Favorito de Ernest Hemingway, bar faz cem anos em Paris
Lugar preferido de Ernest Hemingway, local de nascimento do drinque bloody mary e de veneração para gerações de americanos longe da pátria: o Harry's Bar comemorou o centésimo aniversário na quinta-feira (24), mantendo-se fiel a sua identidade - trazendo um pouco de Manhattan para o coração de Paris.
"Cada vez que passo por Paris, venho aqui, para um coquetel. A gente sente aí o peso da história, é qualquer coisa que demora muito tempo para ser criado", comenta Michael Formosa, um americano que vive em Londres, saboreando um Gibson, um Martini, ou cebolas pequenas em conserva, que substituem a tradicional azeitona.
"Vivi 12 anos em Nova York e este é um lugar que você pode encontrar uma parte de Penn Station [uma das principais estações de Manhattan]", afirma.
Um tanto escondido numa pequena rua do centro de Paris, 5 rue Daunou, perto da 'Opéra', com um letreiro em néon vermelho e ouro, o Harry's Bar não é muito diferente das cervejarias e dos bistrôs franceses tradicionais que o cercam.
Atrás de um velho balcão de madeira, os 'barmen' de aventais brancos misturam com destreza os coquetéis ou enchem os copos de uísque. Cafés e vinhos não são servidos à noite e não há nenhum aparelho de televisão ou de música que impediria os clientes de conversar.
"Não é um lugar muito 'ligado', mas é por isso que não ficará demodê", considera Isabelle MacElhone, a proprietária da venerável instituição.
"GENEALOGIA"
A história da família MacElhone confunde-se com a do Harry's Bar, desde seu nascimento, sob o nome de "The New York Bar" no dia de Ação de Graças de 1911 --que será marcado neste ano por uma festa para 300 convidados, coincidindo com a divulgação de um livro sobre o estabelecimento.
Harry MacElhone, um escocês de Dundee, havia sido contratado como empregado pelo primeiro proprietário, Tod Sloane, um jóquei americano instalado em Paris que se queixava de não poder beber um coquetel decente na capital francesa.
Preocupado em recriar a atmosfera de um bar americano de antes da Lei Seca, Tod Sloane enviou, literalmente, o interior de um deles, de Manhattan, através do Atlântico.
O balcão e as paredes acaju, decoradas com insígnias das grandes universidades americanas, dão ainda hoje ao bar um caráter particular.
Tod Sloane vendeu, em 1923, o bar a Harry MacElhone, que acrescentou seu nome ao letreiro do estabelecimento, que passou a ser conhecido, depois, com o nome de Harry's Bar.
Nos anos 1920, tornou-se o local favorito dos americanos em Paris, como Francis Scott Fitzgerald e, principalmente, Ernest Hemingway, um bebedor famoso que foi durante muito tempo um freguês regular, tornando-se amigo da família MacElhone.
O Harry's Bar também foi celebrado na ficção: James Bond qualificou-o de melhor lugar para se beber em Paris e, dizem, que foi em suas mesas que George Gershwin compôs a música "Um americano em Paris".
A lista de seus clientes célebres combina com as famosas criações de coquetéis --o primeiro deles foi o bloody mary, associando vodca, suco de tomate e especiarias, e que foi inventado em 1921.
Harry MacElhone morreu em 1958 e o bar passou a ser administrado por seu filho Andy; depois, por seu neto Duncan, marido de Isabelle, falecido em 1998. Seu filho, Franz-Arthur, 23, deseja prosseguir a tradição familiar.
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