Ilha grega mistura refugiados e turistas
A 4 km da costa da Turquia, a turística Kos é local de chegada de sírios, iraquianos, paquistaneses e iranianos
'Não imaginava um lugar cheio de turistas; é um pouco surreal', afirma síria que pagou R$ 4.000 pela travessia
Com a força das ondas, um bote furado bate insistentemente nas rochas em frente a um hotel quatro estrelas onde hóspedes tomam café da manhã, de frente para o mar Egeu e para a cidade de Brodum, na Turquia.
De lá, a pequena embarcação saiu de madrugada, levando 20 pessoas que, como outros cerca de 30 mil, entraram este ano de forma ilegal na ilha grega de Kos. É praticamente a população da ilha.
Com agitada vida noturna, resorts e apelo histórico e cultural, Kos é hoje o terceiro destino turístico na Grécia e epicentro da atual crise de refugiados da Europa.
"Não imaginava um lugar cheio de turistas. É um pouco surreal", afirmou a matemática síria Dooa Alloush, 25, que pagou € 1.000 (cerca de R$ 4.000) na travessia de apenas 4 km entre Bodrum e Kos.
"Foi a experiência mais assustadora da minha vida", contou a jovem, que disse ter escapado de seis bombardeios no bairro onde morava, em Damasco, onde deixou os pais e irmãos.
LADO A LADO
Turistas alemães, ingleses, holandeses e turcos que visitam Kos caminham lado a lado com sírios, paquistaneses, iranianos e iraquianos, que ainda retorcem as roupas encharcadas na travessia.
Sobretudo porque a zona do porto de Kos é também o centro turístico da ilha.
Estão lá discotecas, restaurantes, lojas e monumentos como a Árvore de Hipócrates, onde acredita-se que o grego considerado o pai da medicina ensinava a ciência.
Os refugiados agrupam-se naturalmente. Ao redor da Árvore de Hipócrates concentram-se os sírios. Os paquistaneses ficam em uma pequena praia do centro.
"É um caso único no mundo. Aqui estão misturadas muitas culturas e situações diferentes. E isso pode ser explosivo em um caso extremo como este, em que os refugiados nem sequer têm banheiros químicos e passam o dia vendo europeus de férias", disse à reportagem Roberto Mignone, o chefe da missão da ONU na ilha.
Até o início da tarde de quinta (27), no entanto, a polícia não havia registrado nenhum episódio de violência ou queixa de turistas, que têm oferecido roupas, lanches ou apenas uma conversa.
"Dói ver crianças nessa situação enquanto passo o dia na praia", diz a bibliotecária britânica Linda Mars, 65.
"São pessoas exatamente como você, mas postas em uma situação extrema", disse o holandês Robert Linsten.