Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Informação versus infecção
Uma nova polêmica envolve a Olimpíada do Rio, esquentando o debate sobre os riscos do vírus da zika. Ela despontou com a carta aberta enviada à OMS (Organização Mundial da Saúde) por 150 cientistas internacionais, na qual o grupo afirma que os Jogos, programados para agosto, deveriam ser transferidos ou adiados por causa do surto daquele vírus.
Por sua relevância, o tema deverá ser bastante explorado a partir de agora com a aproximação do evento, que deve atrair ao Rio cerca de 500 mil turistas e 10.500 atletas de mais de 200 países.
É uma verdadeira guerra que coloca frente a frente a informação e o temor da infecção. O Aedes aegypti, que provoca a dengue e a chikungunya, também é transmissor do vírus da zika.
Há especialistas que não veem necessidade, no momento, de adiamento dos Jogos, mesmo com o potencial risco de visitantes do Rio adquirirem o vírus e servirem na volta para casa como ponte para transmissão da doença.
Pesquisas sobre o vírus da zika continuam a todo vapor, com descobertas que o relacionam à possibilidade de microcefalia em fetos, por causa de uma maior vulnerabilidade de gestantes nos primeiros meses da gravidez, e morte ou paralisia em adultos.
A carta, por sua vez, aponta ainda que a transição de governo e os desacertos na política e na economia nacional dificultam o controle do surto.
Apesar da pressão provocada pelo documento, o Ministério da Saúde, a Prefeitura do Rio de Janeiro e o comitê organizador da Olimpíada de 2016 descartaram qualquer possibilidade adiamento da competição.
Para o ministério, o Brasil está preparado e realizará o grande evento. O principal argumento é que no período dos Jogos, com temperaturas mais frias, que inibem a presença dos mosquitos, ocorrerá queda na incidência de transmissão, como comprovam dados da dengue no país no ano passado.
A OMS respalda a posição pró-Olimpíada, sem quaisquer mudanças na programação.
O órgão informou que qualquer alteração nesse sentido não vai modificar significativamente o quadro internacional do vírus da zika, que já tem registros em cerca de 60 países.
Até agora o COI (Comitê Olímpico Internacional), o responsável pelos Jogos e por todos os milionários direitos do evento, ainda não se manifestou mais detalhadamente. Sua posição é que não há motivos para mudanças.
Mundo afora, atletas revelam receios em relação ao problema. Entre outros, o golfista australiano Marc Leishman, cuja mulher já foi contaminada pela doença, anunciou sua ausência.
Pau Gasol, da seleção de basquete da Espanha e do Chicago Bulls, da NBA, disse temer que o evento seja inesquecível "pelos motivos errados".
Em análise publicada nesta Folha, Reinaldo José Lopes afirma que a respeitabilidade do grupo de signatários da carta à OMS é difícil de contestar, bem como responder se o adiamento impediria avanço da doença.
Ao menos a carta serve de alerta para adoção imediata de medidas de proteção da população do Rio e demais localidades brasileiras em situação semelhante ou pior.
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