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Egito vive rebelião romântica, diz escritor
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SAMY ADGHIRNI
ENVIADO AO CAIRO
"Fazer uma revolução é como estar apaixonado por alguém. É algo que nos torna pessoas melhores e capazes de qualquer coisa, inclusive o que parecia impossível."
A comparação é de um dos mais proeminentes e engajados intelectuais egípcios, o escritor Alaa Al Aswany, 54, cuja obra já foi traduzida para pelo menos 12 línguas, incluindo o português.
"Toda revolução é romântica, o Egito é a maior prova disso", afirmou o autor, ao receber a Folha e um pequeno grupo de outros jornalistas no apertado gabinete do centro do Cairo onde atende como dentista.
AFP | ||
O escritor e líder oposicionista Alaa Al Aswany no Cairo, onde trabalha como dentista |
Para ilustrar esse romantismo, Aswany cita a coragem e o civismo dos manifestantes antigoverno acampados na praça Tahrir.
"Eu estava na praça quando a polícia atirou na multidão, no último dia 28. Vi um homem do meu lado ser baleado na cabeça. Mesmo assim, ninguém recuou um centímetro sequer diante das balas", afirma.
REVOLUÇÃO LIMPA
O escritor, fluente em inglês e francês, também cita o que vê como um despertar espontâneo de solidariedade e respeito.
"Dias atrás, joguei um papel no chão da praça. Uma senhora de 70 anos me parou e disse: essa revolução é por um país melhor, e isso supõe um país mais limpo. Por favor, recolha o papel e jogue-o no lixo", relata.
O autor se diz impressionado com as doações de alimentos aos manifestantes e com a capacidade dos voluntários de coordenar segurança, atendimento médico e até o trânsito no Cairo.
"Todos os egípcios querem o fim deste regime, que é um dos mais repressores do mundo. Só defendem Mubarak aqueles que tiram algum benefício pessoal do governo", afirma.
REAÇÃO PADRONIZADA
Aswany diz não ter dúvidas de que as marchas de apoio ao ditador foram orquestradas pelo governo e alerta para o que chama de contrarrevolução.
"Ditadores, que passam décadas sem contato direto com a realidade da população e possuem egos gigantes, reagem de forma padronizada diante de revoluções", expõe o autor.
"Primeiro, eles negam a realidade. Depois, atribuem os distúrbios a elementos isolados a serviço de inimigos externos. Em seguida, negociam, sem nunca atender à reivindicação principal. Por fim, quando a ficha cai, eles se tornam muito agressivos, como um tigre ferido."
Hosni Mubarak, segundo o autor, mostrou-se capaz de tudo para levar adiante a contrarrevolução, inclusive ordenar que a polícia atirasse na população.
Aswany afirma que as ordens de massacrar os rebeldes só foram interrompidas após pressão dos norte-americanos -o regime egípcio é aliado da Casa Branca.
O escritor afirma que as conversas em curso entre governo e oposição são um modo de Mubarak ganhar tempo e diz que, quando houver eleições livres, votará em Amr Moussa, ex-ministro das Relações Exteriores, hoje secretário-geral da Liga Árabe.
"Ao atirar no próprio povo, Mubarak perdeu a força moral. A pressão interna e externa fez com que ele perdesse também a força política. Ainda resta a ele um pouco de força prática, que desaparecerá", avalia Aswany.
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