram com uma ação coletiva sem declarar suas identidades contra o GitHub, a Microsoft e a OpenAI, com alegações de que o treinamento do Copilot representou "pirataria sem precedentes."

Os advogados do GitHub e da Microsoft evocam a doutrina do fair use (uso justo, em tradução livre), que define modos de utilizar dados sem desrespeitar propriedades intelectuais. Nos Estados Unidos, por exemplo, fazer pesquisa não infringe direitos autorais.

As novas aplicações desenvolvidas por OpenAI e Microsoft estão em um limbo, de acordo com a coordenadora de cultura e conhecimento do InternetLab, Alice Lana. O treinamento de inteligência artificial se enquadra como pesquisa, mas a tecnologia é usada em produtos, como o Copilot, cuja assinatura é paga para o grande público.

O assistente de programação do GitHub também tem uma opção de verificação automática de quebra de patente quando o Copilot sugere códigos com mais de 150 caracteres ou se aquele trecho é similar a outro armazenado no GitHub. "Isso previne que o programador acidentalmente use esse conhecimento sem atribuir autoria", diz Dohmke.

"Trabalhamos com outras entidades ligadas ao código aberto como as fundações Linux, Cloud Native e Apache e formuladores de políticas públicas de muitos países, incluindo da Europa, para encontrar soluções sobre uso de IA e propriedade intelectual", acrescenta.

A comunidade de código aberto lida com ações judiciais sobre propriedade intelectual desde seu princípio. A Red Hat era processada sob alegações de usar códigos de uma concorrente no sistema operacional Linux, espécie de Windows sem atribuição comercial. O processo só veio ao fim com a falência da SCO (Santa Cruz Operation), que desenvolveu o sistema operacional Unix.

Para Dohmke, o processo colaborativo de desenvolvimento de códigos abertos, hoje, venceu a disputa com os programas proprietários. "Nenhuma empresa tem conseguido vencer a competição contra esses milhões de desenvolvedores que efetivamente jogam o maior esporte em equipe da terra, trabalhando para construir software."

O Google, por exemplo, mantém uma versão do navegador Chrome em código aberto, chamada Chromium. As alterações feitas por colaboradores desse projeto podem ser implementadas no Chrome.

Grandes empresas brasileiras como os bancos digitais Nubank e Neon e a varejista Via são clientes do GitHub.

"Baseado no nosso último relatório de outubro, que é nosso balanço anual por país, o Brasil é nosso terceiro maior mercado fora dos Estados Unidos, atrás só de China e Índia. Estamos, em parte, no Web Summit para falar com programadores brasileiros, e depois em São Paulo vamos nos encontrar com clientes", diz Dohmke.


THOMAS DOHMKE, 44

É executivo-chefe do GitHub, site no qual desenvolvedores de software compartilham códigos, comprada pela Microsoft em 2018. Ele fundou a plataforma de criação de aplicativos HockeyApp, também adquirida pela Microsoft em 2014. É doutor em engenharia mecânica pela Universidade de Glasgow, no Reino Unido.

O jornalista viajou ao Web Summit Rio a convite da Stone

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