Descrição de chapéu The New York Times

Onde beber, comer e passear durante 36 horas em Nova Orleans, no sul dos EUA

Visita à capital da Louisiana deve incluir passeios pela história da cidade, bares famosos e pratos multiculturais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Richard Fausset
The New York Times

Passadas quase duas décadas desde a devastação do furacão Katrina, Nova Orleans tem menos habitantes que antes, mas está ainda mais rica em tesouros culturais. Forçada a justificar sua própria existência, a cidade passou a venerar ainda mais seus costumes curiosos e charmosos e as atrações de seus diferentes bairros.

Hoje, há opções novas para curtir a história, o cenário de artes e a beleza natural da cidade, entre elas a Lafitte Greenway, ciclovia e trilha para pedestres que liga o French Quarter à bonita área em torno do City Park, onde não se veem tantos turistas.

Para quem vai visitar Nova Orleans no curto prazo, agora é época do Mardi Gras, com Carnavais de rua por vezes satíricos, irreverentes, bizarros e sublimes. As festividades culminam numa grande festa de rua na Terça-Feira Gorda, que este ano cai no dia 21 de fevereiro.

Centro de Nova Orleans
É possível passear por Nova Orleans de charrete - (Sara Essex Bradley/The New York Times)

Sexta-feira

15h | Se oriente

O French Quarter, o coração colonial da cidade, tem passeios fantasmagóricos de sobra. Uma opção ótima para entrar em sintonia com os espíritos é visitar o museu (gratuito) da Historic New Orleans Collection, na Royal Street, aberto em abril de 2019 após a restauração e ampliação de uma mansão de 1816, uma obra que custou US$ 38 milhões ou cerca de R$ 161 milhões.

Artefatos como um anúncio da inauguração da French Opera House, em 1859, com texto em inglês e francês, evocam tempos que já ficaram para trás (a Opera House pegou fogo em 1919). Um filme de 18 minutos sobre a história do French Quarter é projetado sobre quatro paredes e cobre mais de 300 anos de imigração, epidemias e fases em que Nova Orleans pertenceu a diferentes países, sem deixar de destacar também o lado libertino do bairro.

A lojinha de presentes é uma das melhores da cidade. Procure as colheres de pau feitas à mão (US$ 21 ou R$ 100) e prints de fotos de músicos de Nova Orleans do fotógrafo local Michael P. Smith (a partir de US$ 35 ou R$ 182, sem moldura).

17h30 | Beba à sua saúde

A uma quadra apenas de distância, Bourbon Street o aguarda, com seu fluxo constante de pedestres em espírito de festa, movidos a uísque. Se você por acaso acabar cantando um rap com letra da Tone Loc num karaokê qualquer, ninguém vai julgá-lo por isso.

Para uma experiência auditiva mais suave, procure o bar e restaurante Jewel of the South, num antigo chalé de estilo creole francês na St. Louis Street, onde a tão famosa tradição dos coquetéis de Nova Orleans é conservada e ao mesmo tempo reinventada. Comece com um brandy crusta azedo e revigorante (US$ 16 ou R$ 83 ), uma criação de Nova Orleans no século 19 servida num copo incrustado de açúcar.

Na sequência, aposte num night tripper (US$14, R$ 70), que deve seu nome ao grande pianista nativo da cidade Mac Rebennack, também conhecido como Dr. John. É um drinque suave, redondo e confiante que mistura bourbon, amaro, Liquore Strega e bitters Peychaud –ou seja, o equivalente em termos de coquetel a uma dos covers mais contidos de Duke Ellington tocado por Rebennack.

19h | Hora de conhecer o lado francês da cidade

No Bywater, antigo bairro da classe trabalhadora à margem do rio Mississippi recentemente alterado pela chegada de moradores mais descolados e burgueses, os bares são charmosos, decadentes e modestos.

Jante no N7, que deve seu nome à rodovia que antigamente ligava Paris à Riviera francesa. O restaurante foi aberto em 2015, mas exala o espírito zen e despreocupado de uma instituição local décadas mais antiga.

