Com 88 mil alunos e em grave crise, USP escolhe novo reitor nesta segunda
A USP escolhe na segunda-feira (30) seu novo reitor em meio a uma crise financeira que já dura ao menos quatro anos e ainda não foi totalmente superada. A disputa chega na reta final com um cenário de divisão entre propostas de oposição e as de continuidade do trabalho da atual gestão da universidade.
São quatro chapas. Dos 2.097 eleitores habilitados, por fazerem parte dos órgãos centrais da instituição, como o conselho universitário, 85% são professores. Eles devem, portanto, definir a eleição.
No último dia 23, uma consulta interna com docentes, funcionários técnicos e alunos expôs a divisão. A chapa liderada pelo atual vice-reitor, Vahan Agopyan, representa uma continuidade natural da atual gestão, do reitor Marco Antonio Zago, e recebeu o maior volume de votos entre os professores.
Ao mesmo tempo, duas candidaturas de oposição (dos docentes Maria Arminda Nascimento Arruda e Ildo Sauer) somam, juntas, a maioria da preferência entre todos que votaram. O professor Ricardo Terra, que encabeça a quarta chapa, se posiciona também alinhado à atual gestão e teve a menor votação.
Apesar de indicar a divisão na universidade, a consulta não tem validade. A votação que vale ocorre na segunda. Após o resultado, uma lista tríplice é encaminhada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), que escolhe uma.
Com 88 mil alunos, a USP responde hoje por 22% da produção científica do Brasil, mesmo com oscilações recentes em rankings internacionais de reputação de universidades. O orçamento é de cerca de R$ 5 bilhões anuais, oriundos de uma parcela fixa de 5% do ICMS a cada ano.
"A questão financeira ainda será um problema tremendo. Há reivindicações justas, necessidade de melhorar constantemente a qualidade, e o dinheiro não é suficiente", avalia o professor da USP e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro.
Com gastos de folha de pagamento superando os repasses estaduais, a USP passou a consumir recursos de uma reserva que havia sido acumulada em anos anteriores.
RESERVAS
Essa poupança somava, em 2013, cerca de R$ 3 bilhões. A estimativa é que, até dezembro deste ano, essa reserva será de só R$ 96 milhões. O cenário foi provocado por uma combinação de aumento de gastos com servidores e a desaceleração da economia que, por consequência, reduziu os repasses do Estado.
O comprometimento atual com salários é de 98%. "A redução significativa dos gastos com pessoal e o aumento da arrecadação, projetado pelos analistas para os próximos meses, e já em curso, é uma garantia de cenário mais favorável", diz o atual reitor.
Além de recorrer à poupança, Zago lançou mão de uma série de iniciativas parareduzir os gastos. Congelou obras, contratações e fez dois planos de demissões voluntárias.
Sem reposição de funcionários e investimentos, creches e até a escola de aplicação da Faculdade de Educação da USP passaram por dificuldades. O HU (Hospital Universitário), na zona oeste da cidade, sofreu grave impacto e diminuiu suas atividades.
A atual gestão, e as chapas com maior proximidade, defendem que as ações salvaram a USP. Na oposição, a forma como elas foram feitas e uma falta de diálogo são problemas a serem resolvidos.
"O desequilíbrio financeiro foi superado. A completa recuperação depende da evolução das receitas estaduais e do ambiente econômico", diz o candidato Vahan Agopyan. "O importante é que a USP tem instrumentos de gestão aprovados para garantir a sua autonomia."
"A reserva nossa é mínima, mas por outro lado não podemos desestabilizar de novo", diz Ricardo Terra. "Estamos chegando a um certo equilíbrio", completa ele, que defende que a USP acabe com o modelo atual de eleição de reitor e adote sistema de comitê de busca para escolha.
Maria Arminda aposta em uma repactuação com o governo estadual para rever o a forma de repasses para a USP. "Ninguém vai pedir revisão da alíquota, não é isso. Trata-se de repensar a participação interna que foi diminuída na medida em que outras alíneas foram acrescentadas", diz ela, que ressalta que a universidade cresceu nos últimos 12 anos e o "bolo ficou menor".
Para o professor Ildo Sauer, a universidade precisa combater a burocracia "pesada e ineficiente". "A atual gestão esgotou sua capacidade de liderar a reunificação interna da USP e recuperar a própria autoestima", diz.
Além da questão orçamentária, o novo gestor terá de lidar com desafios que se arrastam por vários anos. Entre eles, combate à evasão, intensificação da internacionalização da USP e a modernização do ensino de graduação.
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