Descrição de chapéu Facebook

Empresa que ajudou Trump roubou dados de 50 milhões de usuários do Facebook

Com a revelação do caso, Cambridge Analytica deixará de atuar no Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Cambridge Analytica, que participou da campanha de Donald Trump, obteve dados sigilosos de 50 milhões de usuários do Facebook e usou as informações para ajudar a eleger o presidente americano em 2016.

Com a revelação do caso, o braço brasileiro da Cambridge Analytica disse que decidiu cancelar a parceria com a empresa, que abriu um escritório em São Paulo em 2017.

A informação foi divulgada neste sábado (17) pelo jornal americano The New York Times e pelo britânico The Observer (versão dominical do Guardian) e confirmada pela própria rede social, que disse ter banido os envolvidos no caso. Um ex-funcionário da Cambridge Analytica, Christopher Wylie, revelou aos dois jornais os detalhes do esquema, que funcionou entre 2014 e 2015.

As informações jogam luz sobre o papel da Cambridge Analytica na eleição de Trump e aumentam o questionamento sobre a privacidade dos dados dos usuários no Facebook.

A empresa ganhou fama durante a eleição americana por ser pioneira no uso de psicologia comportamental com base em grandes bases de dados em campanhas políticas. Ela faz parte da consultoria britânica SCL e tem como sócio o bilionário Robert Mercer, um doador republicano e apoiador de Trump.

O presidente americano Donald Trump durante evento de sua campanha na Flórida
O presidente americano Donald Trump durante evento de sua campanha na Flórida - Carlo Allegri - 7.nov.2016/Reuters

Na época do vazamento, em 2014, a Cambridge Analytica tinha como vice-presidente Steve Bannon, que depois comandaria a campanha de Trump e se tornaria seu assessor na Casa Branca.

Segundo a reportagem, o roubo dos dados foi feito através do aplicativo thisisyourdigitallife, que pertence a GSR, empresa criada pelo russo-americano Aleksandr Kogan, pesquisador da Universidade de Cambridge e bolsista do governo russo.

O app pagava usuários para responderem uma série de perguntas e, em troca, a pessoa consentia que o programa tivesse acesso às suas informações no Facebook, como localização e “likes” —cerca de 270 mil pessoas aceitaram disponibilizar seus dados dessa forma.

O aplicativo, porém, não avisava que além dos dados dos usuários, também captava as informações de todos os amigos, chegando ao total de 50 milhões de pessoas. Esses dados foram vendidos então pela GSR para a Cambridge Analytica.

Segundo a publicação americana, os dados permitiram traçar o perfil psicológico de 30 milhões de eleitores. Além da votação americana, a mesma técnica teria sido usada para ajudar a campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia.

As regras do Facebook permitem que um aplicativo capte os dados de outras pessoas, mas apenas se eles forem usados para fins de pesquisa ou para melhorar a experiência do usuário —é proibida tanto a venda quanto o repasse a outros.

A própria rede social disse que soube do vazamento em 2015 e culpou Kogan por não ter cumprido as regras. O Facebook afirmou que retirou então o aplicativo do ar e pediu que todos que tivessem os dados apagassem as informações obtidas, incluindo a Cambridge Analytica, que teria concordado com o pedido.

A empresa não comunicou o vazamento das informações às autoridades e não avisou os usuários que os dados tinham sido roubados. Nesta sexta (16), após ser questionado pelo The New York Times sobre o caso, o Facebook anunciou a suspensão das contas da Cambridge Analytica e da SCL.

O Observer disse ter sido procurado por que advogados do Facebook, que afirmaram que o jornal estaria fazendo comentários "falsos e difamatórios" sobre a rede social.

A procuradora-geral de Massachusetts, Maura Healey, disse neste sábado (17) que abrirá investigação para apurar o caso. "Os moradores de Massachusetts merecem respostas imediatas do Facebook e da Cambridge Analytica", disse ela, no Twitter.

Brasil

A Cambridge Analytica atuava no Brasil por meio da consultoria A Ponte, do publicitário André Torretta, desde o ano passado. Desde o início do convênio, a agência passou a se chamar CA-Ponte.

Neste sábado, a empresa anunciou que a parceria será desfeita.

"É importante dizer que os fatos não aconteceram no Brasil. No entanto, A Ponte decidiu não renovar a parceria com a CA, até que tudo seja esclarecido", afirmou em nota o escritório local.

A renovação de contrato, feita anualmente, deveria ocorrer nas próximas semanas. A decisão foi tomada assim que o caso relacionado ao Facebook se tornou público, segundo o comunicado.

A empresa brasileira afirmou ainda que vinha tendo dificuldade em "tropicalizar a metodologia da parceira" e, por isso, estava desenvolvendo métodos próprios, "levando em consideração a cultura e o comportamento do brasileiro".

"A Ponte faz questão de deixar claro que, em dez anos de atuação, sempre se pautou pela ética e transparência em seus negócios", disse. Torretta, em entrevistas, sempre informa que foi procurado pela Cambridge e acabou escolhido para ser o parceira local por causa da reputação de sua agência.

A empresa do baiano prestará serviços para campanhas na eleição de outubro. Torretta afirma ter até agora contrato fechado com duas candidaturas estaduais, mas não revela nomes. Ele também conversa com campanhas presidenciais. Diz, porém, não ter firmado ainda compromisso com nenhuma.

Colaborou Joelmir Tarvares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.