Descrição de chapéu Inteligência artificial

IA garantirá meritocracia de verdade, diz sócio global da McKinsey

Só 11% de soluções com inteligência artificial chegam a dia a dia de empresas

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São Paulo

Inteligências artificiais (IAs) geradoras vão facilitar o acesso ao conhecimento, o que vai garantir uma meritocracia de verdade, diz o sócio global da McKinsey Alexander Sukharevsky. Para o consultor, essa igualdade de oportunidades resolveria, no futuro, a concentração de poder e dinheiro na mão de poucos.

Hoje, as principais plataformas de IAs estão sob posse ou influência das americanas Microsoft e Google.

Na McKinsey desde 2005, Sukharevsky lidera a iniciativa de IA da consultoria, Quantum Black, cujo objetivo é aumentar a produtividade de empresas com a tecnologia. Ele nasceu em Israel e se graduou em Engenharia da Computação pela Universidade de Tel Aviv e tenta programar todos os dias para continuar a par das novas tecnologias.

Alexander Sukharevsky, sócio sênior da consultoria McKinsey e líder global da Quantum Black, iniciativa de IA da McKinsey. Ele é um homem branco de cabelos e barbas castanhos e aparados. Veste paletó chumbo, camisa branca e relógio social. Está sentado a uma mesa de reunião.
Alexander Sukharevsky, sócio sênior da consultoria McKinsey e líder global da Quantum Black, iniciativa de IA da McKinsey - Zanone Fraissat/Folhapress

O executivo veio ao Brasil para reuniões de negócios com empresários e gestores e recebeu a reportagem no 23º andar da sede da McKinsey, na zona sul da capital paulista. A missão do Quantum Black é fazer soluções de inteligência artificial chegarem ao dia a dia dos negócios —segundo ele, só 11% delas passam da fase de pilotos à de operação.

Para Sukharevsky, deixar de ser um fornecedor de dados para se tornar um exportador de tecnologias de aprendizado profundo depende apenas dos empreendedores brasileiros.

Temos picos e vales de entusiasmo com inteligência artificial desde os anos 1950, quando o termo foi inventado por John McCarthy. Esse cenário da IA geradora é diferente do passado? Pela perspectiva da tecnologia, é a primeira vez desde 2007 que vemos o nascimento de novas plataformas. O primeiro smartphone com acesso a redes sociais e nuvem apareceu, e repentinamente começamos a ver o surgimento de muitos aplicativos no mercado. Neste momento, estamos em um platô de desenvolvimento de produtos.

O que eu vejo agora especialmente em termos de desenvolvimento de produtos assim como capital de risco é um interesse muito grande em IAs geradoras, sobretudo aquelas apresentadas em plataformas. Realidade aumentada, realidade virtual e Web 3.0 também têm ganhado atenção.

A IA geradora que já vemos sendo aplicada com nossos clientes ainda redefine nossa interação com o mundo. No mundo corporativo, nós vemos copilotos pagos por executivos, construídos para operários, para ajudar a fazer um trabalho melhor. Isso é bem diferente do que vimos no passado.

Vemos essas projeções sobre crescimento global do PIB, aumento da produtividade, mas pouco se fala do risco de greves e desafios legais provenientes das novas IAs. Isso pode desidratar o impulso econômico? Minha resposta como ser humano, é que IA, assim como qualquer nova tecnologia ou qualquer novidade na vida, tem um enorme potencial mas também envolve tremendos riscos éticos, cibernéticos e humanitários. Antes de aplicar isso é melhor saber o que está sendo feito, em que contexto é aplicado, como fazemos com qualquer ferramenta. Um martelo pode construir uma casa ou matar alguém. A McKinsey tem uma área do conhecimento que chamamos de confiança digital, para tecnologia no geral. Também desenvolvemos IAs para o bem da humanidade e ainda não conseguimos quantificar o quanto essa tecnologia pode ajudar a criar soluções para mazelas antigas e novos avanços.

Qual é a vantagem competitiva de construir o próprio modelo de IA em vez de partir de um feito pela OpenAI [criadora do ChatGPT] ou pelo Google na construção de uma plataforma? O que eu tento fazer é trabalhar com pessoas criativas para entender o que falta para colocar esses planos e ferramentas na prática. É possível ter vários modelos de base. Os modelos de linguagem mudam de acordo com como a organização pega seus dados e faz perguntas ao modelo. Não são apenas perguntas genéricas, mas aquelas alicerçadas na realidade da empresa. O segundo ponto tem a ver com atrair os melhores talentos disponíveis. Não é só uma questão técnica, é mais de negócios. Depois desse passo, podemos discutir ética. Não é apenas uma discussão de qual motor usar e sim do carro inteiro.

