Acervo de artista Darcy Penteado, cenógrafo do TBC, está em depósito
Museu em São Roque fechou, e parte das peças será exposta em SP
Uma jaqueta militar vermelha, com dragonas douradas, veste um manequim oculto sob um tecido no quarto dos fundos de uma fábrica rodeada por mata atlântica que virou centro cultural em São Roque. A peça já teve dias de exposição mais vistosa: foi exibida no palco do Theatro Municipal, na temporada de "Bodas de Fígaro" de 1979. É uma obra de Darcy Penteado (1926 - 1987), que espera por ajuda na cidade interiorana.
Penteado foi "um homem de todas as artes que cabem dentro da arte cênica", como define a amiga e colega de trabalho Nicette Bruno, 82.
Ele fez a cenografia da companhia de Nicette por alguns anos, nas décadas de 1950 e 1960, bem como para produções do municipal e do Teatro Brasileiro de Comédia.
"Era um dos melhores que o Brasil viu, de uma estética sofisticadíssima", diz a atriz.
Não se pode dizer o mesmo da atual morada de seu legado: ao menos 50 obras, entre óleos, croquis, litografias, escritos e figurinos estão acomodados em duas salinhas no fundo de um prédio da prefeitura de São Roque, no interior paulista.
O museu criado pela cidade natal em homenagem ao artista, inaugurado em 2007, fechou em 2012. Por um ano, as obras sofreram ao sol e à chuva que entrava nos galpões, sem climatização, por goteiras e infiltrações.
Dois anos atrás, as peças foram levadas para o depósito, a passos de distância.
Mesmo fora do galpão e acompanhados por uma restauradora, os trabalhos ainda não estão em condições ideias de conservação. Em visita recente, o Sisem (Sistema Estadual de Museus de São Paulo) avaliou que as cortinas da sala não são suficientes para barrar o sol de bater nas obras. O órgão recomendou ainda que as pinturas fossem tiradas de invólucros de plástico bolha, que impedem a "respiração".
Nos embrulhos das obras estão descritas as mazelas que as assolam. Cupim e fungos são as mais comuns.
O Museu da Diversidade, na República, centro da capital paulista, já pediu para exibir parte do acervo nos próximos meses. A prefeitura topou. "Queremos dar o valor que esse artista merece", diz Franco Reinaudo, diretor do Museu da Diversidade.
Ronaldo Pio, chefe da divisão de cultura de São Roque, diz que em breve as obras estarão em melhor lugar. "O processo de tombamento da Brasital [antiga fábrica onde está o museu] está prestes a sair. Quando o prédio for tombado, vamos pedir o restauro das obras e da estrutura."