É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Ditaduras não perdem eleições, fazem fraude como em Caracas
Juan Barreto - 15.out.2017/AFP | ||
Venezuelanos em fila para votar em Caracas no domingo (15) |
Os resultados das eleições regionais deste domingo (15), segundo os números oficiais, só podem ser explicados por uma frase curta e grossa da ex-presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla: "As ditaduras não perdem", disse ela, conforme recolhe o jornal "El País".
De fato, ditaduras costumam apresentar resultados eleitorais ainda mais contundentes do que os 75% de governos estaduais que os chavistas anunciam ter conquistado (17 em 23, com um ainda indefinido, justamente o que fica na fronteira com o Brasil).
Contraria a lógica mais elementar. Afinal, em 2015, em eleições legislativas, a última oportunidade legítima para medir o prestígio do governo, o chavismo ficou com 40,8% dos votos contra 56,2% da oposição.
O que aconteceu nos dois anos seguintes? Em 2016, a economia sofreu uma contração de 16,5%. Este ano, caminha para desabar mais 12%, segundo os dados divulgados há pouco pelo Fundo Monetário Internacional.
A inflação, sempre segundo o FMI, ficará este ano em 652,7 % e, em 2018, irá a estratosféricos 2.349,3 %.
Algum governo (qualquer governo) pode ganhar uma eleição (qualquer eleição) com uma situação catastrófica como essa? E ainda falta acrescentar um desabastecimento generalizado e um índice de criminalidade infernal.
Só ganha com fraude, o que, de resto, já havia acontecido há pouco, na eleição trucada para uma Assembleia Constituinte: o governo anunciou um número de votantes muito maior do que o que de fato houve.
Aliás, os números anunciados para a eleição da constituinte são outro forte indício de que houve fraude neste domingo: segundo o governo, votaram 8 milhões de pessoas, o que dá 41,53% do eleitorado total (pouco menos de 20 milhões). Mesmo que fosse verdade, o governo atestou oficialmente que a maioria dos venezuelanos (os 58,5% restantes) são contra a Assembleia Constituinte.
Como é possível que, três meses depois, o governo obtenha votos suficientes para ficar com três quartos dos governos estaduais?
O problema, para a Venezuela, não é apenas a fraude, antes como agora. O problema maior é que a fraude dá certo: a oposição abandonou os protestos de rua, preferindo apostar na eleição para governadores, na ilusão de que a ditadura contrariaria Laura Chinchilla e admitiria derrota.
Está gritando fraude de novo, mas nada vai mudar. A oposição é impotente. O governo é incompetente, além de abusivo. Só resta aos venezuelanos fugir, como vêm fazendo em massa nos últimos anos.
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