Dentre os 63 setores da economia mencionados no estudo da McKinsey há empresas do Brasil? Em vários. Por isso que eu digo que estou inspirado pelo nível de talento no Brasil pelo nível de inovação. Tudo que tem a ver com marketing e vendas, a criatividade brasileira em termos de publicidade. As agências brasileiras, por exemplo, são reconhecidas com prêmios ao redor do mundo. Isso vai chegar ao mercado publicitário, ao atendimento ao cliente. A outra coisa é a criação de uma identidade virtual da marca, como um chatbot da empresa. Você poderá ligar e falar com o banco oficialmente. Você começa a conversar com o seu fornecedor, e esses diálogos podem ajudar a oferecer respostas melhores no futuro. Isso vai melhorar a maneira como as empresas atendem clientes.

Por trás das novas IAs, há muito trabalho de descrição de imagens, tradução e transcrição, feito por trabalhadores que não recebem instruções apropriadas. Para ter sistemas mais seguros, é preciso aumentar investimento no tratamento dos dados? Isso é, de fato, recomendado. O que temos visto mais recentemente são mais e mais ferramentas que nos permitem fazer trabalhos de alta qualidade com custos acessíveis. Também é possível permitir que anotadores de dados usem copilotos. Mas, sem os dados certos, todo o resto do trabalho desmorona.

O sr. prevê que vai continuar com seus atuais 5.000 colaboradores produzindo cada vez mais? Ou que terá 4.000 fazendo o trabalho dos atuais 5.000? Nosso objetivo é alcançar a melhor mentalidade tecnológica na McKinsey, mas também continuar fazendo a empresa crescer. Como esta é a era da criatividade, eu adoraria ter ainda mais funcionários comigo. Haverá mais produtividade e isso salva tempo. Mas estamos sempre focados em crescimento inclusivo e sustentado. Como avalio que seremos capazes de gerar muito crescimento e impacto nos setores público e privado, eu provavelmente precisaria de mais pessoas.

O sr. comentou sobre o uso ético da inteligência artificial e uma das discussões é sobre um possível aumento da desigualdade, como é o caso do Brasil. Como lidar com isso? Com os números que temos hoje, eu acredito muito que modelos código aberto vão ganhar a disputa de modelos proprietários [como é o ChatGPT]. Com uma comunidade forte, código aberto pode entregar melhores resultados. Esta atual era da criatividade nos dá mais conhecimento. Pessoas têm agora ferramentas à mão para criar soluções. Antes, não tinham esse mesmo acesso. Será possível criar muitos novos produtos. Pense em educação, será possível levar o melhor conhecimento a diferentes lugares. É uma causa que cabe no bolso, embora hoje não dê para pagar. Vai ajudar no desenvolvimento pessoal, na comunicação. Com essas ferramentas, que a gente pode diminuir o abismo entre as pessoas e criar oportunidades para quase todo mundo, o que pode permitir uma era de meritocracia real.

É possível que o Brasil acabe como um fornecedor de dados e não seja capaz de desenvolver as próprias tecnologias de IA? Vai depender dos empreendedores brasileiros fazer o país deixar esse lugar de fornecedor para ser produtor. Dois fatores que podem ajudar: o tamanho do Brasil, que é uma das maiores economias do mundo, e os investimentos em IAs geradoras em português. Este é um desafio relevante para o mercado interno. Na perspectiva interna, é essencial promover o empreendedorismo do país, as pessoas realmente criativas. É um país que, com base em sua história e no que está acontecendo nos últimos 20, 30 anos, está constantemente se reinventando e encontrando novas maneiras de fazer negócios. Economias emergentes têm ciclos, com altos e baixos, mas os empreendedores brasileiros e as empresas brasileiras estão sempre prosperando e criando excelentes modelos de negócios a partir das dificuldades. Isso será impulsionado pelas IAs geradoras.

RAIO-X

Alexander Sukharevsky, 44, lidera a iniciativa de IA da McKinsey, Quantum Black, cujo objetivo é aumentar a produtividade de empresas com a tecnologia. Nasceu em Israel e se graduou em Engenharia da Computação pela Universidade de Tel Aviv.

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