Antonio Delfim Netto

1.mai.1928 -

 

Ministro da Fazenda


Antonio Delfim Netto, economista formado pela USP em 1951, participou dos governos dos generais Castello Branco (1964-1967), no Conselho Consultivo de Planejamento (Consplan); Costa e Silva (1967-1969) e Medici (1969-1973), como ministro da Fazenda; e Figueiredo (1979-1984), como ministro da Agricultura e secretário do Planejamento, controlando, a partir da primeira metade de 1979, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central.

 

No governo entre 1967-1973, com a expansão do comércio e a intensificação dos fluxos financeiros mundiais, adotou política de aumentar o gasto público e incentivar as empresas privadas e multinacionais a investirem na indústria – foram US$ 2872 milhões em investimento estrangeiro direto no período - e na infra-estrutura do país, reduzindo juros e ampliando crédito.

 

O resultado, considerando o período de 1968 a 1973, foi crescimento do PIB (11,1%), queda da inflação (19,2%) e aumento do poder aquisitivo do empresariado e da classe média para consumir bens duráveis, em especial eletrodomésticos e automóveis.

 

O período da sua gestão foi chamado “milagre econômico”, pela expansão dos negócios financeiros, construção de obras faraônicas (“projetos de impacto”), alguns de utilidade controversa, como a Rodovia Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, a empresa binacional de Itaipu e a Ferrovia do Aço – abandonada -, e pela propaganda ufanista do governo, com o uso da conquista do tri da Copa do Mundo de 1970 como mote para slogans como “ninguém mais segura este país”.

 

O governo contraía empréstimos de bancos privados estrangeiros para contornar os déficits da balança de pagamentos, causados pelo valor das exportações de manufaturados ser menor que o da importação de bens de capital, o que praticamente triplicou a dívida externa brasileira de 1967 a 1972, quando ficou em US$ 9,521 milhões.

Delfim afirmava querer “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”, mas os benefícios econômicos não atingiram pessoas de baixa renda, que tiveram seus salários reduzidos e sua participação na renda nacional decrescida de mais de 1/6 em 1960 para menos de 1/7 em 1970.

 

Ao sair do cargo no governo de Ernesto Geisel (1974-1979), exerceu a função de embaixador brasileiro na França de 1975 a 1978.

 

Na sua passagem pelo governo Figueiredo, quando assumiu a Seplan (Secretaria de Planejamento) de 1979 a 1985, após ser ministro da Agricultura por cinco meses, a situação econômica internacional apresentava redução no ritmo de crescimento, pela elevação dos preços do petróleo em 1973, o que limitava a capacidade de importar da economia brasileira e reduzia o financiamento externo – Delfim viajou em outubro de 1980 aos Estados Unidos, Europa e Japão, mas não obteve os empréstimos solicitados aos bancos.

 

Delfim optou por desaquecer o ritmo das atividades econômicas - o crescimento do PIB caiu para -4% (1981) e 5% (1984) -, com a diminuição dos gastos públicos, limitação da expansão do crédito (em 5%, em 1981) e aumento dos juros. Com a elevação da taxa de juros no mercado internacional, a dívida externa atingiu US$ 54 bilhões em 1980.

 

Apesar dos déficits no orçamento e no balanço de pagamento, Delfim não eliminou subsídios fiscais de incentivo à agricultura e às exportações de manufaturados – criou um novo imposto sobre essas operações - e, ao eliminar o tributo sobre importações, decretou uma desvalorização cambial de 30% em 1979. A inflação esteve em 53,9%, entre 1974 e 1980, e em 157,5%, entre 1981 e 1984, o que agravou o quadro de miséria e a credibilidade do governo, criticado por partidos de oposição, sindicatos, empresários e parlamentares governistas, em manifestações onde proclamavam “estamos a fim da cabeça do Delfim”.

