Conheça o restaurante da Netflix, nos EUA, com pratos feitos por chefs de realities

Menu do Bites, em Los Angeles, reúne criações de nomes vindos de seus programas de culinária

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Los Angeles (EUA)

Aqui não tem gelo seco dramático espalhado pelo chão, como no cenário do reality Iron Chef, nem cardápios misteriosos em formato de poemas, como no episódio de Dominique Crenn de Chef’s Table. Sumiram os jurados, apareceram os garçons.

Não estou de pijama em frente à TV e, sim, sentada numa mesa ao ar livre provando o repolho assado com nata defumada de Crenn. Sinto o cheiro do porco assado de Rodney Scott (de Chef’s Table: BBQ) e espero pelo meu coquetel criado por LP O’Brien (de Drink Masters ).

Bites é o primeiro restaurante da Netflix, que abriu sexta-feira (30) em Los Angeles
Bites é o primeiro restaurante da Netflix, que abriu sexta-feira (30) em Los Angeles - Fernanda Ezabella

Bites é o primeiro restaurante da Netflix, que abriu na sexta-feira (30) num hotel de Los Angeles.

O menu reúne criações de oito chefs de programas da plataforma de streaming, como a francesa Crenn, única mulher nos EUA com três estrelas Michelin graças ao seu Atelier Crenn, em San Francisco. Outros são o mestre do churrasco Rodney Scott, a confeiteira Nadiya Hussain e a pizzaiola Ann Kim.

Os chefs deixaram suas receitas a cargo de um time liderado pelo australiano Curtis Stone, estrela de Iron Chef, dono de dois restaurantes em Los Angeles e duas estrelas Michelin. Ele contou que chegar a um menu coeso, já que cada chef tem um estilo de cozinha, foi um dos desafios do novo restaurante, mas não o único.

"Conseguir informações dos chefs, quando eles querem controlar tudo, foi outra parte complicada", diz Stone à reportagem. "Mas superamos esse problema e todos vieram aqui provar seus pratos e ficaram felizes com o que estamos fazendo. Foi meio libertador."

"Agora só precisamos descobrir como fazer isso para 300 convidados por noite", continuou, rindo.

Do lado de fora do restaurante, roteiristas de Hollywood em greve passavam panfletos indignados contra a Netflix. Dentro, o clima era ensolarado, protegido por guarda-sóis e decorado com pinturas dos chefs retratados.

De certa forma, sentada ali à espera da comida, me sinto como a jurada convidada de um programa de TV. E no meu Iron Chef imaginário, Crenn perderia pontos com seu prato principal, repolho acompanhado de chucrute com sementes de picles de mostarda.

Mas talvez tenha sido ingenuidade achar que estrelas Michelin transformariam uma verdura sem graça num prato digno de R$ 140 (US$ 29).

Peço também costela de cordeiro na lenha com molho de iogurte, assinada pelo próprio Stone. A carne vem perfeita e se desmancha na boca. Stone ganharia todos os meus pontos.

Seu prato principal, e o item mais caro do menu a R$ 311 (US$ 65), é um curry de sapateira com limão-caviar, preparado no episódio final de Iron Chef: Em Busca de uma Lenda. Os jurados babaram.

Stone conta que conheceu o limão-caviar com um aborígene australiano (a fruta tem um formato alongado e bolinhas cheias de sabor que parecem caviar). "Muita gente me perguntou sobre esse prato depois do programa, mas não tem muito a ver com meus restaurantes. Então achei que caía muito bem aqui", explicou.

Ele diz que fez o que pôde para trazer a Los Angeles o que chama de "sabor autêntico" dos chefs selecionados, incluindo o transporte de uma das enormes churrasqueiras de Rodney Scott, famoso pelos churrascos de porco inteiro.

Stone enviou um funcionário até Charleston, na Carolina do Sul, para aprender as técnicas de Scott e voltar de carro com o equipamento, cerca de 4 mil km de distância. O espaço para a churrasqueira ocupa duas vagas no estacionamento do hotel de Los Angeles.

Com as pizzas de Ann Kim (de Chef's Table: Pizza), a equipe também teve uma ajuda extra. Americana que nasceu na Coreia, ela tem quatro pizzarias em Minneapolis, onde mistura ingredientes de sua terra natal. A chef veio a Los Angeles ensinar a equipe do Bites a fazer sua massa e deixou um lote pronto de kimchi e picles para iniciar os trabalhos.

Sua pizza mais popular, a Lady Zaza, leva kimchi, molho de tomate e porco. Curiosamente, a mistura agrada, talvez porque o sabor forte do kimchi quase desaparece ao sair do forno. A primeira mordida é meio doce, e os pedacinhos de porco se sobressaem bastante.

Acompanho tudo com o cotequel Everything But the Cat Alley, da mixologista LP O’Brien, vencedora do programa Drink Masters. Não sinto muito o rum da bebida, que mais parece um delicioso smoothie leitoso de coco. O drinque vem com um saquinho preso na borda do copo por um clipe, com uma bananinha frita dentro. É um lanche perfeito para um fim de tarde.

Na hora da sobremesa, tento evitar outro erro como o do repolho. O menu traz uma versão do programa Mandou Bem, no qual o chef francês Jacques Torres desafia amadores a recriar bolos famosos. Aqui no Bites, o garçom traz os ingredientes (mousse de chocolate branco, algodão doce, doce de maracujá), e o freguês monta o prato: um palhacinho de charuto.

Fujo desta opção, consciente da minha falta de talentos culinários, e escolho pelo outro programa, quer dizer, pela outra chef no menu de sobremesas, a britânica Nadiya Hussain. Seu bolo de mel de finíssimas camadas e avelãs levemente salgadas é outro ponto alto da refeição.

Nunca vi seus programas na Netflix, Nadiya Bakes e Nadiya’s Time to Eat, mas o farei assim que voltar para meu pijama, no sofá em frente à TV. Antes disso, vem a conta, um tanto nostálgica, dentro de um envelope vermelho da antiga Netflix, quando a empresa enviava DVDs pelo correio.

Bites é um restaurante temporário, embora a data de fechamento não tenha sido divulgada. As reservas estão lotadas até setembro, mas é possível tentar uma mesa ao vivo.

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