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05/04/2007 - 12h42

Britânicos libertados chegam a Londres; Blair nega acordo com Irã

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da Folha Online

Mesmo após a chegada ao Reino Unido, na manhã desta quinta-feira, dos 15 militares britânicos que ficaram 13 dias detidos no Irã, os questionamentos sobre a surpreendente libertação do grupo pelo presidente iraniano ontem continuam sem resposta.

Enquanto o Irã afirma que seus "objetivos foram alcançados" e que o premiê britânico, Tony Blair, enviou uma carta de desculpas ao governo persa antes da libertação, o governo em Londres reafirmou hoje que não houve nenhum tipo de negociação prévia para o fim do impasse, que chegou a provocar o corte das relações entre os dois países.

Reuters
Britânicos libertados pelo Irã chegam ao aeroporto de Heathrow, no Reino Unido
Britânicos libertados pelo Irã chegam ao aeroporto de Heathrow, no Reino Unido
A aeronave que transportava o grupo de 14 homens e uma mulher aterrissou no aeroporto internacional de Heathrow às 11h02 (7h02 de Brasília). Na chegada, o grupo manifestou alívio e aplaudiu a aterrissagem, segundo jornalistas presentes no avião.

Os marinheiros e fuzileiros navais britânicos foram transferidos para helicópteros militares e levados para uma base militar em Chivenor, Devon, ao sudoeste de Londres, para um encontro particular com familiares. Eles também deverão prestar depoimentos para as Forças Armadas britânicas na base sobre a detenção.

Os 15 militares foram detidos no dia 23 de março durante uma operação no golfo Pérsico. Na controvérsia, o Irã acusou o grupo de marinheiros e marines britânicos de invadir suas águas. O Reino Unido negou a invasão, dizendo que os militares faziam uma inspeção de rotina em águas iraquianas na região do canal de Shatt al Arab quando foram capturados. A exata localização do grupo no momento da detenção é mais uma pergunta que ainda não tem resposta definitiva.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, exigiu em várias ocasiões durante os 13 dias de impasse que o Reino Unido admitisse a violação de suas águas, o que Blair --ao menos oficialmente-- se recusou a fazer. A libertação de ontem foi uma surpresa para os britânicos, que haviam afirmado apenas um dia antes que não esperavam uma solução rápida para a crise.

Agora, o Irã afirma que o premiê britânico enviou uma carta com um pedido de desculpas pela invasão antes da libertação dos militares pelo governo.

Em Londres, Blair afirmou categoricamente que não houve negociação para a libertação do grupo. "Eles foram libertados sem acordo, sem negociação alguma, sem nenhum convênio de nenhuma natureza", disse o premiê. "Quero ser muito, muito claro: sem transação, sem negociação", insistiu.

Ele também expressou sua satisfação com a "abertura de novas vias de comunicação com o regime iraniano".

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O líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou a "anistia" de seu país aos britânicos em uma entrevista coletiva realizada na última quarta-feira. "Os 15 marinheiros receberam nosso perdão, e oferecemos sua liberdade como um presente ao povo britânico", disse.

O anúncio da libertação surpreendeu os britânicos. Na última terça-feira (3), a chanceler do Reino Unido, Margaret Beckett, havia afirmado que o impasse poderia levar ainda algum tempo para ser resolvido. Após a libertação, o premiê Tony Blair negou que tivesse negociado com os iranianos.

"Desde o início adotamos uma postura comedida, firme mas tranqüila, sem negociar, mas sem confrontações", disse o premiê. Ele insistiu que o fim do impasse trazia um "alívio profundo" para o Reino Unido.

O embaixador britânico na ONU (Organização das Nações Unidas), Emyr Jones Parry, também negou que seu país negociou bilateralmente a libertação dos 15 marinheiros e fuzileiros navais por Teerã. Em uma entrevista coletiva na organização realizada nesta quarta-feira, Parry descartou a existência de negociações prévias e disse que ocorreram apenas "discussões de embaixadores".