Deguste um vinho natural num bar decorado com objetos vintage diversos parisienses (uma capa de uma edição antiga da Cahiers du Cinéma; uma foto de Jane Birkin encarnando Melody Nelson) e peça o sempre reconfortante galo ao Riesling (US$ 25 ou R$ 130). Quem precisa ou quer economizar tem a opção de comer ovos duros no bar, apresentados num carrossel de arame.

Para ouvir música ao vivo nas proximidades, procure o Saturn Bar, um boteco da era de Kennedy cujo cardápio musical eclético abrange desde a cumbia até o dance-punk irreverente.

21h | Hora de se mexer

No Bullet’s Sports Bar, uma taverna simpática no bairro Seventh Ward, a sexta geralmente é noite das bandas de metais (consumação mínima US$ 10 ou R$ 50). Depois de uma revista rápida de segurança antes de entrar, achegue-se ao bar e peça um "set-up" de vodca (US$ 93): 290 ml de Absolut, com copos de plástico para seus amigos. Para misturar outras bebidas ao set-up você paga um adicional.

Ultimamente é a Sporty’s Brass Band que vem se apresentando no Bullet’s nas noites de sexta. Cabe à banda energizar esse estabelecimento cotidiano como no passado os yippies tentaram energizar o Pentágono. Diferentemente dos yippies, o índice de sucesso da Sporty’s é de 100%. (Observação: fato bizarro, nas noites de música ao vivo o Bullet’s não aceita clientes com menos de 30 anos. Mas não faltam opções para quem é mais jovem.)

Sábado

8h | Peça um biscoito no Uptown

Com quase 10 km de extensão, o corredor comercial da Magazine Street é uma mistura assombrosa de lojas, galerias de arte e bons lugares para comer, com surpresas em quase cada quarteirão. Para um café da manhã no Uptown, uma boa pedida é um biscoito de cheddar e cebolinha (US$ 4,75 ou R$ 24) no La Boulangerie, uma versão de Nova Orleans de uma padaria francesa clássica onde o clima costuma ser agitado e feliz nas manhãs de sábado.

Leve o biscoito para viagem e coma percorrendo a Magazine Street, tomando nota dos lugares que você pode querer conhecer quando abrirem, mais tarde. A Magpie é uma loja excepcional de roupas e bijuterias vintage, e a Sisters in Christ, que vende livros e discos, está em sintonia com o cenário artístico underground da cidade, do tipo faça-você-mesmo.

Situado dentro de um posto de combustíveis Jetgo, o restaurante Shawarma on the Go é conhecido pelo chá libanês gelado com pinhões. Crocante, gelado, aromático e agridoce, é uma versão local de uma bebida libanesa tradicional chamada jallab.

11h | Reme no bayou urbano

Nos primórdios de Nova Orleans o bayou St. John era uma rota crucial para o tráfego de barcos entre o lago Pontchartrain e o coração do assentamento francês. Desde a passagem do furacão Katrina, a hidrovia plácida passou por uma restauração ecológica importante. Hoje ela oferece aos remadores um ambiente que mistura toques urbanos e a flora e fauna silvestres da Louisiana.

A Kayak-Iti-Yat oferece um passeio de caiaque de duas horas de duração (US$ 49 por pessoa ou R$ 255 ), que parte de um ponto a quase 5km do French Quarter. Principiantes são bem-vindos, e é preciso reservar com antecedência. Você pode ver tartarugas na lama, garçotas e pelicanos pescando na superfície e um ou outro jacaré à espreita.

Você provavelmente passará pela Pitot House, uma mansão de 1799 no estilo das Índias Ocidentais que foi a residência do primeiro prefeito americano de Nova Orleans. E pode trocar algumas palavras com os vizinhos que levam seus cachorros para passear nas margens do bayou.

13h30 | Saboreie o melhor da culinária do Mid-City

Explore o melhor da comida casual de Nova Orleans na área do Mid-City, um misto eclético de bairros residenciais. A beringela à parmegiana (US$ 17 ou R$ 88 ) acompanhada de gumbo (US$ 8 ou R$ 40) do Liuzza’s mostra a contribuição de imigrantes sicilianos para o diálogo culinário crioulo. Já o Parkway Bakery and Tavern tem alguns dos melhores sanduíches po’boys, que ela começou a servir quase um século atrás para alimentar condutores de bonde em greve.