 

Em 1983, quando a dívida externa estava em US$ 90 bilhões e a interna em aproximadamente 31 trilhões de cruzeiros, Delfim conseguiu um “empréstimo Jumbo” com o FMI, de US$ 6,5 bilhões, metade usado para pagar dívidas bancárias e comerciais no exterior.

 

Neste ano, Delfim foi convocado por seu partido, o PDS (Partido Democrático Social), sucessor do Arena, para explicar ao Congresso o tamanho da dívida externa.

 

Além disso, foi acusado por Raimundo Saraiva Martins, ex-adido militar, e Adir Fiúza de Castro, ex-chefe do Doi-Codi, de ter recebido comissões para facilitar negócios de empresas francesas quando era embaixador do Brasil em Paris, mas a denúncia não foi confirmada na CPI da Dívida Externa; e de autorizar empréstimos, por meio da Caixa Econômica Federal, a Assis Paim Cunha, dono da corretora Coroa e da rede de eletrodomésticos Brastel, para comprar a corretora Laureano, em dificuldade, ligada a Golbery do Couto e Silva. Delfim foi absolvido do caso pelo STF em 1994.

 

Em 1985, fora do cargo, Delfim coordenou a campanha vitoriosa do ex-prefeito Jânio Quadros à prefeitura de São Paulo.

 

Um ano depois, foi eleito deputado pelo PDS com mais de 76 mil votos e participou da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) em 1986, alinhado ao grupo suprapartidário auto-denominado Centrão.

 

Votou a favor da pena de morte, do aborto, da legalização do jogo do bicho e da anistia aos micro e pequenos empresários; e contra o rompimento de relações diplomáticas com países de política de discriminação racial, a estabilidade no emprego e a criação de um fundo de apoio à reforma agrária.

 

Foi reeleito deputado federal em 1990 e em 1994 pelo PPR.

 

Defendia, desde o governo de Itamar Franco (1992-1994), a política que chamou de “privatizações selvagens”, de pouca intervenção do Estado, e de abertura econômica a empresas estrangeiras.

 

Hoje, escreve para o jornal Folha de S.Paulo, as revistas "Carta Capital" e "Valor" e o site Glamurama e dá aulas como professor catedrático da FEA-USP.

 

 

 

 

 

Ouça o áudio

 

 

Senhor presidente, senhores membros do Conselho. Eu creio que a revolução veio não apenas para restabelecer a moralidade administrativa neste país, mas, principalmente, para criar as condições que permitissem uma modificação de estruturas que facilitassem o desenvolvimento econômico. Este é realmente o objetivo básico. Creio que a revolução, muito cedo, meteu-se numa camisa-de-força que a impede, realmente, de realizar esses objetivos.

 

Mais do que isso, creio que, institucionalizando-se tão cedo, possibilitou toda a sorte de contestação que terminou agora com este episódio que acabamos de assistir [sic]. Realmente, esse episódio é simplesmente o sinal mais marcante da contestação global do processo revolucionário. É por isso, senhor presidente, que eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente. Eu acredito que deveríamos atentar e deveríamos dar a Vossa Excelência, ao presidente da República, a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais, que são absolutamente necessárias para que este país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez. Eram essas as considerações que eu gostaria de fazer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delfim Netto profere seu voto com concisão e objetividade na exatidão de um minuto e meio. Sua fala é baixa, monocórdia e apressada, e soa firme, às vezes assustada. Rateia quando completa as frases que se seguem depois de “creio”, usada quatro vezes, e “acredito”, uma vez, o que indica um ato de fé, de intuição, como se fosse um profeta. Confia que a concentração de poder no presidente Costa e Silva, que trata com deferência, permitirá maior “desenvolvimento”, citada duas vezes, na economia, mas não entra em detalhes. O momento mais sinistro do discurso acontece quando afirma, “creio que ela [proposição do AI-5] não é suficiente”, que faz estremecer com a ambigüidade da sentença.