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Matemática
no Vestibular
(Clovis
Rogge)
A prova de Matemática foi considerada a grande
vilã do Vestibular 96 da Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Sozinha, ela eliminou 7.816
dos 41 mil candidatos. Foi o maior festival de zeros
da história recente dos vestibulares. A nota
média foi a menor dos últimos anos. De
2,02 em 92; 2,79 em 93; 2,27 em 94; 2,69 em 95, caiu
assustadoramente para 0,88 em 96.
Por
que isto aconteceu? Culpa dos vestibulandos? Culpa dos
professores? Ou culpa dos examinadores? Muitos aspectos
merecem ser considerados e refletidos. Embora a UFPR
tenha reduzido o conteúdo programático
retirando do programa itens considerados pesados como
limites, derivadas e cônicas, e introduzindo probabilidade,
item mais leve, o grau de dificuldade da prova de 96
foi muito superior aos dos anos anteriores. Ou seja,
a UFPR deliberadamente aumentou o seu padrão
de exigência da prova de Matemática para
a seleção de candidatos. Salvo algumas
exceções, o nível de conhecimentos
exigido dos candidatos foi muito superior ao de sua
preparação. Concordo plenamente que a
prova foi bem elaborada e inteligente. Exigiu raciocínio
e conhecimento conceitual dos assuntos, abolindo o uso
maceteado de fórmulas e questões padrão.
No aspecto seletivo teve a vantagem de contribuir para
esvaziar a tarefa dos professores encarregados de corrigir
as provas de Redação e a grande desvantagem
de desfazer impiedosamente sonhos e reforçar
a crença de que a prova de Matemática
é o bicho papão dos vestibulares. Sou
da opinião que, apesar disso, a Universidade
não deve ceder a críticas ou pressões
para baixar o nível das provas.
No
aspecto didático evidenciou claramente a precariedade
do ensino da Matemática no Brasil. Relatório
da UNESCO põe Moçambique em último
lugar no ensino básico da Matemática.
Penúltimo, o Brasil. Comparado com o ensino básico
de Matemática do Japão ou Coréia,
o ensino brasileiro é deplorável. Aliás,
estudos recentes do MEC indicam que o ensino de Matemática
nas escolas brasileiras foi o que pior desempenho teve
entre todas as matérias do currículo normal
nos últimos anos. Todavia, é notório
que todo o ensino brasileiro vai mal. Apenas o de Matemática
é que vai pior.
A
Matemática, escrava de todas as ciências,
é ferramenta imprescindível para a vida.
Nenhuma nação que aspire competir globalmente,
acompanhando a fantástica evolução
tecnológica contemporânea, poderá
fazê-lo sem a valorização do ensino,
e em especial, o ensino da Matemática. Ou a sociedade
brasileira se conscientiza da importância da educação
ou se auto condena à escuridão da ignorância
que produz miséria e injustiças sociais.
A autodeterminação da Nação
só se consolidará pela via do conhecimento.
Por isso urge repensar todo o ensino brasileiro.
Qualquer
criança cuja capacidade mental lhe permita aprender
a ler e escrever é também capaz de aprender
Matemática, pois o seu aprendizado independe
de pendores, habilidades ou talentos especiais. Exige
sim disposição para trabalhar e orientação
adequada. Apenas isso. É muito mais fácil
para uma criança ver televisão quatro
horas por dia do que estudar firme Matemática
por apenas vinte minutos. Assim, não é
a Matemática que é difícil. O que
se observa é a existência de pouca dedicação
aos estudos por parte dos alunos, ausência de
cobranças e incentivos dos pais e especial despreparo
dos professores da disciplina. Essa combinação
maligna de fatores é catastrófica. O conhecimento
de Matemática é, por natureza, encadeado
e cumulativo. O aluno não pode escolher em qual
estágio de conhecimento quer entrar. É
como a construção de um edifício
onde não se começa pela cobertura. Daí
a fundamental importância do ensino básico.
A
perseverança, a dedicação e a ordem
no trabalho são qualidades indispensáveis
para o estudo da Matemática. Aprende-se Matemática
pelo esforço honesto e trabalho persistente na
resolução de exercícios. Resolver
problemas não por imposição, mas
por prazer. Não por repetições
inconseqüentes, mas por questionamentos. E, principalmente,
por envolvimento com o que se está fazendo, eliminando
crenças e prejulgamentos de dificuldades inexistentes,
estes os verdadeiros inimigos que devem ser superados.
Uma constatação significativa reside no
fato de que bons alunos em Matemática, via de
regra, são bons também nas demais disciplinas.
A recíproca nem sempre é verdadeira. Isto
é sintomático. O conhecimento e o estudo
da Matemática abrem o raciocínio, desenvolvem
a capacidade de pensamento independente e espírito
crítico, melhoram a expressão e a sensibilidade.
Ajudam a viver!
(Clovis
Rogge é auditor fiscal da Receita Estadual
e professor de Matemática do Curso Decisivo de
Curitiba.) rogge@pr.gov.br
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