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O que é o Discord, plataforma que tem sido associada a crimes hediondos

Aplicação de comunicação social ganhou força com games e agora é ligada à violência

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Patrick Fuentes Rafael Capanema
Rio de Janeiro

O Discord, aplicativo online popular entre jovens e jogadores de videogames, funciona como uma plataforma de conversas em texto, voz e vídeo. O sistema criado em 2015 se popularizou para bate-papo durante jogos online, em uma base de usuários adultos e menores de 18 anos, sem distinção ou barreiras.

Neste domingo (25), uma reportagem do Fantástico revelou casos de usuários brasileiros do Discord que violentaram e humilharam meninas menores de idade em transmissões ao vivo.

A plataforma está envolvida em várias denúncias contra grupos que promovem conteúdo envolvendo exploração sexual, pedofilia, automutilação, racismo, maus tratos de animais e incitação a assassinatos, além de vazamento de informações secretas.

Em maio, o Discord afirmou que trabalha para barrar o que denominou de "conteúdo abominável".

Para especialistas, a versatilidade facilitou para que a plataforma se tornasse uma espécie de terra sem lei com grupos que encorajam crimes sexuais e violência.

Imagem do logo da plataforma Discord, em branco, em um fundo azul royal.
Logo do Discord, plataforma popular entre jovens e jogadores de videogame - Dado Ruvic - 9.mar.2022/Reuters

Pesquisadores consideram que o Discord é uma versão light do 4chan, o fórum anônimo de extrema direita conhecido por compartilhar teorias conspiratórias.

No final de 2021, o Discord tinha mais de 150 milhões de usuários ativos mensais, sendo avaliado em US$ 14,7 bilhões, de acordo com PitchBook, uma fornecedora de dados de mercado.

O que é o Discord?

É uma plataforma de comunicação social e de mensagens, criada em 2015, popular entre os jovens e os jogadores de videogames.

Por que as pessoas estão falando sobre o Discord no Brasil?

Por causa de casos recentes de exploração sexual, pedofilia, automutilação, racismo, apologia do nazismo, maus tratos de animais e incitação a assassinatos ligados a grupos da plataforma, que misturam usuários adultos com menores de 18 anos.

Como o Discord funciona?

Ele é semelhante à ferramenta de trabalho Slack. Uma vez cadastrado, cada usuário tem um perfil próprio no site e pode participar de servidores e também manter chats individuais com outras pessoas.

Não existe uma timeline, como no Instagram, no Twitter e no Facebook. Em vez disso, o Discord está dividido em servidores —essencialmente, salas de chat— concebidos para grupos ou interesses específicos. Esses servidores se subdividem em canais individuais, baseados em tópicos.

Os usuários podem aderir a servidores públicos Discord, alguns dos quais têm milhões de membros. Alguns servidores são dedicados à discussão de jogos específicos, tais como League of Legends ou Fortnite, enquanto outros são comunidades para as pessoas discutirem arte, música ou inteligência artificial. São semelhantes aos grupos do Facebook.

Existem também servidores privados Discord, que requerem um convite para adesão. Estas costumam ser comunidades menores, por vezes para um grupo de amigos que trocam mensagens quando estão online, como um grupo de WhatsApp. Devido à natureza desses pequenos servidores privados, eles carecem frequentemente da moderação ou supervisão pela plataforma que um servidor público maior teria.

Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky, considera que a popularidade do Discord entre os adolescentes está na facilidade de uso, nos recursos oferecidos e na criação de comunidades.

"A plataforma começou a ficar bastante nichada com os gamers, atraindo um grande público adolescente; depois muitos Youtubers e criadores de conteúdo começaram a usar servidores do Discord para estreitar a relação com a sua comunidade. É um aplicativo muito bom para organizar as informações, onde você pode automatizar muitas das funções usando Bots, limites de compartilhamento de arquivos maiores, sendo uma plataforma muito versátil", diz.

Para ele, outro fator a ser levado em conta na popularidade da plataforma está na fraca moderação dos conteúdos postados.

