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14/10/2010 - 14h05

Para irmã de trabalhador resgatado no Chile, donos de mina San José são "assassinos"

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DA ANSA

A irmã de Darío Segovia, o 20º operário a ser resgatado ontem (14) da mina San José, em Copiapó, no norte do Chile, acusou de "assassinos" os proprietários da jazida e afirmou que, no país, os trabalhadores não recebem "nem o respeito, nem o lugar que lhes pertence".

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María Segovia, apelidada de "prefeita" do acampamento Esperança -- formado no local por parentes dos 33 homens que ficaram bloqueados por 70 dias a cerca de 700 metros de profundidade depois de um desmoronamento --, pediu "humildemente" ao presidente Sebastián Piñera que feche a mina.

Para ela, o encerramento das atividades de extração deveriam ocorrer porque "sabemos como trabalham os donos" da mineradora San Esteban, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny, proprietários da San José. "Aqui [no Chile] usam o trabalhador de classe média para ficarem ricos, e o trabalhador mineiro morre doente e pobre", acusou ela.

Em conversa com a rádio Cooperativa, María disse ter passado uma noite tranquila depois do término das retiradas e assegurou que se sente "muito orgulhosa de meu povo chileno porque nunca nos abandonou". "Vivemos o próprio inferno, mas nunca baixamos a guarda", pontuou ela.

A irmã de Darío Segovia revelou também que está trocando números de telefone com os outros parentes de operários para não perderem o contato e se reunirem "uma vez por ano".

Por sua vez, Lilian Ramírez, a esposa de Mario Gómez, o nono trabalhador a ser resgatado e o mais velho do grupo, com 63 anos, afirmou que os 33 e suas famílias têm "que aprender a se querer e se unir como uma só família".

Efe
Mineiros resgatados posam ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, em hospital de Copiapó
Mineiros resgatados posam ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, em hospital de Copiapó

PIÑERA

Após o sucesso dos 33 resgates realizados a partir da 0h de ontem e que foram concluídos à noite, Piñera declarou que "os que têm responsabilidade vão ter que assumir suas responsabilidades".

O presidente chileno, que anunciou que fechará o local, também defendeu que cabe a todos os seus conterrâneos "melhorar as situações de vida e os procedimentos para resguardar a vida de todos os trabalhadores, mas não somente da mineração".

Piñera afirmou que "nunca mais um mineiro trabalhará em condições de risco" no Chile e que o futuro da cápsula Fênix 2, que desceu 78 vezes à mina, será discutido com todos os trabalhadores -- "É um patrimônio da humanidade, afirmou".

Refletindo sobre o setor da mineração no Chile, o presidente disse que acidentes como o que ocorreu na mina de San José, em Copiapó, devem ser evitados no futuro e que o país não deve mais tolerar situações de risco. "Não podemos garantir que não haverá mais acidentes. Mas podemos garantir que nunca mais se trabalhará em condições tão desumanas como na mina San José", afirmou.

O país deve ainda alterar e melhorar a legislação para garantir mais segurança no setor e "adotar padrões internacionais", disse o presidente. Sobre o custo da operação de resgate, Piñera disse que o valor flutua entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões e que "cada peso foi bem gasto".

Em tom de brincadeira, Piñera disse ainda que no dia 25 de outubro haverá um jogo de futebol entre os trabalhadores da mina e a equipe do palácio La Moneda, e que "o time que perder vai voltar à mina".

Piñera acompanhou toda a operação de resgate, recepcionando vários dos trabalhadores que subiam, posando para fotos com cada um deles. Ao final, cantou o hino nacional e reiterou que a operação faz com que o Chile seja "mais respeitado" no mundo.

O líder ainda pretende receber todos os mineiros no Palácio de la Moneda, em Santiago.

BACHELET

A ex-presidente chilena Michelle Bachelet disse nesta quinta-feira, durante visita a Hanói (Vietnã) no papel de secretária-geral adjunta da ONU a cargo da agência "ONU-Mulheres", que o acidente "poderia ter sido evitado".

Para a ex-presidente, vários riscos para os mineiros haviam sido identificados, mas os administradores da mina San José "não tomaram todas as medidas que deveriam ter sido tomadas para evitar um acidente".

AP
Imagem de vídeo mostra Luiz Urzúa, o último dos 33 mineiros a ser resgatado
Imagem de vídeo mostra Luiz Urzúa, o último dos 33 mineiros a ser resgatado; Chile conclui resgate histórico

RECUPERAÇÃO E FAMA

Após mais de dois meses isolados a quase 700 metros de profundidade, os 33 mineiros resgatados com sucesso no Chile passam agora por exames médicos para avaliar sua condição atual de saúde e preparam-se para enfrentar o status de celebridades mundiais.

Resgatados após 22 horas de trabalho ininterrupto, a maioria repousa em hospitais de Copiapó, onde se recuperam dos mais de dois meses de reclusão.

Alguns têm cáries e ao menos um foi diagnosticado com pneumonia, mas em geral o estado dos trabalhadores é muito positivo.

O ministro da Saúde chileno, Jaime Mañalich, informou nesta quinta-feira que alguns devem ter alta antecipada, devido ao bom estado de saúde.

Enquanto isso, indicações da fama internacional que os 33 já atingiram não param.

Homenagens e saudações de diversos chefes de Estado já foram recebidas. Presidentes dos EUA, Brasil, México e Rússia se manifestaram, e até um filme deve ser produzido sobre a história.

O longa-metragem já tem nome. "Los 33", disse o diretor Rodrigo Ortúzar, "é uma grande história para se contar".

Esses trabalhadores outrora anônimos agora são tratados como celebridades. Real Madrid e Manchester United, por exemplo, já convidaram os trabalhadores para ver os times jogarem na Europa.

Um cantor e empresário local resolveu dar 10 mil dólares a cada um deles; Steve Jobs, da Apple, mandou um iPod último tipo para todos, e uma empresa grega ofereceu uma excursão pelas ilhas do Mediterrâneo.

Com a possibilidade de assinarem contratos para transformar a experiência em livros e filmes, poucos dos trabalhadores devem voltar às minas.

SUCESSO DA OPERAÇÃO

Foram 69 dias de reclusão a 622 metros de profundidade. Após quase 23 horas de esforços, o Chile entra para a história ontem (13) com uma operação de resgate sem precedentes, e os 33 mineiros ganham a atenção do mundo, num misto de heróis com celebridades.

Em 5 de agosto, a estrutura da mina San José cedeu, e deixou os 33 mineiros presos a mais de 600 metros de profundidade.

Mas foi apenas em 22 de agosto, quando a esperança de encontrar sobreviventes já era ínfima, que funcionários da equipe de resgate ouviram batidas na máquina perfuradora que tentava encontrar os mineiros.

Com poucas palavras, eles mandaram um recado: "Os 33 de nós no abrigo estão bem", dizia um bilhete colado à máquina.

 

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