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22/10/2001
-
16h05
da Revista da Folha
Jornais e revistas não chegam lá; dos 60 alunos da sala de aula, apenas quatro têm televisão em casa.
Nenhum acessa a internet. Todos frequentam a escola apenas uma vez por semana, porque ajudam as famílias no trabalho rural. Com esses antecedentes desanimadores, desenvolver o gosto pela leitura em alunos de Rolim de Moura, interior de Rondônia (cerca de 600 quilômetros da capital, Porto Velho), é tarefa das mais ingratas para o mais bem preparado professor.
Quem ajudou a mudar esse cenário foi Ivone de Moraes Kerber, 35, professora da Escola Pólo Municipal Francisca Duran. Lá, ela é mais conhecida como a "promotora" da "Festa da Leitura".
"Eles tinham pavor de ler, achavam que era o fim do mundo. Eu me desdobrei para achar um jeitinho diferente para convencê-los do contrário, porque o método tradicional os afasta mais ainda", conta.
O "jeitinho" começou com pedidos de doação de livros, jornais, periódicos e revistas. Até bula de remédio entrou na dança. "Nossa realidade não é de computador, não temos bancas de jornal. Então, angariei doações e montei uma biblioteca móvel", diz Ivone, que se orgulha de sua coleção de cerca de 50 títulos.
A "festa" é a reunião mensal que ela faz fora da sala de aula - "em qualquer lugar com muito verde". Ivone espalha os volumes no chão, como se fosse uma feira. Cada um escolhe o que quer, há apresentações musicais e relatos de gente que fala sobre o prazer de ler. "Eles gostaram tanto que alguns já estão trazendo pais e irmãos para o encontro", conta ela.
A classe abriga alunos entre 11 e 40 anos e incorpora quatro séries (5ª à 8ª) numa só. "O resultado está surpreendendo todo mundo. Eles lêem, escrevem, já conseguem organizar idéias numa dissertação. Até discutem assuntos que não têm nada a ver com a nossa realidade", ela conta. Apagão, rebeliões em presídios de SP e até os atentados terroristas aos Estados Unidos entraram na vida dos estudantes, graças aos jornais e revistas da "festa" de Ivone.
"Outro dia, eles estavam desenhando as torres (do World Trade Center) e o Bin Laden", lembra. "É bom, porque é preciso ler o mundo, e não apenas a realidade deles."
Ivone nasceu em Guaraniaçu, Paraná, e mudou-se para Rolim de Moura, extremo oposto do país, aos três anos, quando seu pai migrou em busca de terra. Precoce, aprendeu a ler com os mesmos três anos, no colo da avó. Fã de Graciliano Ramos, diz que é tão apaixonada por leitura que prefere livros a flores no Dia dos Namorados.
Quando um amigo da professora foi para Porto Velho, os alunos fizeram uma "vaquinha" para que ele comprasse livros em sebos da capital. Ele voltou com 68. O acervo é de todos. "Eles estão fazendo um intercâmbio de livros. É um barato."
Quem quiser contribuir com a biblioteca de Ivone pode enviar livros, revistas ou publicações em geral para o endereço av. Manaus, 4.325, centro, Rolim de Moura, CEP 78987-000, Rondônia.
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DÉBORA YURIda Revista da Folha
Jornais e revistas não chegam lá; dos 60 alunos da sala de aula, apenas quatro têm televisão em casa.
Nenhum acessa a internet. Todos frequentam a escola apenas uma vez por semana, porque ajudam as famílias no trabalho rural. Com esses antecedentes desanimadores, desenvolver o gosto pela leitura em alunos de Rolim de Moura, interior de Rondônia (cerca de 600 quilômetros da capital, Porto Velho), é tarefa das mais ingratas para o mais bem preparado professor.
Quem ajudou a mudar esse cenário foi Ivone de Moraes Kerber, 35, professora da Escola Pólo Municipal Francisca Duran. Lá, ela é mais conhecida como a "promotora" da "Festa da Leitura".
"Eles tinham pavor de ler, achavam que era o fim do mundo. Eu me desdobrei para achar um jeitinho diferente para convencê-los do contrário, porque o método tradicional os afasta mais ainda", conta.
O "jeitinho" começou com pedidos de doação de livros, jornais, periódicos e revistas. Até bula de remédio entrou na dança. "Nossa realidade não é de computador, não temos bancas de jornal. Então, angariei doações e montei uma biblioteca móvel", diz Ivone, que se orgulha de sua coleção de cerca de 50 títulos.
A "festa" é a reunião mensal que ela faz fora da sala de aula - "em qualquer lugar com muito verde". Ivone espalha os volumes no chão, como se fosse uma feira. Cada um escolhe o que quer, há apresentações musicais e relatos de gente que fala sobre o prazer de ler. "Eles gostaram tanto que alguns já estão trazendo pais e irmãos para o encontro", conta ela.
A classe abriga alunos entre 11 e 40 anos e incorpora quatro séries (5ª à 8ª) numa só. "O resultado está surpreendendo todo mundo. Eles lêem, escrevem, já conseguem organizar idéias numa dissertação. Até discutem assuntos que não têm nada a ver com a nossa realidade", ela conta. Apagão, rebeliões em presídios de SP e até os atentados terroristas aos Estados Unidos entraram na vida dos estudantes, graças aos jornais e revistas da "festa" de Ivone.
"Outro dia, eles estavam desenhando as torres (do World Trade Center) e o Bin Laden", lembra. "É bom, porque é preciso ler o mundo, e não apenas a realidade deles."
Ivone nasceu em Guaraniaçu, Paraná, e mudou-se para Rolim de Moura, extremo oposto do país, aos três anos, quando seu pai migrou em busca de terra. Precoce, aprendeu a ler com os mesmos três anos, no colo da avó. Fã de Graciliano Ramos, diz que é tão apaixonada por leitura que prefere livros a flores no Dia dos Namorados.
Quando um amigo da professora foi para Porto Velho, os alunos fizeram uma "vaquinha" para que ele comprasse livros em sebos da capital. Ele voltou com 68. O acervo é de todos. "Eles estão fazendo um intercâmbio de livros. É um barato."
Quem quiser contribuir com a biblioteca de Ivone pode enviar livros, revistas ou publicações em geral para o endereço av. Manaus, 4.325, centro, Rolim de Moura, CEP 78987-000, Rondônia.
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