Ônibus com 34 passageiros é alvo de tiros em perseguição na Anchieta
Motorista ignorou ordem de assaltantes encapuzados para parar e acelerou veículo até Cubatão
Alguns ocupantes deitaram no chão para se proteger dos disparos, diz cartunista; ninguém foi atingido
A viagem de ônibus de São Bernardo do Campo (ABC) ao litoral deveria ser curta e monótona, mas acabou virando um perseguição com tiros, vidros estilhaçados e passageiros desesperados deitados no chão. Tudo isso na Anchieta, uma das rodovias mais movimentadas de São Paulo.
Dinilson José Gonçalves, 41, motorista do ônibus da viação Cometa, foi o único a ter ferimentos, todos leves, causados por estilhaços quando se protegeu com o braço dos disparos.
Foi ele também que conseguiu evitar, na noite de terça (25), que o veículo e seus 34 passageiros fossem assaltados por uma quadrilha armada.
O veículo havia partido às 20h30. Por volta das 21h20, um Astra prata piscou o farol atrás dele, no km 47, no caminho para Cubatão. O carro emparelhou com o ônibus e seu quatro ocupantes, armados e encapuzados, ordenaram que Gonçalves parasse.
Temendo um arrastão, Gonçalves, 15 anos de experiência na profissão, ignorou-os. Acelerou o veículo.
O mesmo fizeram os criminosos. Ultrapassaram o ônibus e, alguns quilômetros à frente, prepararam a emboscada: carro na pista com as portas abertas e homens com armas apontadas.
De novo, Gonçalves os ignorou. Vieram então os disparos.
Os primeiros tiros atingiram o para-brisa, bem perto da posição do motorista. Os seguintes carimbaram a lateral direita e a traseira do coletivo. Ninguém foi atingido.
Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, cinco tiros acertaram a lataria --um deles, de um cartucho com muitos pequenos projéteis, deixou mais ou menos cem marcas na traseira. Atingido, um dos dos pneus estourou.
O bando ainda tentou seguir o coletivo, mas Gonçalves o jogou contra o Astra. Os criminosos então desistiram, fugindo pela rodovia Padre Manoel da Nóbrega, no sentido Itanhaém, também litoral.
Mesmo sob pressão, sem um pneu e tendo de lidar com o nervosismo dos passageiros, Gonçalves teve sangue frio para dirigir mais 5 km até a rodoviária de Cubatão. Enfim, todos estavam bem.
CHOQUE
Mesmo assim, Gonçalves ainda não tinha conseguido dormir até o início da noite de quarta, quando sua mulher, Flavia Roberta dos Santos, 39, conversou com a Folha. "Ele está em choque. Tem horas que dá uma recaída, entra em crise e chora."
Um dos que estavam no ônibus, o cartunista Osvaldo DaCosta, 58, disse que os passageiros ligavam para a polícia enquanto tentavam se proteger dos tiros.
"Teve uns que deitaram no chão do corredor. Eu inclinei a poltrona até onde deu. O ônibus ia acelerando, indo para a direita e para a esquerda. Pensei até que iria capotar."