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Premiê formará novo governo no Egito; protestos continuam
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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Apontado pelo ditador do Egito, Hosni Mubarak, como o novo premiê, o ex-ministro da Aviação Ahmad Shafic terá a missão de formar um novo governo ao lado do novo vice-presidente, o ex-chefe dos serviços de inteligência Omar Suleiman, que segundo analistas ocidentais pode vir a comandar o país numa eventual renúncia do mandatário que está há 30 anos no poder.
Veja galeria com fotos dos protestos
Veja vídeo de confronto entre egípcios e polícia
Ouça relato do repórter da Folha em Suez
Em meio à deterioração da crise política no país, Mubarak começa a apontar seu novo gabinete, conforme anunciado em seu pronunciamento na noite de sexta-feira.
Mubarak afirmou na sexta que as demonstrações mostram que as pessoas querem "mais empregos, preços mais baixos, menos pobreza". "Sei que todas essas questões sao necessárias, e trabalho por elas todos os dias. Mas não posso permitir saques e incêndios em locais publicos", afirmou.
Khaled Desouki/AFP | ||
Sábado registra continuidade dos intensos protestos nas ruas do Cairo; ao menos 38 já morreram no Egito |
Os manifestantes, no entanto, parecem estar determinados a continuar os protestos até que o próprio ditador renuncie, e ao menos 38 morreram até a tarde deste sábado.
O número de mortos pode aumentar e dada a situação caótica no país, as informações ainda são desencontradas. Uma fonte médica não identificada disse à Reuters que já há ao menos 74 vítimas.
Também na manhã de hoje as linhas de telefone celular, que tinham sido bloqueadas desde a manhã de sexta-feira, começaram a ser restabelecidas pouco depois das 10h locais (6h de Brasília).
GABINETE
Seguindo as ordens de Mubarak os ministros do governo egípcio, incluindo o premiê Ahmed Nazif, apresentaram sua renúncia neste sábado, abrindo caminho para a formação de um novo governo.
De acordo com TV estatal egípcia Nazif anunciou a saída dos ministros após uma reunião realizada no Cairo na manhã deste sábado.
Lefteris Pitarakis/AP | ||
O ditador do Egito Hosni Mubarak deve anunciar um novo gabinete neste sábado; ruas do país ainda têm intensos protestos |
Em reação, Salil Chetty, chefe da ONG de direitos humanos Anistia Internacional (AI), disse que a decisão de Mubarak de dissolver o gabinete não deve amenizar os protestos que abalam o país desde terça-feira (25) e classificou a medida como "uma piada".
"As pessoas estão dizendo com muita clareza que querem uma mudança fundamental, uma mudança constitucional", disse, acrescentando que a AI tem funcionários atuando em todo o Egito.
CAOS
Diante da intensidade dos protestos, o governo ampliou mais uma vez o toque de recolher. Agora os egípcios não podem sair de casa entre as 16h (12h em Brasília) e as 8h (4h em Brasília) nas cidades do Cairo, Suez e Alexandria. No resto do país a proibição permanece sendo das 18h (14h em Brasília) até as 7h (3h em Brasília). O objetivo é conter as dezenas de milhares de pessoas que foram às ruas de várias localidades pedindo a queda de Mubarak.
Assim como nos últimos dias, no entanto, a medida foi ignorada por milhares de egípcios. Somente na praça Tahrir, no centro da capital, mais de 50 mil pessoas protestaram.
Ben Curtis/AP | ||
Protestos no Cairo continuam enquanto ditador Hosni Mubarak se prepara para anunciar formação de novo governo no Egito |
Ahmad Ezz, membro do partido governista aliado do filho de Mubarak e um dos empresários mais influentes do país renunciou ao cargo.
De acordo com a emissora britânica BBC o empresário é dono da Ezz Steel, indústria de aço que teve um de seus principais escritórios no bairro de Mohandiseen incendiado e saqueado neste sábado.
TURISTAS
Ainda hoje, cerca de 2.000 turistas lotaram os terminais do Aeroporto Internacional do Cairo tentando deixar o país.
Um vôo da companhia aérea El Al, de Israel, trouxe 200 israelenses de volta ao país enquanto um voo da britânica BMI com destino ao Cairo foi redirecionado de volta ao Reino Unido.
RELATO
Em Suez as pessoas utilizam os tanques do Exército como palanques provisórios, relata André Lobato, repórter da Folha na cidade.
"Eles [os manifestantes] distribuem água para os militares, apertam as mãos deles e colam mensagens de protestos nos tanques", conta o jornalista.
ENTENDA
A deterioração da situação política no Egito, que até a tarde de sábado já contava ao menos 38 mortos nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança, incita tensões no Oriente Médio. EUA, Irã, Jordânia e Israel estão entre os principais atores na volátil região que vem registrando protestos desde a queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali, na Tunísia.
Após a Revolução do Jasmim, em Túnis, houve protestos em países como a Mauritânia, Iêmen e Argélia, e analistas temem que os confrontos no Egito possam até contaminar a já tensa região entre o norte do Egito e os territórios palestinos.
Mais cedo, em Rafah, na passagem entre o Egito e a faixa de Gaza, militantes egípcios beduínos trocaram tiros com forças de segurança e ao menos 12 morreram, segundo a agência de notícias israelense Ynetnews.
O movimento islâmico Hamas, que controla o território desde 2007, enviou tropas à fronteira para evitar que palestinos cruzem à península do Sinai.
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, telefonou para Mubarak e expressou solidariedade ao líder egípcio, indicando desejo de que a estabilização seja retomada o mais rápido possível.
Já o governo de Israel revelou ao jornal israelense "Haaretz" que o gabinete do premiê Binyamin Netanyahu monitora com atenção os eventos no Egito, mas não deve comentar a crise.
O Egito reconhece o Estado de Israel e é visto como um aliado estratégico do país hebreu, apesar de no passado já ter travado guerras com os israelenses.
Buscando capitalizar as revoltas como uma possível inclinação do Egito ao fundamentalismo islâmico, o porta-voz da Chancelaria do Irã, Ramin Mehmanparast, disse que Mubarak deve renunciar e permitir que uma "onda islâmica desperte".
Khaled Desouki/AFP | ||
Mulheres participam dos protestos no Cairo; ao fundo, sede do partido do ditador Hosni Mubarak é incendiada |
Na Jordânia, Hamman Saeed, o líder da Irmandade Muçulmana, de oposição ao governo do rei Abdullah 2º --aliado de Washington-- disse que as revoltas no Egito devem se espalhar por todo o Oriente Médio, levando os árabes a se rebelar contra seus líderes "tiranos" aliados aos Estados Unidos.
O presidente americano, Barack Obama, disse em pronunciamento na Casa Branca nesta sexta-feira que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, deve cumprir as promessas feitas hoje à nação e dar "passos concretos" pela reforma política do país, pela promoção da democracia.
"O que é necessário agora são passos concretos para o avanço dos direitos do povo egípcio. Falei com ele [Mubarak] depois do discurso, e disse que agora ele tem a responsabilidade de dar sentido a essas palavras", disse Obama no discurso na Casa Branca.
Aliado importante dos EUA na região, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, onde Ben Ali estaria exilado, minimizou as revoltas no Egito ao classificá-las como "bagunça".
Durante conversa ao telefone com Mubarak, ele denunciou "intrusos" que estariam "bagunçando a segurança e a estabilidade do Egito (...) em nome da liberdade de expressão".
A Arábia Saudita "apoia com todos os seus recursos os governo e o povo do Egito", destacou Abdullah.
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
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