O minúsculo e barato restaurante 1000 Figs serve faláfel e homus com uma lista de vinhos resumida mas inteligente, oferecendo um gostinho do caso recente de Nova Orleans com a cozinha do Oriente Médio. O Katie’s é um estabelecimento clássico notável por seu charme e um cardápio repleto de especialidades locais imperdíveis, incluindo o beignet de lagostim (US$16 ou R$ 80).

Mesa de restaurante com dois pratos e cervejas
Refeição no restaurante Liuzza's em Nova Orleans - (Sara Essex Bradley/The New York Times)

15h30 | Passeie num jardim de esculturas

O Sydney and Walda Besthoff Sculpture Garden (ingresso gratuito) ocupa uma área de 45 mil m2 no New Orleans City Park e foi ampliado em 2019. Em meio à paisagem primordial do sul do Louisiana, quase cem esculturas contemporâneas de artistas como Frank Gehry, Anish Kapoor e Larry Bell se espalham entre lagoas e carvalhos majestosos e retorcidos.

Uma ponte de vidro de 21 metros projetada por Elyn Zimmerman é enfeitada com imagens dos caminhos sinuosos do rio Mississippi. Um pavilhão interno traz outra obra inspirada no rio Mississippi, esta de Maya Lin, responsável pelo memorial aos Veteranos da Guerra do Vietnã, em Washington.

Ela utiliza mármores verdes vítreos para representar o rio e seus afluentes. A obra sobe por uma parede e se espalha pelo teto, sugerindo a natureza indomável da água, não obstante as melhores intenções dos construtores dos diques.

19h | Aposte num japonês ao estilo de Nova Orleans

Nova Orleans leva suas tradições a sério. Mas a cidade também é aberta a ideias novas e influências externas, especialmente as que têm um denominador culinário comum. Refugiados vietnamitas começaram a radicar-se aqui na década de 1970, e seu impacto sobre o cenário gastronômico continua, tanto que a linha que separa o banh mi e o po’boy fica menos clara a cada ano que passa.

No Sukeban, no Uptown, a chef Jacqueline Blanchard, que cresceu na terra dos bayous e já trabalhou no French Laundry de Thomas Keller, confere um leve toque do Louisiana ao conceito japonês do isakaya. Aqui os rolinhos tamaki (a partir de US$ 7 ou R$ 35) podem acompanhar o caviar suave Cajun Bowfin (US$ 10, R$ 50). A salada de batatas (US$ 7, R$ 35 ), uma constante na culinária sulina, ganha toques novos com o acréscimo de cenouras em conserva e os peixinhos secos e crocantes conhecidos como niboshi.

21h | Circule pelos bares do bairro

Desça a Oak Street até o Maple Leaf Bar, uma casa com música ao vivo inaugurada em 1974 e que até hoje é um dos melhores lugares para ouvir o blues local, R&B, bandas de metal e conjuntos de jazz. Até sua morte em 1983, James Book, tido por muitos como um dos melhores pianistas que já tocaram nesta cidade na qual não faltam pianistas geniais, era presença regular no pequeno palco do Maple Leaf.

Caminhe na outra direção na Oak Street para curtir o Snake and Jake’s Christmas Club Lounge, botequim onde bebidas baratas são servidas em um ambiente mal iluminado perfeito para tramar complôs ou fazer amigos no fim da noite.

Domingo

9h | Vá conhecer um novo centro literário

A manhã talvez seja o melhor horário para uma caminhada agradável pelo French Quarter e o Faubourg Marigny, o bairro irmão mais discreto situado ao lado. Os bebedores amadores foram tirados das ruas, equipes de garis já passaram pela área para neutralizar os dejetos remanescentes das farras da noite anterior, e o sol ainda não está a pino.

Encerre sua caminhada na Baldwin & Co, livraria de proprietários negros que abre cedo (é também uma coffee shop) e destaca obras de autores negros, desde o ativista e quadrinista Dick Gregory até o mestre da ficção de Nova Orleans Maurice Carlos Ruffin, passando pelo empreendedor da comfort food vegana Pinky Cole. Mesmo nas manhãs de domingo o lugar tem clima de salão literário à moda antiga, com os clientes debatendo acontecimentos da atualidade.

11h | Hora de fazer um belo brunch

Poucas cidades levam a arte do brunch tão a sério quanto Nova Orleans. Há toda uma mitologia local em torno da refeição e sua popularização, mais de um século atrás, atribuída a uma chef alemã francófona chamada Madame Begue.

Para curtir um brunch moderno, vá ao Elysian Bar do Hotel Peter and Paul, um imóvel reformado no Marigny que já foi igreja, escola, convento e presbitério. Se o tempo estiver bom, procure uma mesa no pátio. São boas pedidas a torrada com fígado de galinha (US$ 15 ou R$ 80) com geleia de cebolas vermelhas e maçãs, ou o "Baked Eggs in Purgatory" (ovos assados no purgatório) (US$20 ou R$ 100), com tomate, ricota e chimichurri.

Acompanhe com um coquetel Mother Superior (US$ 14 ou R$ 72) –uma mistura leve de vinho rosé, babosa, pepino, hortelã e limão— para desistir de qualquer ideia pecaminosa de abandonar suas obrigações em casa e estender um pouquinho sua estadia em Nova Orleans.

NÃO DEIXE DE CONHECER

Historic New Orleans Collection
Oferece um museu histórico e cultural gratuito no French Quarter.

Magazine Street
É uma rua de dez quilômetros perfeita para caminhadas, compras e refeições.

Bayou St. John
É uma hidrovia perfeita para passeios de caiaque com operadoras como a Kayak-Iti-Yat.

O Sydney and Walda Besthoff Sculpture Garden
Expõe arte contemporânea num cenário deslumbrante ao ar livre.

ONDE COMER

La Boulangerie
É uma padaria francesa com viés de Nova Orleans.

O Elysian Bar
É o melhor lugar para mergulhar na cultura do brunch, no Hotel Peter and Paul.

Shawarma on the Go
Situado dentro de um posto de combustíveis, serve uma bebida libanesa ultrarrefrescante.

N7
Você encontra culinária de inspiração francesa numa ruela do bairro Bywater.

Liuzza’s
É um restaurante creole italiano à moda antiga.

O Parkway Bakery & Tavern
Serve ótimos po’boys.

1000 Figs
É um restaurante mediterrâneo moderno e de preços acessíveis.

O Katie’s Restaurant and Bar
É um estabelecimento clássico do bairro que serve comida picante de Nova York, incluindo um beignet de lagostim.

O Sukebané
Um izakaya japonês com toques da Louisiana.

ONDE FICAR

O novo hotel da rede Four Seasons
Na cidade ocupa uma torre de escritórios reformada de 34 andares. Alguns dos quartos têm vistas belíssimas do rio Mississippi. Diária dupla a partir de US$ 360 ou R$ 1.875

O Hotel Saint Vincent
No baixo Garden District, é um prédio do século 19 que já foi um orfanato. Situado perto de algumas das residências mais lindas de Nova Orleans, o hotel tem um bar chamado Chapel Club que é exclusivo para hóspedes. Diária dupla a partir de US$ 199 ou R$ 1.000.

O Alder Hotel
É limpo, contemporâneo e de preços acessíveis, fica perto do coração do Uptown de Nova Orleans e do agito dos restaurantes e bares de Freret Street. Diária dupla a partir de US$ 110 ou R$ 570

Não faltam opções para alugar por períodos curtos no Bywater, bairro decadente-descolado próximo ao French Quarter e cheio de atrações próprias, entre elas a Euclid Records, imperdível para quem curte música, e o Crescent Park, que tem uma trilha margeando o Mississippi. O bairro pode encerrar riscos à noite, porranto abuse da prudência e discrição.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.