Em Londres, Blair agradeceu a todos que participaram de alguma forma na libertação --a Europa, o Conselho de Segurança da ONU e também seus "aliados na região". A ONU, assim como países europeus e do Oriente Médio (especialmente a Síria e o Qatar), pressionaram o Irã a libertarem os britânicos durante a detenção.

Gratidão britânica

Após anunciar oficialmente a libertação, na manhã desta quarta-feira, o presidente iraniano reuniu-se com o grupo no palácio presidencial. Imagens exibidas pela TV estatal iraniana mostraram Ahmadinejad cumprimentando os militares e conversando com o grupo com a ajuda de intérpretes. Na gravação, é possível ouvir um dos 15 militares dizer em inglês ao presidente: "Estamos gratos pelo seu perdão".

Durante a entrevista coletiva, Ahmadinejad deu medalhas de condecoração aos guardas da costa iraniana que interceptaram a embarcação britânica, reiterando que os militares estavam em águas territoriais do Irã no momento em que foram capturados.

"Em nome do grande povo iraniano, quero agradecer à Guarda Costeira, que corajosamente defendeu nossas águas territoriais e deteve aqueles que violaram nossa fronteira", disse o líder do Irã. Em seguida, interrompeu o discurso e deu medalhas a três guardas.

Ahmadinejad criticou o destacamento da marinheira Faye Turney, 26, a única mulher do grupo, lembrando que ela é mãe de crianças pequenas. "Como se justifica que uma mãe fique fora de casa, longe de seus filhos? Não se respeita os valores familiares no Ocidente?".

Reação inicial

O governo do Reino Unido elogiou a decisão iraniana. "Cumprimentamos o que o Irã disse sobre a libertação dos 15 militares", disse um porta-voz de Downing Street, casa oficial do premiê britânico.

O presidente dos EUA, George W. Bush elogiou a decisão. "Assim como o premiê [Tony] Blair, o presidente Bush saúda a notícia", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.

Bush havia afirmado anteriormente que a captura dos 15 marinheiros britânicos pelo Irã era um "comportamento inaceitável", e que se opôs a qualquer concessão em troca da libertação.

Após 12 dias de crise, Irã e Reino Unido já davam sinais de que iriam contornar a questão por meio da diplomacia. Nesta quarta-feira, Naigil Shinvald, conselheiro do premiê britânico, Tony Blair, conversou por telefone com Ali Larijani, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, para discutir a questão, segundo a agência oficial Irna.

Depois de cortar relações com o Irã, o Reino Unido só permitia discussões sobre a detenção dos marinheiros e fuzileiros navais britânicos detidos no país persa.

Outra captura

Irã e Reino Unido viveram um incidente similar em 2004, quando o regime de Teerã manteve detidos durante três dias oito militares britânicos acusados de entrarem de forma ilegal em águas territoriais do Irã no golfo Pérsico. Na época, o Reino Unido também negou a invasão.

A tensão teve início na mesma semana em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra Teerã por sua insistência em manter seu programa nuclear.

Após a libertação, a rede de TV Sky News afirmou que a Síria e o Qatar desempenharam papéis importantes para a resolução da controvérsia. A Embaixada síria em Londres confirmou o envolvimento de Damasco no fim da crise entre Irã e Reino Unido.

Anteriormente, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid al Moallem, afirmou a um jornal do Kuait que seu país mediou o impasse entre o Reino Unido e o Irã.

"A solução deve ser diplomática, e a Síria agora negocia esse processo entre os dois países", afirmou Moallem ao jornal "Al Anba", em entrevista em Damasco. "Nós torcemos por uma solução satisfatória, que leve à resolução da crise em torno da prisão dos britânicos".

O ministro não detalhou que tipo de medida seu país tomou para tentar dar fim à controvérsia.

Entre as nações árabes, a Síria é o mais próximo aliado do Irã, que é um país persa. Os dois países estreitaram ainda mais as relações quando passaram a ser acusados pelos Estados Unidos e pela União Européia (UE) de interferirem nos conflitos no Iraque e no Líbano.

Com agências internacionais

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