Ata do BC sem 'aperto' leva dólar a recorde em 9 anos
Avaliação do mercado é que documento indica controle menos rígido da inflação
Dólar à vista sobe para R$ 2,551 e comercial fecha em R$ 2,562, nas maiores cotações desde abril de 2005
A ata da mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), divulgada nesta quinta (6), aliada às incertezas sobre a nova equipe econômica, ampliou a cautela dos investidores em relação à economia brasileira e teve impacto negativo no mercado financeiro, levando o dólar ao maior nível em nove anos.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,53%, para R$ 2,551 na venda. Foi a sexta alta consecutiva da cotação, que atingiu seu maior valor desde 20 de abril de 2005, quando fechou em R$ 2,564.
Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou em alta de 1,86%, para R$ 2,562 --cotação mais alta desde 21 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,563.
Para economistas e analistas, o documento sinalizou que o recente aumento na taxa básica de juros --a Selic-- para 11,25% ao ano foi balizado pela forte queda do real ante o dólar.
Apesar disso, dizem, não houve na ata detalhes mais precisos que pudessem indicar um ciclo de alta de juros mais rígido.
"Achamos que a ata estava mais dura' do que antes, mas menos do que a gente esperava", diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, em nota. "Na nossa visão, o Copom ainda não está suficientemente preocupado com o fato de que, após quatro anos seguidos de inflação acima da meta [de 4,5% com margem de dois pontos para mais ou para menos], a projeção para os próximos dois anos continua sendo de preços acima do alvo."
"O BC busca retomar sua credibilidade. Para o país crescer, tem que ter mais investimento. Mas juro maior reduz investimento. A autoridade quer resgatar sua imagem de outra forma, mostrando que está vigilante em relação à inflação", diz Denilson Alencastro, economista da Geral Investimentos.
Para o economista, o BC foi "duro" ao sinalizar que está "especialmente vigilante" aos preços no país. "A autoridade também não pode exagerar na dose [de subir os juros], pois o crescimento do país já está baixo", afirma.
As incertezas sobre a equipe econômica do governo para os próximos anos, segundo analistas, também contribuíram para a aversão ao risco entre os investidores. A principal crítica é em relação à falta de informações suficientes para gerar projeções econômicas confiáveis.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 1,98%.