Seca
O governador Alckmin é culpado pela crise hídrica em São Paulo?
Sim
Pobre governador, como poderia prever uma seca tão grave como a que vem ocorrendo na região metropolitana de São Paulo e outras áreas do Sudeste há pelo menos dois anos? De fato, este, como outros desastres ligados a fenômenos da natureza, como terremotos e inundações, não são controláveis, mas suas consequências e, sobretudo, seus efeitos sociais e econômicos podem ser evitados ou, ao menos, minimizados.
No caso da atual crise hídrica, o governo do Estado de São Paulo é sem dúvida o maior responsável, não pela falta de chuva, mas pelos enormes danos que já estamos sofrendo a partir desta. Por quê?
O governo do Estado é responsável pela política de saneamento, recursos hídricos e meio ambiente de São Paulo, além de ser ao mesmo tempo o regulador e maior acionista da Sabesp.
Nas últimas décadas o governo fez muito pouco para ampliar a cobertura vegetal e assim garantir maior capacidade de recarga das nascentes e rios. Pelo contrário: quem convive com as regiões onde se situam as maiores represas e seus formadores assiste a um processo contínuo e permanente de desmatamento e ocupação.
Se as possibilidades de recarga são cada vez mais limitadas, pior ainda é a situação do saneamento em São Paulo. Como é possível que na metrópole de maior PIB da América Latina os rios Tietê e Pinheiros, além de vários de seus afluentes, ainda estejam poluídos por esgoto doméstico? Como uma das maiores empresas de saneamento do mundo --segundo o site da Sabesp--, que reverte quase 51% do seu lucro para o governo do Estado e que cobra não só a água, mas também o tratamento de esgoto de um enorme mercado cativo de consumidores, não foi capaz de tratar o esgoto, comprometendo com isto a qualidade da água de represas (como a Billings), que poderiam representar hoje uma alternativa ao desabastecimento?
Finalmente, ao negar de forma eleitoreira a crise ao longo de 2014, o governo do Estado nos impediu de adotar medidas de economia com mais antecedência, evitando assim o desastre anunciado.
-
Não
LEÃO SERVA
Jornalista e escritor
O governador Geraldo Alckmin não é culpado pela crise hídrica que atravessamos, desde logo porque ela é nacional e o Bandeirantes só tem (alguma) influência sobre São Paulo. Dizer que o governo paulista administra mal a questão é "chover no molhado". Mas o fato de que gente bem informada atribua a ele responsabilidades que vão além das suas é prova de que ele também comunica mal.
A Constituição define a água como competência da União, compartilhada com Estados e municípios. Uma importante causa da seca no Sudeste é a redução de florestas na Amazônia, questão federal que o Planalto nada faz para reverter (só tentou conter a notícia, em 2014).
Em 2013, quando já se tinha previsão de seca no país, Dilma criou um programa de incentivo ao consumo de energia elétrica (leia-se: gastar mais água). No ano eleitoral, o Planalto fingiu que a "terra da garoa" era o único lugar do Brasil com falta de chuvas: em plena campanha, a Agência Nacional de Águas mandou abrir comportas de reservatórios. Brasília parecia querer secar mais as represas antes da eleição.
Nessa hora, o estilo da imprensa paulista, mais crítica do que a dos demais Estados, reforçou a impressão de que o problema era localizado. Enquanto os jornais de São Paulo desde o início de 2014 mostraram reservatórios secando e criticaram o Estado por não restringir consumo, a imprensa nacional só notou a situação semelhante no resto do país depois que a eleição passou.
Pesquisas mostram que o "apagão" ao fim do governo FHC destruiu a imagem do presidente. A maioria o associou à crise, não à solução, o programa de controle que evitou o caos. Em 2014, quando a oposição a Alckmin cobrou medidas mais rigorosas de restrição, sonhava reduzir sua votação.
Se existe um administrador com grandeza para correr riscos eleitorais e implantar medidas duras como racionamento de água, ele não atua em governos no Brasil atual, no Planalto ou nos vários Estados onde falta água.
Nossos políticos preferiram fingir que o problema era restrito a São Paulo, onde o governador, como sempre, agia como chuchu.