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Analistas descartam Al Qaeda na Líbia
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ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Ninguém sabe mais da falta de fundamento nas acusações do ditador líbio Muammar Gaddafi sobre a mão da Al Qaeda e outros terroristas na revolta no país do que o próprio Muammar Gaddafi.
Foi ele quem estrategicamente esmagou movimentos extremistas durante décadas e colaborou com o Ocidente para mantê-los longe da Líbia, de acordo com analistas.
"A sugestão de participação da Al Qaeda é totalmente idiota", disse à Folha Andrew Terrill, especialista em Oriente Médio do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA. "Não vejo sinal de terrorismo na Líbia".
Estudiosos concordam que a sugestão de envolvimento terrorista na revolta líbia tem relação com a tentativa de angariar apoio ao seu regime no exterior.
Para Gaddafi, os extremistas locais representavam ameaças, pois quase a totalidade era de oposição. "O ditador erradicou grupos extremistas nos anos 1990. Em 1997, já não havia restado quase ninguém", afirmou à Folha Yahia Zoubir, especialista em norte da África baseado na França.
Por anos, o principal desses grupos foi o LIFG (Grupo Líbio de Luta Islâmica, na sigla em inglês), formado por radicais que lutaram no exterior e voltaram ao país para lançar uma campanha violenta contra o ditador.
"Mas eram fragmentados mesmo nos melhores momentos", afirmou Terrill.
Os laços frouxos da Al Qaeda com o LIFG ajudaram Gaddafi a se posicionar contra essa rede terrorista, que classificava de "herética".
O núcleo do LIFG, porém, rejeitou a rede. Segundo Zoubir, apesar de pequena infiltração via casamentos em algumas tribos, a Al Qaeda não tem apoio na Líbia.
E outras organizações ultra-islâmicas locais renunciaram à violência pregando uma resistência pacífica.
Outro grupo que age no norte da África, a Al Qaeda no Magreb Islâmico, que tem elo discutível com a rede de Osama bin Laden, tem pouca força na Líbia. Estudiosos desconfiam que não consiga atuar fora dos domínios argelinos, país onde nasceu.
Isso não impediu Gaddafi de seguir agindo contra suspeitos de vínculos com a Al Qaeda dentro e fora de suas fronteiras, colaborando intensamente com os EUA.
Zoubir disse que ele foi muito útil. "Em 1998, já estava alertando o Ocidente sobre o perigo da Al Qaeda e trabalhando com a Interpol. Depois do 11 de Setembro, deu aos EUA listas e listas de terroristas em fuga."
Essa cooperação fazia parte de sua reabilitação com o Ocidente desde 2003, quando aceitou parar de financiar terroristas pelo mundo.
REAPROXIMAÇÃO
O governo do ex-presidente dos EUA George W. Bush (2001-2009) encarou a Líbia como modelo para reaproximação com países patrocinadores do terrorismo.
Nem por isso, os EUA deixaram de atentar para riscos potenciais na Líbia. Um telegrama da Embaixada dos EUA em Trípoli de 2008 que vazou no WikiLeaks indica que radicais líbios continuavam a regressar ao país de lutas no exterior e se aproveitavam da fragilidade da segurança no leste para se fixar em cidades como Darnah.
O analista Scott Steward, do grupo de inteligência global Stratfor, diz que "ao mesmo tempo que é improvável que radicais tomem controle da Líbia, se houver período de caos, os extremistas [do leste] podem ter mais espaço para operar em décadas".
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