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27/12/2010 - 12h01

Greve geral contra presidente tem pouca adesão na Costa do Marfim

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A greve geral convocada por opositores para pressionar o presidente Laurent Gbagbo a deixar o poder teve pouca participação nesta segunda-feira em Abidjã, a principal cidade da Costa do Marfim e cenário de confrontos pós-eleitorais.

Gbagbo, no poder desde 2000, enfrenta cada vez mais pressão internacional e nacional para deixar o governo, que assumiu após a anulação de cerca de 10% dos votos da eleição de 28 de novembro, a maioria em redutos de seu opositor e presidente reconhecido pela comunidade internacional, Alassane Ouattara.

Neste domingo, Djedje Mady, chefe do comitê político de Ouattara, disse que convocava a "todos os marfinenses e aqueles que vivem na Costa do Marfim e acreditam na paz e na justiça para interromperem suas atividades na segunda-feira, dia 27 de dezembro de 2010, até que Laurent Gbagbo deixe o poder".

A ideia era mostrar a Gbagbo que não havia apoio interno para seu governo. No entanto, em Abidjã, a circulação de veículos nesta manhã de segunda-feira foi intensa com a maioria do comércio aberto.

Desde o bairro elegante bairro de Cocodu (norte) até o popular de Treichville (sul), a capital econômica da Costa do Marfim registrava cenas iguais a de todos os dias úteis: engarrafamentos, sons de buzinas, táxis por toda a parte e lojas abrindo as portas.

Os comerciantes espalharam os produtos no grande mercado de Koumassi (sul), que desde cedo tinha grande movimentação. As ruas do bairro popular de Abobo (norte), reduto de Ouattara, estavam repletas de carros e vendedores ambulantes.

Já em Bouaké (centro), reduto da antiga rebelião aliada de Ouattara, a convocação de greve teve mais adesão, com lojas e agências bancárias fechadas, apesar da presença dos táxis nas ruas.

INTOCÁVEL

Em entrevista na noite deste domingo, Gbagbo ignorou o chamado de greve geral, reafirmou que está no poder legitimamente e disse que não procura "ser amado" por seus detratores.

"Talvez eles não me queiram, eu admito isso, mas eu não estou procurando ser amado por eles. Eu respeito e ajo de acordo com os votos dos marfinenses", disse Gbagbo, em entrevista à agência de notícias Associated Press, na noite deste domingo.

Sunday Alamba/AP
Presidente Laurent Gbagbo dá entrevista à agência Associated Press e diz ignorar pressão internacional
Presidente Laurent Gbagbo dá entrevista à agência Associated Press e diz ignorar pressão internacional

A medida chega um dia depois de uma reunião de emergência das nações que integram a Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental (CEDEAO) ter alertado que pode enviar tropas à Costa do Marfim para destituir Gbagbo à força.

Nesta terça-feira, três presidentes africanos visitarão Abidjã em uma última tentativa de convencer Gbagbo a ceder o poder a Ouattara. Os presidentes de Benin, Serra Leoa e Cabo Verde dirão a Gbagbo, em nome do bloco regional Cedeao "que ele deve sair o mais rápido possível ou enfrentar a força militar legítima", disse o ministro das Relações Exteriores de Benin, Jean Marie Ehouzou, à agência de notícias Reuters.

Um porta-voz do governo de Gbagbo chamou neste domingo a ameaça das nações da CEDEAO de "delinquência política" e reiterou que qualquer tentativa de derrubá-lo provocará uma guerra civil, arruinando a economia regional.

Ahoua Don Mello, porta-voz do regime, classificou a ameaça da CEDEAO de recorrer à força para tirar Gbagbo do poder como "um complô ocidental coordenado pela França", e disse que se esta intenção for concretizada, não se responsabiliza pela segurança dos milhões de imigrantes regionais que vivem na Costa do Marfim.

Mello afirmou "não acreditar de forma alguma" em uma intervenção militar na Costa do Marfim, justamente por haver milhões de cidadãos de outros países da África ocidental trabalhando nas lavouras de cacau do país.

"A Costa do Marfim é um país de imigrantes", argumentou. "Todos estes países têm cidadãos na Costa do Marfim, e eles sabem que se nos atacarem o conflito se tornará uma guerra interna".

"Será que a Burkina Fasso está pronta para receber de volta os três milhões de habitantes que migraram para a Costa do Marfim?", indagou.

"O povo da Costa do Marfim irá se mobilizar. Isso aumenta nosso patriotismo. Isso fortalece nossa fé no nacionalismo marfinense", indicou Mello, que ocupa a pasta de Infraestrutura e Saneamento no governo de Gbagbo.

"Estamos sempre abertos ao diálogo, mas dentro do respeito rígido às leis e regras da República da Costa do Marfim", acrescentou.

NEGAÇÕES

Criticando as informações divulgadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) --que dão conta de ao menos 173 mortos pelos confrontos no país desde o início do impasse político-- o ministro do Interior marfinense, Emile Guirieoulou disse que falta objetividade nos números.

"O governo da Costa do Marfim denuncia a falta de objetividade e equilíbrio nos procedimentos conduzidos pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU", afirmou, acrescentando que ao menos 36 vítimas eram policiais ou tropas de segurança 'atingidos por tiros vindos dos manifestantes".

Sia Kambou-25.dez.10/AFP
Carros da ONU patrulham Abidjã, na Costa do Marfim; pressão em nome de Alassane Outtara
Carros da ONU patrulham Abidjã, na Costa do Marfim; pressão em nome de Alassane Outtara

Guirieoulou também disse que os mais de 14 mil marfinenses que no momento aguardam o status de refugiados na Libéria, após deixarem o país, estão fugindo da violência dos que apoiam o oposicionista Ouatarra, e não das forças de segurança de Gbagbo.

CRISE

Poucos dias após a votação, a Comissão Eleitoral Independente declarou o opositor Ouattara como vitorioso com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo. O resultado foi reconhecido pela ONU, Estados Unidos e União Europeia. No mesmo dia, contudo, Gbagbo apelou ao Conselho Constitucional com alegações de fraude eleitoral. O órgão anulou cerca de 10% dos votos, a maioria em redutos de Ouattara, dando a vitória a Gbagbo com 51%.

Desde então, a comunidade internacional pressiona Gbagbo a deixar o poder e já aplicou as mais diversas sanções --como veto ao visto de viagem aos países da União Europeia e o congelamento dos fundos estatais no Banco Central da União Monetária e Econômica do Oeste Africano.

 

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