É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
Escreve às terças.
Com dengue e chikungunya em São Paulo, o jeito é rezar
Há três meses, os agentes das Suvis (Supervisão de Vigilância em Saúde) da zona norte de São Paulo estão sem carro para fazer a prevenção da dengue.
A região amarga a maior incidência de casos da doença no município e registrou a primeira morte suspeita, uma idosa da Brasilândia (zona norte), onde já foram notificados 80 casos de dengue.
Apesar da quase óbvia relação entre a falta de prevenção e o aumento do números de casos, o secretário-adjunto da Saúde, Paulo Puccini, desqualificou nesta quinta-feira (26) a queixa dos agentes de saúde sobre a falta de carros.
"Os agentes gostam de falar o que não sabem direito", disse, argumentando que há 300 carros disponíveis da Covisa [Coordenação de Vigilância em Saúde]. Ele só esqueceu de informar que esse número é para a cidade toda.
Na zona norte, só há carro para fazer o bloqueio das regiões onde há confirmação dos casos. O trabalho de prevenção, que deveria ter sido feito antes da chegada do verão, já era.
A questão, sr. Paulo, é que os agentes de saúde sabem e muito. O problema é que não são ouvidos pelos burocratas dos gabinetes. Aliás, seria um ótimo exercício conhecer de perto o trabalho deles. Conviver com a falta de equipamentos, colocar o pé na lama, entrar nas favelas, receber ameaça de morador, ser mordido por cachorros entre outras aventuras diárias que esses profissionais vivem. Quem sabe, dessa forma, o trabalho preventivo não seria levado a sério?
A prefeitura prefere continuar creditando o aumento dos casos de dengue na região norte apenas à falta de água, que teria contribuído para acúmulo de água limpa sem proteção.
Como se não bastasse a dengue, São Paulo já registra quatro casos da febre chikungunya, doença viral semelhante à dengue. A prefeitura diz que os casos são "importados", que vieram principalmente da América Central. Mas com tanto mosquito solto por aí, é bem provável que o número de registros de "chiku" já seja muito maior.
O diagnóstico (em São Paulo e no resto do país) tem sido tardio porque, no início, os sintomas se confundem com os da dengue. E como há muita subnotificação da doença, os casos de chikungunya só têm se tornado oficiais quando os sintomas, como fortes dores nas articulações, perduram e aí é feito um teste específico para a doença.
Como sempre, quando a prevenção falha, o jeito é correr atrás do prejuízo. E rezar.
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