Ricardo Boechat revelou um Copacabana Palace com causos sobre xixi e bebedeira

Livro do jornalista saiu quando hotel completou 75 anos

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São Paulo

Pode-se imaginar que muitas coisas aconteceram num hotel centenário como o Copacabana Palace, mas nem sempre se considera que muitas coisas que de fato aconteceram superam a imaginação.

Talvez não seja tão difícil criar uma cena em que um astro do rock é expulso por jogar futebol com sua banda na suíte em que estava hospedado, mas e um presidente ser baleado pela amante? Ou uma estrela de Hollywood pedir um balde de gelo com areia para fazer xixi?

As situações inusitadas, muitas delas pouco conhecidas, são relatadas pelo jornalista Ricardo Boechat no livro "Copacabana Palace – Um Hotel e Sua História" (ed. DBA), publicado após o local completar 75 anos.

Piscina do hotel Copacabana Palace, na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro
Piscina do hotel Copacabana Palace, na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Boechat, que morreu em 2019 num acidente de helicóptero, narra as aventuras do Copa desde sua inauguração, em 1923; conta seus altos e baixos, suas ditas e desditas, suas histórias convencionais e os episódios pitorescos –alguns dos quais guardados até então em segredo.

Entre as muitas experiências excêntricas do Copa, Boechat dá destaque especial a uma relatada por Fery Wünsch, que por 40 anos foi maître d’hôtel.

Numa noite de 1959, a atriz e cantora Marlene Dietrich iria se apresentar no Golden Room, a sala de espetáculos do Copa. Antes de surgir no palco, contudo, ela chamou Wünsch e exigiu um balde de gelo com areia.

É que, usando um vestido colante, a estrela de "O Anjo Azul" e "Desejo" não conseguia descer a escada até o banheiro, de modo que precisou improvisar na hora do xixi. Foi atendida como se nada anormal estivesse acontecendo.

Afinal, Octávio Guinle, fundador do Copa, mantinha desde a inauguração um rigoroso código de conduta para os funcionários. Entre as diretrizes estava esta: "Não demonstrar conhecimento das excentricidades dos clientes, que deverão passar despercebidas, sem manifestações de gestos, atos e palavras".

Menos discreta foi a estadia do cantor Alice Cooper em 1974, embora, segundo Boechat, o hotel tenha deixado tudo na surdina.

Depois de seu show no Maracanãzinho, o expoente do hard rock, junto com banda e equipe técnica, voltou para o Copa e varou a madrugada numa bebedeira feroz, acompanhada de arremesso de pratos, talheres, copos, alimentos e o que mais encontrassem pela frente.

Foi uma devastação: quatro suítes depredadas, móveis danificados, vidros quebrados e a piscina inutilizada por dois dias, tantas eram as garrafas e outros objetos que terminaram ali.

Segundo Boechat, os prejuízos foram inteiramente bancados pelo astro, na maior conta de extras registrada pelo hotel (pelo menos até a publicação do livro).

Alguns anos depois, outro astro do rock causou turbulências no Copa. Em 1977, Rod Stewart e sua banda foram expulsos por disputarem uma partida de futebol dentro da suíte presidencial, da qual resultaram um quadro quebrado, as paredes sujas e o incômodo dos demais hóspedes.

Entre as pessoas incomodadas estava não uma hóspede, mas uma moradora: dona Mariazinha Guinle, viúva de Octávio. Desde 1953 ela residia no sexto andar do hotel e revelava-se intransigente em muitos assuntos, inclusive nos que lhe davam prejuízo.

Em 1982, por exemplo, a Embaixada da Espanha solicitou o bloqueio do sexto andar para que rei Juan Carlos e a rainha Sofia lá se hospedassem. Nada feito. Mariazinha considerou a imposição inaceitável.

De certo ponto de vista, o casal espanhol teve sorte quando se trata de autoridades. Pelo menos na comparação com Washington Luís, presidente do Brasil de 1926 a 1930, que estava no Copa quando tomou um tiro de uma amante, em 1928.

À época, o governo conseguiu camuflar o caso com uma crise de apendicite, versão que depois se descobriu falsa. Assim como é falsa, segundo Boechat, a versão segundo a qual a marquesa italiana Elvira Maurichi apertou o gatilho.

Ela se matou dias depois do atentado, o que só alimentou a suspeita sobre si. Mas, de acordo com Boechat, dois colaboradores do livro ouviram outra coisa do médico que conduziu o presidente ao hospital: a amante em questão seria a francesa Yvonette Martin.

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