Menores de idade podem usar o Discord?

Os termos de uso do Discord exigem idade mínima de 13 anos na maior parte dos países, inclusive o Brasil.

Por que o Discord está sendo associado à misoginia?

Por causa de uma reportagem do Fantástico exibida neste domingo (25), que mostra casos de usuários do Discord que violentaram e humilharam meninas menores de idade em transmissões ao vivo no Discord.

"Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres", afirmou o delegado Fábio Pinheiro Lopes à reportagem. Misoginia é o termo usado para definir o ódio ou a aversão às mulheres.

Como o Discord tem respondido às denúncias?

Segundo autoridades, a empresa não costuma colaborar nas apurações e não armazena parte do conteúdo, como as chamadas de vídeos ao vivo.

O Discord diz ter funcionários responsáveis pela aplicação da lei, entregando informação sobre utilizadores e preservando registros quando recebe um "processo legal executável", segundo a descrição online de suas normas. A empresa afirma também trabalhar com as autoridades quando surgem casos de "perigo imediato" ou de "autoflagelação".

Em maio, depois que a Folha teve acesso a grupos com vídeos de agressão, o Discord afirmou que os servidores envolvidos foram acionados por violarem as diretrizes da empresa. Por email, a plataforma disse que segurança é a prioridade e que eles nunca param de trabalhar a fim de "encontrar e remover esse conteúdo abominável e tomar medidas, incluindo banir os usuários responsáveis e se envolver com as autoridades competentes".

A empresa também afirmou ter deletado 99% dos servidores que foram detectados como hospedeiros de material de abuso sexual infantil no quarto trimestre de 2022 e diz que investe no rastreamento e remoção destes servidores de forma proativa.

O Discord está sendo investigado no Brasil?

Sim. Os Ministérios Públicos estaduais de ao menos três estados (São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul) estão investigando a plataforma. Além disso, a Promotoria de Santa Catarina monitora grupos criminosos que utilizam o Discord para induzir e instigar ataques a escolas, pornografia infantil, discurso de ódio, intolerância racial, religiosa e de procedência nacional. O Ministério Público Federal também apura casos de pornografia infantil.

A eventual aprovação do PL das Fake News impactará o Discord?

O projeto regulamenta as redes sociais e impõe sanções a plataformas que não retirarem do ar, até 24 horas após decisão judicial, conteúdos ilícitos.

No caso da moderação de conteúdos, a PL das Fake News restringe seu foco a redes sociais, ferramentas de busca e serviços de mensagens instantâneas com média de mais de 10 milhões de usuários no Brasil. Como o Discord tem cerca de 3 milhões adeptos ativos no país, ficaria de fora. Depois das denúncias recentes, porém, o texto pode ser modificado para abarcar a plataforma.

Quem são os responsáveis pelo Discord?

O Discord é o principal produto pertencente a uma empresa de capital fechado de mesmo nome, comandada pelos fundadores do app, os desenvolvedores Jason Citron e Stanislav Vishnevskiy.

Como o Discord ganha dinheiro?

Com a venda de recursos premium dentro do aplicativo, como fotos de perfil animadas, e investimentos recebidos de fundos especializados em tecnologia.

Como garantir o uso seguro do Discord?

Uma das formas de aumentar a segurança do uso da plataforma é com a utilização de antivírus que impeça malwares ou vírus de roubar dados dos usuários e o uso de software de controle parental para limitar o acesso do filho na rede.

Um estudo realizado no Brasil pela empresa de cibersegurança Kaspersky, em parceria com a consultoria Corpa, revela que 12% dos pais entrevistados flagraram algum desconhecido entrando em contato com os seus filhos pela internet.

"É preciso ter uma boa conversa com o adolescente, franca e aberta, para o pai saber o que o filho está fazendo online, pois deixar a criança com o seu dispositivo sem nenhuma supervisão é algo muito arriscado", diz o diretor da Kaspersky.

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