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Reprovação
agride os direitos dos estudantes, defende Apeoesp
O
debate sobre o programa de progressão continuada
na rede estadual de ensino, abordado por Gilberto Dimenstein
em sua coluna, é oportuno e necessário.
Afinal, vários candidatos a governador - não
apenas Paulo Maluf - têm se pronunciado sobre
o tema.
Nós,
professores associados da APEOESP - Sindicato dos Professores
do Ensino Oficial do Estado de São Paulo -, sabemos
que o que existe hoje nas escolas estaduais não
pode ser chamado de progressão continuada. É
simplesmente aprovação automática
dos alunos, sem uma correta verificação
do aprendizado e, portanto, sem prepará-los para
a vida escolar, profissional e social.
Esta
avaliação dos professores não tem
nada a ver com a defesa da repetência. Acreditamos
que o ultrapassado modelo de avaliação
escolar preconizado por Paulo Maluf reforça o
autoritarismo do ambiente escolar, onde ao professor
caberia a tarefa de impor e incentivar a exclusão,
através de estigmas como "maus" e "bons"
estudantes.
Sob
esta perspectiva, manter um sistema de avaliação
que exija que o professor reprove o aluno, de fato,
agride seus direitos e não ajuda no desenvolvimento
econômico e social da maioria dos estudantes que,
hoje, está na escola pública.
Repetir
em massa não ajuda a educação.
Tem razão Dimenstein. Mas, e aprovar em massa,
sem que muitos alunos tenham adquirido conhecimentos
básicos, ajuda?
A
questão é mais complexa. Afinal, por que
os alunos que podem freqüentar algumas escolas
privadas, de boa qualidade, têm à disposição
o máximo de recursos para aprender e os das escolas
estaduais precisam ser "empurrados" para as
séries seguintes, mesmo sem aprender?
Qualquer
processo inovador como a progressão continuada,
em primeiro lugar, não pode ser simplesmente
decidido e implementado de cima para baixo, sem que
haja preparação dos professores e demais
profissionais da Educação e mesmo dos
alunos e suas famílias. O ideal seria uma implantação
gradativa do sistema de ciclos, debatida nas unidades
escolares através dos conselhos de escola.
Em
segundo lugar, a progressão continuada, para
que não se torne simples aprovação
em massa, tem que ser acompanhada, ou precedida, de
alguns fatores inexistentes hoje na rede estadual. Preocupado
apenas com estatísticas, o governo não
investe em infra-estrutura para a implementação
do sistema de ciclos, que exige acompanhamento pedagógico
de cada aluno e, principalmente, daqueles que encontram
dificuldade em sala de aula. Este reforço impediria
que as deficiências se acumulassem, como bem disse
Dimenstein.
Outras
medidas são imprescindíveis; por exemplo:
· Classes com, no máximo, 35 alunos. Hoje,
existem classes com até 50 alunos!
· Salas-ambiente, adequadamente equipadas. A
maioria das salas que existe atualmente não conta
com equipamento adequado.
· Programa de formação continuada,
em serviço, para os professores, no próprio
local de trabalho durante o Horário de Trabalho
Coletivo Pedagógico, cuja duração
precisa ser ampliada.
· Proposta curricular interdisciplinar, com a
abordagem de temas transversais.
· Redução da jornada de trabalho.
· E, é claro, salário digno, para
evitar que o professor seja obrigado a acumular dupla
e tripla jornada.
Nossas
propostas comprovam que, como escreve Dimenstein, "trabalhar
bem significa classes com poucos alunos, professores
que utilizem um currículo conectado à
realidade, muita experimentação nos laboratórios,
leitura em bibliotecas informatizadas".
Esta
é nossa reivindicação e, por ela,
lutamos!
Os
erros do governo atual, na implementação
do que chama de progressão continuada, fornecem
material de campanha para políticos, como Paulo
Salim Maluf, que tanto mal causaram não apenas
à Educação, mas a todos os serviços
básicos, que deveriam ser públicos e ter
um padrão de excelência garantido pelo
Estado.
Carlos
Ramiro de Castro
Presidente da Apeoesp - Sindicato dos Professores
do Ensino Oficial de São Paulo
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