Segundos antes das 22h, Roger Waters interrompeu a execução de “Welcome to The Machine”, quinta canção de seu show em Curitiba, para exibir um pequeno vídeo de repúdio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
“São 9:58. Disseram que não podemos falar sobre a eleição depois das 10 da noite. É lei”, estava escrito no telão. “Só temos 30 segundos. Essa é a nossa última chance de resistir ao fascismo antes do domingo”, continuava a mensagem, finalizada com um “ele não!”.
Parte do público aplaudiu e puxou um coro de “ele não”. Outra reagiu gritando “mito”. Indiferente, Waters retomou a canção que havia interrompido.
Na sexta (26), véspera do show, a produção do concerto foi notificada pela Justiça Eleitoral de que Waters cometeria crime eleitoral se fizesse comentários de cunho político após as 22h.
A punição seria uma multa, com valor arbitrado pelo juiz. Se fosse feita depois da meia-noite de domingo, dia da eleição, uma eventual manifestação de Waters poderia ser considerada boca de urna, passível de prisão, informou o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR).
Após “Another Brick in The Wall”, que encerrou a primeira parte do show, coros de “mito” misturados a gritos de “ele não” fizeram Waters, sozinho no palco, ter de esperar para falar com o público.
“Também amo vocês”, ele disse, com um sorriso irônico nos lábios. Depois, explicou que as crianças que subiram ao palco durante a execução da canção mais famosa do disco “The Wall” eram todas de Curitiba.
Durante intervalo para a segunda parte, nomes de políticos que Waters considera neofascistas foram exibidos no telão. O de Bolsonaro, que habitualmente fecha a lista, foi coberto por uma tarja preta.
Waters e sua banda —destaque para o guitarrista Jonathan Wilson, que assumiu os vocais que cabiam a David Gilmour nas canções do Pink Floyd— encerraram o show pouco depois da meia-noite com “Comfortably Numb”.
Após entregar o que todos desejavam —uma profusão de hits de sua antiga banda—, o britânico saiu ovacionado do palco e mesmo a parcela bolsonarista do público, que o vaiara antes, se rendeu ao show impecável, ainda que previsível.
E Waters, no fim, não será preso em Curitiba.
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