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Oposição monta "quartel da revolução" no Cairo
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SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO
Uma pequena agência de turismo da empresa aérea egípcia Al Masria está sendo usada como centro de coordenação das ações voluntárias de apoio aos manifestantes acampados há 13 dias no centro do Cairo.
O local, situado de frente para a praça Tahrir, epicentro do levante antigoverno, é chamado de "quartel general da revolução" pelos manifestantes, que rejeitam as conversas políticas em curso e prometem ficar até a saída do ditador Hosni Mubarak.
Fotos de aviões da Al Masria (em árabe, a egípcia) ainda enfeitam a fachada, que sobreviveu intacta às batalhas dos últimos dias entre manifestantes anti e pró-regime. Um cordão isola a calçada da loja do incessante vai e vem da multidão.
Do lado de dentro, os computadores foram retirados das três mesas de atendimento. Alguns voluntários aparentemente exaustos cochilam espremidos nos sofás.
Pessoas no local disseram à Folha que o dono da loja cedeu voluntariamente o local num gesto de apoio à revolta. Não foi possível verificar a informação.
A loja é controlada por jovens que tentam desde a semana passada racionalizar iniciativas espontâneas dos milhares de manifestantes, como atendimento médico, entrega de comida e limpeza.
Os coordenadores, identificados com braçadeiras de esparadrapo, também lideram a contraespionagem frente aos agentes do governo infiltrados na multidão.
Suspeitos capturados pelos espiões civis antigoverno ou por manifestantes comuns são trazidos para o fundo da loja e interrogados.
"Se o controle de identidade mostrar que o suspeito é inocente, o libertamos. Se for realmente um policial disfarçado, o entregamos ao Exército", diz à Folha Mohamed Abdelkader, 32, médico improvisado como segurança.
"Fazemos o possível para evitar que os suspeitos sejam linchados. Orientamos os manifestantes a não responder à violência com a mesma moeda. Mas é difícil controlar uma multidão com tanto ódio da polícia", acrescenta.
Segundo Abdelkader, só na última quarta-feira 120 agentes secretos foram entregues ao Exército, visto como mais próximo da população.
O médico afirma que o número de prisões despencou desde o final de semana. Nos cerca de 30 minutos que a Folha ficou no local, não houve nenhuma captura.
RESISTÊNCIA
Abdelkader, que veio dos arredores de Alexandria para juntar-se aos protestos, aponta para a multidão em volta dele para ilustrar o espírito de resistência dos manifestantes, que transformaram a praça Tahrir em um imenso acampamento.
Há cada vez mais gente sentada ou deitada em barracas improvisadas com cobertores. Desde anteontem chove e faz frio no Cairo.
Após dias de violência, voltou a reinar um clima pacífico, quase festivo.
Do lado de fora da praça, centenas de pessoas se amontoam nas vias de acesso, sob forte controle militar, carregando pães, água e cigarros para doar aos manifestantes.
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