Crise da água
Jardim é o novo 'vilão' da seca na Califórnia
Governo aposta no controle da irrigação e no incentivo a plantas mais resistentes
Medidas anunciadas no início do mês são uma tentativa de reduzir em 25% o consumo de água em áreas urbanas
Nas grandes cidades e em bairros nobres da Califórnia, é fácil cruzar com jardins abundantes e seus "sprinklers" ligados diariamente.
Mas esse cenário pode mudar após a aprovação, no início deste mês, de medidas para reduzir em 25% o uso da água em áreas urbanas do Estado em relação a 2013.
Em meio à seca que castiga o território pelo quarto ano consecutivo, o plano do governador Jerry Brown tem como alvo maior o consumo de água potável para irrigação "outdoor" (como campos de golfe e gramados), além de incentivar jardins com plantas tolerantes à estiagem --ou até sintéticas.
O governo quer que a multa aos infratores chegue a US$ 10 mil (cerca de R$ 30 mil), uma proposta polêmica que ainda precisa ser aprovada.
Hoje, a punição já existe para cidadãos, por exemplo, que lavarem a calçada com mangueiras, mas o valor máximo é de US$ 500 (R$ 1.500) --na cidade de SP, uma nova lei prevê multa de R$ 250.
O jornal "New York Post" divulgou fotos aéreas de mansões de celebridades em Los Angeles, com seus gramados contrastando com a seca ao redor das propriedades.
Entre os famosos citados estão Kim Kardashian, Jennifer Lopez e Barbra Streisand. Já Jennifer Aniston foi parabenizada por substituir seu pequeno vinhedo por um jardim de suculentas e pedras.
Apesar de um estudo apontar que essa é a pior seca do Estado em 1.200 anos, alguns especialistas discordam.
"Embora não seja a pior, é uma crise bastante séria, já que temos mais pessoas e indústrias dependendo da água do Estado", disse à Folha Doug Parker, diretor do Instituto de Recursos Hídricos da Universidade da Califórnia.
Para o pesquisador, apesar de grave, a crise não deve secar as torneiras. "Não prevejo falta de água em casa. A exceção são áreas rurais que dependem de água subterrânea ou cujos poços possam secar."
AGRICULTORES
A Califórnia, que já passou por secas severas nos anos 1970 e 1990, é o Estado mais populoso dos EUA e com as colheitas mais valiosas do país. As medidas de Brown não incluem o setor agrícola, que utiliza 80% da água do Estado e dos quais quase 10% vão apenas para o plantio de uma única fruta, a amêndoa (leia texto nesta página).
Pelo segundo ano seguido, fazendas deixaram de receber canais de irrigação federais que levam água do norte do Estado para o coração da zona rural californiana.
Para David Dolls, conselheiro agrícola especialista em frutas secas da Universidade da California, em Merced, a seca "não está tão severa quanto poderia ficar" porque muitos agricultores usam reservas subterrâneas para continuar operando.
"Propriedades menores ou sem capital para fazer seus próprios poços são as que sofrem mais, as que estão perdendo suas árvores. Há uma alta demanda para perfuradores de poços agora", diz.