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Betty Milan: Sete a um

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E se nós tivéssemos perdido exemplarmente? Ou seja, mostrando que um futebol que quebra a vértebra do jogador quebra a espinha dorsal do time e se torna impossível?

O futebol é um jogo, e não uma guerra. Qualquer ato de violência deveria ser punido com a exclusão definitiva do jogador que viola as regras. Chute, mordida, pisada, em nome do quê? O jogo também existe para suspender a beligerância. Na Grécia, onde nasceram os jogos olímpicos, todas as hostilidades eram suspensas, instaurava-se a trégua. Qualquer ato que a violasse era considerado criminoso.

O jogador que entra em campo com medo de ser ferido, entra sem a liberdade que o jogo requer. Não é preciso ser psicólogo para saber disso. Um pouco de sensibilidade basta. A indiferença à violência é tão sádica em relação aos jogadores, que não podem desempenhar o seu papel, quanto em relação às crianças, que deveriam aprender com o jogo a respeitar limites.

A derrota do Brasil no jogo com a Alemanha não pode ser explicada só tecnicamente, ainda que todos tenham visto a superioridade do time alemão, que tem espírito de equipe e planeja as suas jogadas. Como explicar que o Brasil tenha sofrido a pior derrota de um anfitrião da Copa? A pior derrota da história da seleção brasileira? A maior goleada em semifinais de Copa? Antes deste fatídico jogo, apenas 3 semifinais haviam terminado em 6 a 1.

A identificação dos jogadores brasileiros com Neymar, que urrou de dor e saiu de campo estatelado na maca, explica a impossibilidade de jogar em que a seleção ficou. Neymar saiu como se estivesse morto, e o Brasil inteiro sangrou. Mais ainda os seus irmãos de alma, os colegas.

Há certamente muitas explicações técnicas para o que aconteceu, mas não é possível desconsiderar o desvio que o futebol sofreu, passando de jogo a combate quando ele só se justifica se, além de ser um divertimento, exaltar os valores da civilização, particularmente o do respeito à lei e às regras.

Ainda que os jogadores tenham nos deixado com uma imagem triste de nós mesmos, eles não podem ser culpabilizados pelo que aconteceu. São tão vítimas da violência quanto da crença na magia e da fé no salvador. Uma crença e uma fé que os alemães não têm, talvez por saberem aonde estas podem levar.

Curiosamente, ao contrário do Brasil, a Alemanha de hoje é um país vitorioso em todos os sentidos. Apesar da farsa, o nosso técnico fez bem em parabenizar os alemães. Já não me lembro do seu nome, porém, tenho certeza de que muitos vão lembrar, comparando a goleada que sofremos ao frango do Barbosa. Já há quem fale do apagão do Felipão.

BETTY MILAN, 69, é escritora e psicanalista, autora de "O País da Bola", entre outros

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