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Ex-proprietário da Papel Prensa rejeita denúncia de Kirchner sobre compra ilegal
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DE SÃO PAULO
Isidro Graiver, um dos membros da família proprietária da única fábrica argentina de papel-jornal, Papel Prensa, refutou nesta quarta-feira as denúncias da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de que a empresa foi comprada ilegalmente pelos jornais argentinos "Clarín" e "La Nación", durante a ditadura militar (1976-1983).
Governo Kirchner tem histórico de disputas com a mídia; saiba mais
Na véspera, Kirchner anunciou que levará à Justiça o relatório oficial que aponta as supostas irregularidades na compra da empresa por parte dos dois jornais de maior circulação do país --e críticos do governo.
Marcos Brindicci/-24ago.10Reuters |
A presidente argentina, Cristina Kirchner, acusa jornais "Clarín" e "La Nación" de criarem monopólio integrado |
A presidente anunciou ainda que apresentará um projeto de lei para transformar a produção e a comercialização de papel-jornal em setor "de interesse nacional", o que criaria um marco regulatório específico e estabeleceria uma comissão parlamentar para fiscalizar as operações da Papel Prensa.
A Papel Prensa produz três quartos do papel-jornal consumido no país e é parcialmente controlada pelos jornais "Clarín" (com 49% das ações) e "La Nación" (22,49%). Outros 27,46% são do Estado argentino de forma direta, mais 0,62% através da agencia oficial Télam. O governo acusa os dois jornais de exercerem hegemonia no mercado por terem vantagens competitivas, como preço e disponibilidade, sobre os demais veículos.
"Realizamos as vendas de bens de nossos ativos nas melhores condições que pudemos obter, sem ameaças ou extorsões e em liberdade", disse Graiver, em comunicado. Ele foi o responsável por levar adiante a operação de venda da fábrica no fim de 1976.
Kirchner denunciou que a venda teria acontecido sob ameaças do regime militar a Lidia Papaleo de Graiver, viúva do banqueiro e dono da Papel Prensa, David Graiver (irmão de Isidro), morto em um acidente aéreo em agosto do mesmo ano.
A ditadura militar prendeu Lidia e outros membros da família em 1977 e apreendeu seus bens por acusação de que o grupo Graiver administrava dinheiro de Montoneros, guerrilha formada por grupos nacionalistas de esquerda do Partido Justicialista (peronista). Lídia chegou a ser torturada e estuprada, antes de receber pena de 15 anos de prisão.
Graiver ressaltou na nota desta quarta-feira que a venda da Papel Prensa foi concluída em 2 de novembro de 1976 e que ele foi sequestrado e levado a uma prisão clandestina da ditadura meses depois, em 15 de março de 1977. "A simples comparação das datas me exime de qualquer comentário", afirmou.
Isidro disse ainda que o governo democrático de Raúl Alfonsín indenizou a família Gravier em 1985, incluindo o valor recebido pela compra da papeleira.
O comunicado foi publicado na edição desta quarta-feira dos dois jornais envolvidos, junto a um documento legal no qual a filha de David de Gravier, María Sol, afirma não ter nenhum motivo para reclamar dos dois jornais.
PROCESSO
Segundo Alberto González Arzac, conselheiro do Estado na direção da empresa, o relatório do governo contém "provas irrefutáveis sobre a apropriação ilegal da empresa Papel Prensa S.A. por parte dos atuais grupos controladores do setor privado".
Beatriz Paglieri, representante do Estado na direção da companhia, assegurou que a investigação determinou que a Papel Prensa vendeu papel "abaixo do custo de produção" às empresas relacionadas com os acionistas privados e obrigou seus concorrentes a importar papel jornal a preços 50% mais altos.
Fundada em 1972 com o objetivo de livrar a imprensa local da importação de papel, a Papel Prensa fornece papel jornal para 170 veículos do país e tem 75% do consumo doméstico.
A presidente Kirchner fez um relato pormenorizado das circunstâncias da operação e que, segundo ela, se assemelham a um "thriller argentino", com "dados apavorantes" que reconstroem uma "história obscura, sórdida, de vexações e humilhações".
Kirchner alega que a venda foi fechada por US$ 996 mil em parcelas, mas o valor patrimonial da companhia era de US$ 4,3 milhões. Papaleo só recebeu US$ 7 mil, a primeira parcela antes de sua prisão.
"É como se já se soubesse que ela nunca poderia cobrar", apontou Cristina, ao denunciar que os sócios privados da empresa atrapalharam a investigação e ocultaram documentação.
EMBATES
O processo da Papel Prensa é mais uma página na guerra aberta entre o Governo e o grupo Clarín, antigo aliado do kirchnerismo e hoje inimigo da presidente e seu marido e antecessor no cargo, Néstor Kirchner.
O grupo Clarín, o mais poderoso do país, é o principal afetado pela legislação de comunicação impulsionada pelo Executivo e acaba de sofrer uma dura derrota pela decisão do governo de retirar a licença da Fibertel, sua empresa de serviços de internet.
O grupo denunciou que o relatório "é o passo mais ousado do governo kirchnerista contra os meios de comunicação, e em particular contra os diários "La Nación" e "Clarín"".
Os dois jornais publicaram hoje um editorial no qual asseguram que "a Justiça não encontrou vínculo algum entre a detenção dos Graiver e a Papel Prensa" e denunciaram um plano do governo para assumir a companhia.
COM EFE, EM BUENOS AIRES (ARGENTINA)
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