Descrição de chapéu The New York Times

Viajar em 'táxi-robô' parece futurista, mas é só mais uma volta pela cidade; veja fotos

Apesar de recursos extras, é fácil esquecer que não há ninguém no volante dos carros da Waymo

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Tripp Mickle Yiwen Lu Mike Isaac
San Francisco | The New York Times

"Olá, Tripp", disse uma voz desencarnada de mulher pelos alto-falantes de um táxi sem motorista que estava prestes a fazer uma viagem perto das coloridas casas vitorianas conhecidas como "Painted Ladies" [Senhoras Pintadas].

"Esta experiência pode parecer futurista", disse a voz. "Por favor, não toque no volante ou nos pedais durante o trajeto. Para qualquer dúvida, você pode encontrar informações no aplicativo Waymo. Por exemplo, como mantemos nossos carros seguros e limpos."

Durante vários anos, as ruas íngremes e congestionadas de San Francisco serviram como pista de teste para centenas de carros sem motorista operados pela Waymo, empresa de veículos autônomos de propriedade da Alphabet, controladora do Google, e da Cruise, de propriedade da General Motors.

Jaguar da Waymo em frente às "Painted Ladies" em San Francisco, nos EUA - Andri Tabunan - 21.ago.2023/NYT

Na segunda-feira (21), apesar das objeções das autoridades de San Francisco, que temem que os carros não sejam exatamente seguros, os veículos da Waymo começaram a funcionar como táxis pagos, sem motoristas. Pela primeira vez, algumas pessoas puderam reservar viagens e pagar tarifas em um carro sem motorista Waymo. A Cruise já opera um serviço pago limitado em partes da cidade.

O New York Times despachou três repórteres pela cidade para testar os táxis robóticos. Comecei na Alamo Square, onde ficam as famosas casas "Painted Ladies". Yiwen Lu começou seu passeio em Marina Green, ao longo da orla norte de San Francisco, e Mike Isaac começou seu passeio perto da histórica Basílica Missão Dolores.

Nosso destino: o restaurante Beach Chalet, onde o Golden Gate Park de San Francisco encontra o Oceano Pacífico. A Waymo está oferecendo apenas percursos limitados ao centro da cidade, então tentamos duplicar a experiência que um turista pode ter circulando por ela num táxi sem motorista.

Os trajetos de aproximadamente oito quilômetros foram duas partes "Driving Miss Daisy" e uma parte Nascar. Duas viagens evitaram cuidadosamente o congestionamento e uma pareceu aceitá-lo.

As viagens de táxi-robô da Waymo começaram enquanto cresciam as tensões sobre os carros sem motorista em San Francisco. Autoridades municipais e ativistas estão pedindo que as autoridades estaduais revertam ou adiem um plano para que Waymo e Cruise comecem a cobrar dos passageiros pelas viagens na cidade, 24 horas por dia.

Na semana passada, um carro Cruise sem motorista colidiu com um caminhão de bombeiros que atendia a uma emergência. Outro veículo Cruise atolou em concreto úmido. Na semana anterior, vários carros Cruise bloquearam o trânsito no bairro de North Beach. Na sexta (18), os reguladores estaduais pediram à Cruise que reduzisse pela metade o número de veículos em operação.

A Waymo teve menos problemas dignos de virar notícia. Em maio, um de seus carros atropelou e matou um cachorrinho. Há alguns anos, um carro Waymo sem motorista e com um motorista de segurança humano operando o volante atropelou um pedestre que precisou ser levado ao hospital. A empresa cobra tarifas na área de Phoenix há vários anos, e agora tem uma frota navegando cerca de 320 quilômetros por aquela região, inclusive de e para o aeroporto.

O aplicativo da Waymo, Waymo One, é parecido e funciona exatamente como o do Uber. Os passageiros inserem seu destino e obtêm um tempo estimado de espera para a viagem. Depois de incluir suas solicitações, a empresa despacha um veículo de sua frota de 250 Jaguar brancos que opera pela cidade. Os carros são incrivelmente caros, equipados com sensores e câmeras de alta tecnologia, e valem até US$ 200 mil.

Cada um de nós esperou de cinco a dez minutos para fazer a viagem.

A experiência da Waymo pode ser confusa para quem está começando. Quando o carro encostou na calçada diante das Painted Ladies, estendi a mão para o trinco da porta. Mas os trincos estavam encostados na porta e não abriam. Precisei apertar um botão "destravar" no aplicativo. Quando fiz isso, os trincos se projetaram da porta e pude entrar no carro.

Minha viagem foi tão tranquila que a novidade começou a passar, transformando uma viagem ao futuro em apenas mais um trajeto pela cidade. O carro era preciso e decidido, embora sem a flexibilidade ou as interações que você teria com um motorista humano. Fez uma parada para pedestres e cedeu passagem a veículos de emergência.

