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19/11/2010 - 18h03

Vaticano cria circular para conferências episcopais com diretrizes sobre casos de pedofilia

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DE SÃO PAULO
DA FRANCE PRESSE

Atualizado às 18h29.

O Vaticano deve enviar às conferências episcopais de todo o mundo uma carta circular com as diretrizes para "oferecer um programa coordenado e eficaz" em resposta a casos de padres pedófilos, segundo anúncio feito nesta sexta-feira pelo cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Em 15 de julho, o Vaticano já tinha apresentado seu novo manual de procedimentos e normas para casos de abuso sexual cometido por sacerdotes. Segundo um dos maiores grupos de vítimas nos EUA, apesar de mais severas, as novas regras são insuficientes e não garantem uma reação rápida contra os padres acusados.

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O programa coordenado incluirá a colaboração das autoridades religiosas com as civis, e a necessidade de um "compromisso eficaz" de proteção a crianças e jovens, assim como uma cuidadosa seleção e formação dos futuros sacerdotes e religiosos, e apoio às vitimas.

O anúncio foi feito hoje durante um encontro de Bento 16 com cerca de 150 cardeais do mundo inteiro, para discutir a resposta que a Igreja deve dar aos casos de pedofilia que abalam o clero católico. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, tinha adiantada que não se devia esperar tanto do encontro, e que o objetivo do papa era o de "escutar com atenção" as várias posições dos cardeais sobre o assunto.

Tony Gentile/Reuters
Bento 16 convocou a Roma mais de 150 cardeais de todo o mundo para discutir crise de pedofilia
Bento 16 convocou a Roma mais de 150 cardeais de todo o mundo para discutir crise de pedofilia

A liberdade religiosa no mundo foi o tema da primeira sessão do dia na reunião extraordinária de cardeais católicos. Durante a sessão da tarde, o chamado "Senado da Igreja" discutiu o espinhoso tema dos escândalos de abusos sexuais que provocaram uma das crises mais graves vivida pela Igreja católica nas últimas décadas.

Trata-se da primeira reunião reunindo o alto escalão da Igreja após a explosão, no fim do ano passado, de um escândalo na Irlanda pela divulgação de relatórios oficiais sobre os abusos sexuais de centenas de crianças, cometidos por religiosos deste país e encobertos pelas autoridades eclesiásticas.

A onda de escândalos pelos abusos a crianças começou primeiro na Irlanda e estendeu-se à Alemanha, Áustria, Itália, Holanda e Bélgica, além dos Estados Unidos e de vários países da América Latina.

No sábado, o papa entregará o barrete vermelho e o anel de cardeal a 24 novos religiosos, entre eles o equatoriano Raúl Vela Chiriboga, arcebispo emérito de Quito, e o brasileiro Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida. A cerimônia, entre as mais solenes da Igreja católica, será realizada na Basílica de São Pedro.

Com as novas designações, o número de cardeais com direito a voto em um eventual conclave pela morte do papa chega a 121 membros.

LIBERDADE

A primeira sessão do dia foi dedicada à liberdade religiosa no mundo, um tema atual após o massacre de católicos dentro de uma igreja no Iraque, e da condenação por "blasfêmia" de uma paquistanesa cristã, Asia Bibi. O papa pediu publicamente nesta semana sua libertação.

Alberto Pizzoli/AFP
O papa Bento 16 abre a reunião de cardeais da Igreja Católica no Vaticano
O papa Bento 16 abre a reunião de cardeais da Igreja Católica no Vaticano

Ao introduzir o tema, o papa lembrou que a liberdade religiosa enfrenta "o grande desafio do relativismo, que parece completar o conceito de liberdade, mas que, na realidade, corre o perigo de destruí-la, apresentando-se como uma verdadeira ditadura".

O encontro ocorre num momento de tensão entre o Vaticano e a China, após um período de relativa aproximação entre ambos. Na quinta-feira, a Santa Sé pediu a Pequim que não obrigue bispos leais ao papa a assistirem à sagração de um bispo ligado à parte da Igreja Católica local que é controlada pelo regime comunista e não reconhece a autoridade de Bento 16.

Nos últimos anos, o Vaticano também tem intensificado seus apelos por liberdade religiosa para os cristãos em países de maioria islâmica, principalmente a Arábia Saudita. Lá, não pode haver cultos públicos não-islâmicos, e converter muçulmanos a outras religiões pode acarretar a pena de morte.

O Vaticano também tem manifestado preocupação com os cristãos do Iraque, onde neste mês 52 pessoas --entre fiéis e policiais-- foram mortos durante a ocupação de uma igreja por militantes da Al Qaeda.

PEDOFILIA

Durante a sessão da tarde, a reunião deve debater os escândalos de pedofilia que abalaram a reputação da igreja. O debate será aberto pelo cardeal americano William Levada, prefeito da congregação para a Doutrina da Fé (o ex-Santo Ofício), a entidade responsável por examinar tais crimes.

Os atuais e os novos cardeais ouvirão relatos sobre o escândalo de pedofilia no clero, que tem abalado a Igreja em diversos países. Vítimas de abusos sexuais organizaram protestos em Roma para coincidir com a reunião. Elas acusam o Vaticano de não se empenhar suficientemente para proteger os menores de futuros abusos do clero.

Outro item na pauta da reunião dos cardeais é a difícil relação com os anglicanos. Os cardeais falarão da constituição "Anglicanorum Coetubus", através da qual foi autorizada há um ano a entrada de centenas de anglicanos na Igreja católica.

Durante a reunião no Vaticano, a igreja britânica anunciou que cerca de 50 padres da Igreja da Inglaterra expressaram interesse em se juntar a cinco de seus bispos na conversão ao catolicismo.

CHINA

Ainda ontem (18) o Vaticano alertou o governo da China para não obrigar bispos católicos a participarem da cerimônia de sagração de um bispo ligado à Igreja católica estatal.

O padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, disse que o Vaticano ficou "perturbado" pela notícia de que o governo estaria obrigando os bispos a assistirem à sagração do novo bispo, padre Joseph Guo Jincai, na semana que vem na cidade de Chengde.

"A Santa Sé consideraria tais ações como graves violações da liberdade de religião e da liberdade de consciência", disse Lombardi em nota.

Os católicos da China se dividem em duas Igrejas distintas: uma delas reconhece o papa e a autoridade dele para nomear os bispos; a outra é uma "associação patriótica", com aval do Estado, que nomeia os seus próprios prelados.

As relações entre as duas Igrejas têm melhorado, o que torna surpreendente o tom duro na nota de Lombardi.

O texto diz que Guo não tem aprovação do papa Bento 16 para se tornar bispo, e que o Vaticano consideraria isso "ilícito e nocivo às relações construtivas que temos desenvolvido nos últimos tempos entre a República Popular da China e a Santa Sé."

O Vaticano deseja estabelecer relações diplomáticas com a China, mas o governo chinês diz que uma precondição para isso seria que a Santa Sé rompesse relações com Taiwan, ilha considerada uma "província rebelde" pela China comunista.

Taiwan, cujo nome oficial é República da China, mantém relações diplomáticas plenas somente com cerca de 20 nações.

 

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