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 Dia 26.02.03

     

 


Matemática no Vestibular

(Clovis Rogge)

A prova de Matemática foi considerada a grande vilã do Vestibular 96 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Sozinha, ela eliminou 7.816 dos 41 mil candidatos. Foi o maior festival de zeros da história recente dos vestibulares. A nota média foi a menor dos últimos anos. De 2,02 em 92; 2,79 em 93; 2,27 em 94; 2,69 em 95, caiu assustadoramente para 0,88 em 96.

Por que isto aconteceu? Culpa dos vestibulandos? Culpa dos professores? Ou culpa dos examinadores? Muitos aspectos merecem ser considerados e refletidos. Embora a UFPR tenha reduzido o conteúdo programático retirando do programa itens considerados pesados como limites, derivadas e cônicas, e introduzindo probabilidade, item mais leve, o grau de dificuldade da prova de 96 foi muito superior aos dos anos anteriores. Ou seja, a UFPR deliberadamente aumentou o seu padrão de exigência da prova de Matemática para a seleção de candidatos. Salvo algumas exceções, o nível de conhecimentos exigido dos candidatos foi muito superior ao de sua preparação. Concordo plenamente que a prova foi bem elaborada e inteligente. Exigiu raciocínio e conhecimento conceitual dos assuntos, abolindo o uso maceteado de fórmulas e questões padrão. No aspecto seletivo teve a vantagem de contribuir para esvaziar a tarefa dos professores encarregados de corrigir as provas de Redação e a grande desvantagem de desfazer impiedosamente sonhos e reforçar a crença de que a prova de Matemática é o bicho papão dos vestibulares. Sou da opinião que, apesar disso, a Universidade não deve ceder a críticas ou pressões para baixar o nível das provas.

No aspecto didático evidenciou claramente a precariedade do ensino da Matemática no Brasil. Relatório da UNESCO põe Moçambique em último lugar no ensino básico da Matemática. Penúltimo, o Brasil. Comparado com o ensino básico de Matemática do Japão ou Coréia, o ensino brasileiro é deplorável. Aliás, estudos recentes do MEC indicam que o ensino de Matemática nas escolas brasileiras foi o que pior desempenho teve entre todas as matérias do currículo normal nos últimos anos. Todavia, é notório que todo o ensino brasileiro vai mal. Apenas o de Matemática é que vai pior.

A Matemática, escrava de todas as ciências, é ferramenta imprescindível para a vida. Nenhuma nação que aspire competir globalmente, acompanhando a fantástica evolução tecnológica contemporânea, poderá fazê-lo sem a valorização do ensino, e em especial, o ensino da Matemática. Ou a sociedade brasileira se conscientiza da importância da educação ou se auto condena à escuridão da ignorância que produz miséria e injustiças sociais. A autodeterminação da Nação só se consolidará pela via do conhecimento. Por isso urge repensar todo o ensino brasileiro.

Qualquer criança cuja capacidade mental lhe permita aprender a ler e escrever é também capaz de aprender Matemática, pois o seu aprendizado independe de pendores, habilidades ou talentos especiais. Exige sim disposição para trabalhar e orientação adequada. Apenas isso. É muito mais fácil para uma criança ver televisão quatro horas por dia do que estudar firme Matemática por apenas vinte minutos. Assim, não é a Matemática que é difícil. O que se observa é a existência de pouca dedicação aos estudos por parte dos alunos, ausência de cobranças e incentivos dos pais e especial despreparo dos professores da disciplina. Essa combinação maligna de fatores é catastrófica. O conhecimento de Matemática é, por natureza, encadeado e cumulativo. O aluno não pode escolher em qual estágio de conhecimento quer entrar. É como a construção de um edifício onde não se começa pela cobertura. Daí a fundamental importância do ensino básico.

A perseverança, a dedicação e a ordem no trabalho são qualidades indispensáveis para o estudo da Matemática. Aprende-se Matemática pelo esforço honesto e trabalho persistente na resolução de exercícios. Resolver problemas não por imposição, mas por prazer. Não por repetições inconseqüentes, mas por questionamentos. E, principalmente, por envolvimento com o que se está fazendo, eliminando crenças e prejulgamentos de dificuldades inexistentes, estes os verdadeiros inimigos que devem ser superados. Uma constatação significativa reside no fato de que bons alunos em Matemática, via de regra, são bons também nas demais disciplinas. A recíproca nem sempre é verdadeira. Isto é sintomático. O conhecimento e o estudo da Matemática abrem o raciocínio, desenvolvem a capacidade de pensamento independente e espírito crítico, melhoram a expressão e a sensibilidade. Ajudam a viver!

(Clovis Rogge é auditor fiscal da Receita Estadual e professor de Matemática do Curso Decisivo de Curitiba.) rogge@pr.gov.br

 

 
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