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10/07/2010 - 20h35

Milhares de pessoas caminham para relembrar fuga de Srebrenica

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RUSMIR SMAJILHODZIC
DA FRANCE PRESSE, EM KAMENICA

Por dever de memória, milhares de pessoas percorrem, 15 anos depois, o caminho que os bósnios muçulmanos fizeram, em meio aos bosques, em julho de 1995, em sua fuga das forças sérvio-bósnias, que pouco depois tomariam o controle do enclave de Srebrenica e assassinariam 8.000 homens muçulmanos.

"Caminho de sobrevivência" para alguns, que lembram da fuga desesperada que lhes permitiu salvar a vida, "caminho da morte" para outros, marcados pela lembrança dos que pereceram nos bombardeios sérvios e não conseguiram chegar às regiões controladas pelas forças bósnias muçulmanas.

A fuga de Srebrenica começou em 11 de julho de 1995. Entre 10 mil e 15 mil homens tentavam chegar a Tuzla, em poder das forças muçulmanas. Mas, dois dias depois da partida, a coluna foi cortada em dois pelas forças sérvio-bósnias na localidade de Kamenicke Stijene, o que representou a morte para milhares de fugitivos.

Srebrenica estava a ponto de cair nas mãos das forças da Bósnia, prelúdio da matança de 8.000 homens e adolescentes muçulmanos.

"É uma espécie de peregrinação que faço a cada ano para agradecer a Deus por ter salvo a minha vida", conta o sobrevivente Sefik Begovic, de 37 anos.

Assim como ele, de 4.000 a 5.000 pessoas iniciaram uma marcha por 105 km por meio das colinas e dos bosques da Bósnia em direção a Srebrenica, onde este domingo será celebrada uma cerimônia pelo 15º aniversário da matança.

NEZUK

Os minaretes de Nezuk, no nordeste da Bósnia, entoam cânticos religiosos para embalar a partida dos caminhantes.

Foi ali que chegaram 4.000 muçulmanos bósnios, em fuga de Srebrenica, depois de um trajeto de sete a oito dias para os que tiveram mais sorte, e de mais de um mês para os demais.

Hoje, o percurso é inverso.

Hilmo Mustafic, um dos sobreviventes, veio dos Estados Unidos com seus dois filhos.

"Quero relatar aqui, aos meus filhos, como ocorreu, para que se lembrem", diz este homem de barba ruiva.

"Era um caos total, fomos presas do pânico desde a primeira noite", lembra Hilmo.

Um de seus companheiros, Sabit Cvrk, 48, conta que fez o caminho com outros onze homens, um dos quais foi ferido pelos bombardeios de seu próprio grupo.

"Só caminhávamos à noite, tínhamos um medo terrível, as emboscadas se sucediam. Pedimos a Deus para não cairmos nas mãos das forças sérvias", diz Sabir, vestido com roupa militar das forças muçulmanas da época.

Foi em Kamenicke Stijene que Sadik Omerovic viu por última vez seu irmão caçula, então com 21 anos, e seu pai. Os dois foram detidos, junto com outros homens, e assassinados.

"O momento mais difícil foi quando cheguei ao território controlado pelo exército bósnio (muçulmanos). Chorei de alegria por ter conseguido sobreviver, mas também de tristeza, porque não via meu irmão caçula, nem meu pai entre os sobreviventes que chegavam", lembra Sadik.

 

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