Realidade virtual pode ser alternativa para turista viajar sem sair de casa

Tecnologia cresce no setor de viagens, mas alto investimento ainda é empecilho para empresas

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São Paulo

As medidas de isolamento social, impostas para diminuir a velocidade de propagação do novo coronavírus, obrigam milhões de pessoas a ficar em suas casas.

Por meio de ferramentas que usam realidade virtual, é possível viajar sem sair do lugar —ou pelo menos diminuir a sensação de confinamento.

São vídeos e jogos com imagens em 360º, que permitem ao espectador olhar para qualquer direção e sentir como se estivesse dentro da cena.

Há algumas opções de conteúdo em realidade virtual disponíveis para o consumidor brasileiro, mas, para ter a experiência completa, é preciso usar óculos especiais para essa finalidade —há versões simples que custam a partir de R$ 30 em lojas de equipamentos eletrônicos.

Também é preciso saber ao menos o básico de inglês, já que a maioria das plataformas está nessa língua.

Silhueta de pessoas com óculos de realidade virtual à frente de uma tela com imagem de peixes
Visitante da feira de turismo ITB, em Berlim, usa óculos de realidade virtual em estande de promoção do Egito, na edição de 2019 do evento - Ralf Hirschberger/dpa-zentralbild/ZB

O aplicativo Travel World oferece vídeos em 360º, para serem vistos com ou sem óculos. No site travelworldvr.com/vr, há amostras, que podem ser assistidas pelo Youtube —casos de um tour em um ônibus de dois andares em Londres e de um mergulho pela Grande Barreira de Corais, na Austrália.

O Google também conta com uma ferramenta de realidade virtual, o Google Earth VR, que funciona com óculos (HTC Vive ou Oculus Rift).

O aplicativo Sygic Travel VR, para smartphones com sistema Android, tem vídeos em realidade virtual que simulam passeios por cidades do mundo. Eles podem ser vistos com ou sem os óculos específicos, como o Google Cardboard. Os vídeos são narrados em inglês, sem legendas.

Há ainda o aplicativo Chile 360º, com vídeos e imagens de paisagens chilenas, como o deserto do Atacama e a Patagônia. Com uso opcional de óculos, está disponível para Android e iOS e pode ser configurado para o português.

O uso da realidade virtual no turismo tem crescido nos últimos anos como uma forma não de substituir as viagens, mas de oferecer uma pré-visita ao viajante. Assim, em vez de ver fotos de um hotel, ele pode sentir como é estar dentro de um quarto e admirar a paisagem que o espera.

Grandes redes hoteleiras, empresas de cruzeiros e destinos turísticos têm investido nessa tecnologia com o objetivo de deixar a experiência de viagem mais completa e gerar desejo nos consumidores.

Há sete meses, a agência R11 Travel, distribuidora da Royal Caribbean no Brasil, inaugurou em São Paulo a primeira sala de realidade virtual voltada para o turismo da América Latina. Ali, com ajuda de óculos especiais, é possível conhecer o interior de navios e até experimentar um passeio de stand-up paddle sobre um mar cristalino.

A tendência é que o uso dessa ferramenta se espalhe pelo segmento nos próximos anos, mas o alto investimento ainda é um empecilho para companhias e destinos menores.

“As empresas têm muita coisa para resolver em termos de tecnologia antes disso”, afirma Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria Mapie, especializada em turismo. Como exemplo, ela cita investimentos com segurança de dados e automação de processos internos.

Com a pandemia de Covid-19, a realidade virtual apareceu, para alguns, como uma alternativa para aliviar o estresse gerado pela quarentena. Mas isso não significa que seja uma solução para a crise que enfrenta o setor, na opinião de Mariana Aldrigui, professora de turismo da USP (Universidade de São Paulo).

“Quero crer que vão sair na frente as empresas que conseguirem, primeiro, entender como vão lidar com a crise e, depois, se prepararem para fazer promoção, usando recursos pelo celular ou campanhas de acesso remoto para convidar os potenciais clientes a visitá-los. Mas eu não faria uma relação imediata.”

Segundo a professora, quando a restrição à circulação acabar, outros fatores devem pesar mais na escolha do destino do que a inspiração gerada pela realidade virtual.

Serão decisivas a disponibilidade orçamentária e a existência de incertezas ligadas ao novo coronavírus. “Ninguém sabe para onde será seguro ir num primeiro momento”, diz.

Para Neves, a realidade virtual, mesmo com a contínua evolução tecnológica, nunca vai substituir a viagem tradicional. “O ato de viajar envolve uma experiência mais abrangente. Com a realidade virtual você é capaz de ver algo, mas não de sentir, de experimentar de verdade, porque você está na sua cadeira.”

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