Descrição de chapéu Financial Times

Samsung vive 'crise de chips' com greve de trabalhadores e forte concorrência

Gigante de tecnologia coreana corre o risco de perder engenheiros incomodados com a situação para a rival doméstica SK Hynix

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Christian Davies Song Jung-a
Seul | Financial Times

A Samsung está lidando com uma crise trabalhista crescente que está complicando seus esforços para alcançar os concorrentes no mercado em expansão de semicondutores usados em sistemas de inteligência artificial.

A gigante da tecnologia coreana agradou os investidores no início deste mês com a expectativa de que os lucros operacionais do segundo trimestre aumentassem quase 1.500% em relação ao ano anterior, à medida que o mercado global de memória se recupera de uma queda prolongada.

Imagem de uma apresentação onde um homem está em pé no palco, em frente a um grande telão. No telão, há os logotipos dos Jogos Olímpicos, da Samsung e dos Jogos Paralímpicos, com o texto 'Worldwide Olympic and Paralympic Partner' abaixo. A plateia está em silhueta, observando a apresentação.
O presidente sulcoreano da Samsung, Roh Tae-moon, durante evento da empresa em Paris - EMMANUEL DUNAND/AFP

Mas a orientação mais forte do que o esperado veio em meio a uma crescente agitação dos trabalhadores e contratempos na produção de chips que fizeram com que a empresa ficasse para trás dos concorrentes em áreas identificadas como essenciais para o crescimento futuro. As ações da Samsung subiram cerca de 7,5% este ano, contra um aumento de 65% para o rival doméstico SK Hynix.

A Samsung está atrás da SK Hynix e da fabricante de chips dos Estados Unidos Micron no desenvolvimento de chips de memória HBM, um componente crucial dos sistemas de IA, e ainda não passou nos testes necessários para se qualificar como fornecedor de HBM para o líder do setor, a Nvidia.

"Isso é extremamente preocupante para uma empresa que historicamente foi a principal fabricante de memória", disse Myron Xie, analista da consultoria de chips SemiAnalysis. "HBM é um produto muito lucrativo, então a Samsung está perdendo uma grande oportunidade."

A Samsung também não conseguiu fazer um impacto na dominação da TSMC no negócio global de fundição —o mercado de fabricação de chips de processador sob contrato— apesar do otimismo de que os grandes clientes procurariam reduzir sua dependência da gigante de chips taiwanesa em meio a riscos geopolíticos elevados.

"Embora os clientes quisessem uma segunda alternativa de fundição, a prioridade número um para os clientes é a qualidade da tecnologia e ser capaz de ter uma fonte estável de suprimento, o que a fundição da Samsung não entregou", disse Xie.

Em maio, o presidente da Samsung, Lee Jae-yong, instalou abruptamente um novo chefe da divisão de chips da Samsung Electronics, o veterano da indústria Jun Young-hyun, que prometeu "renovar o ambiente interno e externo" para lidar com uma "crise de chips" na empresa.

Mas um engenheiro de chips da Samsung, falando sob condição de anonimato, disse ao Financial Times que "não viu muitas mudanças, mesmo depois da subsituição de chefe".

"O ambiente interno está sombrio, já que ficamos para trás da SK Hynix em HBM e não conseguimos alcançar a TSMC na fundição", disse o engenheiro.

"As pessoas estão descontentes com seus salários em geral, pois acham que são tratadas pior do que seus colegas na SK Hynix", acrescentou. "Muitas pessoas estão pensando em deixar a empresa para se juntar aos nossos concorrentes."

O crescente descontentamento dos trabalhadores foi exposto na segunda-feira passada (8), quando cerca de 6.500 membros do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Samsung Electronics, que viu seus quadros crescerem de 10 mil para mais de 30 mil em um ano, iniciaram uma greve de três dias sem precedentes.

A greve por tempo indeterminado dos trabalhadores exigindo melhores salários e condições é a maior ação trabalhista organizada na história da Samsung. A empresa, que lançou seus últimos smartphones dobráveis na quarta-feira (10) com recursos de IA aprimorados, também está sob forte pressão da Apple e de rivais chineses de baixo custo no setor móvel, enquanto os concorrentes chineses também ameaçam erodir sua participação de mercado nos setores de display e eletrodomésticos.

"A moral dos trabalhadores está baixo, desencorajados por recompensas financeiras menores", disse um pesquisador do negócio de smartphones da Samsung, também falando sob condição de anonimato. "Eles se sentem impotentes porque a gestão parece sem direção."

"Eu estava acostumado ao crescimento das vendas durante toda a minha vida na empresa, mas esta é a primeira vez que vejo um declínio no crescimento", acrescentou um vendedor de eletrodomésticos da Samsung, que também não quis ser identificado. "As pessoas da minha equipe estão sentindo um senso de crise."

A Samsung negou as alegações do NSEU de que a greve de três dias havia interrompido a produção de chips. Mas na quarta-feira, o sindicato anunciou que continuaria com uma "greve por tempo indeterminado" que visaria as linhas de produção, incluindo aquelas usadas para fabricar chips HBM.

"A gestão não tem intenção de diálogo", disse o sindicato em um comunicado. "Identificamos claramente interrupções na produção, e a empresa se arrependerá dessa decisão."

A Samsung disse em comunicado ao FT que "permanece comprometida em se envolver em negociações de boa-fé com o sindicato", mas, por outro lado, se recusou a comentar sobre questões de pessoal. No entanto, analistas disseram que a greve complicaria os esforços para recuperar o terreno perdido para a SK Hynix na corrida do HBM.

De acordo com um investidor da Samsung, os rivais agora estão em uma competição acirrada por um suprimento limitado de talentos em engenharia coreanos. Ambas as empresas se recusaram a comentar sobre a batalha por talentos.

Na semana passada, a Samsung anunciou uma equipe interdepartamental dedicada aos esforços de desenvolvimento de HBM e, eventualmente, deverá fechar a lacuna tecnológica em relação à SK Hynix à medida que a indústria avança para futuras gerações de chips HBM, de acordo com CW Chung, analista da Nomura.

"Uma vez que você adote a estratégia errada e desenvolva o chip errado, os efeitos em cascata durarão cerca de três anos", disse Chung, observando que o ciclo mais amplo de memória continuará impulsionando a lucratividade da empresa nesse meio tempo. "Mas o pior parece ter ficado para trás para a empresa agora."

A Samsung argumenta que, como a única empresa com capacidades em fundição de ponta e chips de memória, bem como técnicas de "empacotamento avançado" de próxima geração, estará bem posicionada para enfrentar uma aliança crescente entre a SK Hynix e a TSMC, que estão trabalhando juntas de perto na próxima geração de chips de IA.

"Nosso compromisso com o avanço tecnológico e escala de investimento tem sido fundamental para o nosso sucesso e continuará sendo", disse a empresa. "Estamos confiantes e entusiasmados com a oportunidade de navegar pelo cenário atual e solidificar nossa posição de liderança."

Mas Xie, da SemiAnalysis, disse que "ser um balcão único tem pouco valor para empresas de design de chips quando a Samsung não é a melhor em nenhum dos aspectos mencionados acima".

"Dado que a Samsung viu suas capacidades tecnológicas se erodirem em várias áreas de seus negócios, parece haver problemas que derivam da liderança e cultura da empresa", acrescentou. "Uma reinicialização cultural pode ser longa e dolorosa, mas pode ser a melhor coisa para a empresa a longo prazo."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.