Vai um gelinho aí?
Produtores apostam em vinhos para se tomar com gelo, mas há quem discorde da moda; veja a opinião de especialistas
Entre os pecadilhos condenados por especialistas em vinhos figura o hábito de resfriar a bebida com pedras de gelo dentro da própria taça.
Pois é essa a moda que produtores e importadoras querem trazer para o Brasil, inspirados na experiência de verões europeus.
Lá, a tendência foi, de certa forma, referendada pelo lançamento, no ano passado, do champanhe Moët Ice Impérial --de uma das produtoras mais tradicionais. Como diz o nome, seu consumo é recomendado assim, com gelo.
Quem quer embarcar na onda precisa saber que há cuidados a serem tomados.
Apesar de divergências pontuais, sommeliers ouvidos pela Folha são unânimes numa questão: colocar gelo no vinho vai comprometer suas características.
Em espumantes, o gelo pode alterar o "perlage" (as borbulhas); nos tintos, especialmente os ricos em tanino, as pedrinhas realçam esse aspecto, tornando o vinho rascante; e, no caso de brancos e rosés, os aromas ficam mais tímidos.
Por isso, drinques como sangria e clericot costumam ser feitos com bebidas mais suaves, sem tantos aromas.
E os produtores de rótulos como Chandon Passión e Marquis de Rothberg Ice, disponíveis no Brasil neste verão, alegam que a receita já prevê essas perdas.
"Eles têm um pouco mais de açúcar e mais borbulhas que espumantes similares", diz o sommelier Manuel Luz, da importadora Cantu. "E devem ter um serviço rápido; uma taça é bebida em no máximo cinco goles e reposta."
Sommeliers puristas ainda torcem o nariz: para Daniela Bravin, a onda é, antes de tudo, marketing.
Mas outros já admitem a experiência. "Não vejo problemas, desde que você encare a bebida como um drinque, não como vinho", diz a sommelière Gabriela Monteleone, da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers).