O aeroporto de Heathrow, na última quinta-feira, foi palco
da mais tensa reunião entre dirigentes da F-1 e donos de equipe
dos últimos tempos.
Pouco antes do encontro, que serviria para a eterna discussão
sobre ultrapassagens e doping eletrônico nos carros, o presidente
da FIA, Max Mosley, ficou sabendo por meio da "Autosport"
que chegou às bancas naquele dia que um verdadeiro golpe de
Estado estava em curso na categoria.
Segundo a reportagem da revista inglesa, Ron Dennis, Eddie
Jordan e Sir Frank Williams eram os cabeças do movimento.
¦Bernie Ecclestone, também citado na reportagem, abriu o encontro
e imediatamente passou a palavra a Mosley. O advogado inglês,
por sua vez, foi direto ao ponto e interpelou os chefes de
equipe sobre o publicado.
No final das contas, a pizza de praxe foi providenciada e
todos deixaram o encontro com o sorriso amarelo entre os dentes.
Ecclestone foi o único a falar e admitiu algumas diferenças
entre os times e a FIA. Mas garantiu que o amigo pessoal é
e continuará sendo responsável pelas regras do esporte a motor,
seu papel como presidente da entidade.
O que Ecclestone não disse é que com os direitos da F-1 assegurados
pelos próximos cem anos, a holding "controlada" por sua mulher
é a dona da categoria. E que, nesse cenário, uma entidade
como a FIA se torna dispensável, para não dizer incômoda.
Ecclestone representa os times. E se ele é quem manda no troço,
qual seria o motivo para aturar Mosley e seus regulamentos
que flutuam conforme a ocasião? Sem falar nas invenções estapafúrdias,
como os sulcos nos pneus.
O motivo se chama Ferrari. E não é por mera coincidência que
os três principais jacobinos do episódio sejam britânicos.
Não é por coincidência também que há pouco mais de um mês
o presidente da Ferrari, Luca Montezemolo, defendeu, em entrevista
à "F1 Racing", o distanciamento dos chefes de equipe do livro
de regras. E com um argumento bastante razoável, o exemplo
negativo da Indy, onde quem manda são os donos de equipe,
com o medonho resultado que qualquer um pode constatar pela
TV.
A disputa entre ingleses e italianos dentro da F-1 é histórica,
mas alcança agora níveis insuportáveis. Por trás dela, não
se encontram apenas picuinhas em torno de favorecimentos ao
time italiano. O problema principal está na divisão do bolo
gerado pelos direitos de TV. Boa parte das fatias é abocanhada
pela Ferrari, considerada por Mosley o grande e único atrativo
da F-1 atual.
Há alguns anos, quando da renovação do Pacto de Concórdia,
a discussão também estava em alta, e a saída foi colocar fermento
no tal bolo, desviando o ganho com as TVs direto para os times.
Em troca, Ecclestone recebeu um cheque em branco, os direitos
de comercialização da categoria, que lhe permitiram, por exemplo,
fechar o contrato centenário.
Outra solução como essa, claro, não surgirá. E, se o impasse
continuar, o futuro da F-1 é incerto, já que a Ferrari não
vai aceitar receber menos do que pensa merecer.
Dizem que Ecclestone é um gênio. Antes de se aposentar, terá
de provar sê-lo mais uma vez.
NOTAS
Hakkinen
O finlandês, com sua manobra espetacular em Spa, não obteve
apenas a vitória no GP da Bélgica, mas respaldo para tornar
um eventual tricampeonato consecutivo algo além de um privilégio
para quem conduz o melhor carro da F-1 atual. Claro, seria
um exagero compará-lo a Fangio. Hakkinen, porém, conseguiu
o que muitos duvidavam no início desta temporada, inclusive
esta coluna, que é deixar de ser um absurdo histórico para
se tornar um genuíno candidato a recorde. Enquanto isso, a
Ferrari se perde em desculpas, vislumbrando outro ano de fila.
Prioridade
A Ford anunciou ontem contrato de três anos com a Pirelli
para o Mundial de Rali. Este ano, o time, que lidera entre
os construtores da modalidade, usa Michelin, que estréia na
F-1 no ano que vem.
E-mail: mariante@uol.com.br
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