Assim como minha viagem, a de Yiwen foi totalmente sonolenta. O carro era secamente preciso. Nunca excedeu o limite de velocidade, usou as luzes de mudança de direção bem antes de trocar de faixa e cedeu a passagem a pedestres nas faixas que motoristas velozes poderiam desconsiderar.

O táxi-robô de Mike foi mais agressivo, porém. Saltou da linha de largada com mais aceleração do que se esperava. Ele ficou perplexo com a maneira como o carro passou por vários bairros congestionados antes de se dirigir para a orla.

Quando meu Waymo se aproximou de uma obra de construção que bloqueava a faixa da direita, diminuiu a velocidade de 48 km/h para 32 km/h e ligou o sinal de mudança de direção para entrar na faixa da esquerda. Momentos depois, o carro estava parado quando um carro de bombeiros se aproximou com luzes piscando. O Waymo hesitou. Uma tela sensível ao toque mostrava uma breve explicação: "Aguardando veículo de emergência". Esperou até que o caminhão passasse para acelerar no cruzamento.

O volante girou sozinho. Eu me perguntei o que aconteceria se eu tocasse o volante, então segurei-o enquanto o Waymo passava de uma pista para outra. O carro me ignorou e seguiu o percurso.

A viagem de Yiwen começou com uma complicação: um acidente, não envolvendo o Waymo, próximo a um estacionamento em Marina Green. Carros de polícia bloqueavam parte da rua, então o Waymo mudou rapidamente de rota. Em vez de seguir pela rua principal, ele entrou numa rua residencial próxima e contornou o acidente.

Os carros foram todos rápidos ao reagir a pedestres. O meu esperou pacientemente nos cruzamentos e faixas de pedestres enquanto as pessoas passeavam com seus cachorros, tomavam café e andavam de bicicleta na direção do Golden Gate Park.

Mas no alto de uma ladeira o carro de Mike reconheceu um homem atravessando a rua na faixa de pedestres, mas continuou avançando lentamente enquanto esperava que ele chegasse ao outro lado. O pedestre lançou um olhar irritado para o carro –e para Mike.

Os carros oferecem mais recursos do que um Uber ou um táxi. As telas sensíveis ao toque nos bancos traseiros são equipadas com um botão para ligar a música. Há uma série de playlists para escolher, incluindo jazz, música clássica, rock e hip-hop.

Mike queria ouvir uma banda punk chamada Armed e tentou encontrar a música do grupo no aplicativo Waymo. Mas, para isso, precisou baixar um aplicativo chamado Google Assistente e solicitar uma música específica falando no microfone do telefone. Sua primeira tentativa trouxe a banda errada, e a segunda trouxe uma versão ao vivo da música que ele solicitou.

Em vez de seguir o caminho mais direto para a praia por uma rua congestionada, meu Waymo atravessou o Golden Gate Park e seguiu por uma rua menos congestionada, mas isso acrescentou alguns minutos à viagem. Ele percorreu a maior parte do caminho a 47 km/h –1,6 km/h abaixo do limite de velocidade– e cedeu passagem a outros motoristas. A certa altura, ficou parado por alguns minutos atrás de um carro esperando para virar à esquerda, em vez de entrar na faixa da direita para contornar aquele veículo.

Meu Waymo parou em um estacionamento seis minutos depois da hora prevista inicialmente. Ele deslizou pelo estacionamento até uma vaga pequena e vazia onde o mapa na tela sensível ao toque mostrava um círculo. Assim que entrou no círculo, ele parou.

"Você chegou", disse a mulher. "Por favor, certifique-se de que esteja liberado antes de sair."

Quando saí do carro, ouvi a música eletrônica meditativa que me cumprimentou no início da viagem. Mike chegou logo depois de mim.

O carro de Yiwen foi menos direto. No início de sua jornada, ele lhe disse que haveria uma caminhada de dois minutos até o restaurante a partir do ponto de desembarque. O carro lhe lembrou isso quando chegou e a incentivou a usar o aplicativo para guiá-la enquanto caminhava até o Beach Chalet.

As viagens da Waymo foram acessíveis, variando de US$ 18 a US$ 21, quase o mesmo que um Uber. Levará anos –senão décadas– para que a Waymo recupere os bilhões de dólares que investiu em seu serviço. Embora não haja motorista, cada viagem é apoiada por uma equipe de um site da Waymo que pode ser convocada se um carro tiver problemas.

Mas esse é o problema da Waymo. Para nós, é fácil esquecer que ninguém está ao volante dos táxis-robôs. O único lembrete vem quando você começa a agradecer ao motorista antes de sair do carro. Uma olhada no banco da frente vazio lembra que você está sozinho.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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