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08/03/2011 - 17h54

Forças pró-Gaddafi contra-atacam rebeldes no leste e no oeste

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Forças leais ao ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, lançaram nesta terça-feira um contra-ataque a rebeldes em cidades no leste e no oeste do país, intensificando a ofensiva para reprimir a revolta contra o mandatário, que já dura 21 dias. Intensos confrontos foram registrados nas localidade de Zawiya, Ras Lanuf e Bin Jawad, que haviam sido tomadas pelas forças opositoras.

Na cercada Zawiya, a cidade controlada pelos rebeldes mais próxima da capital, Trípoli, moradores acuados pelos ataques desta terça-feira fizeram relatos de intensos confrontos.

"Batalhas continuam até agora. As forças de Gaddafi estão usando tanques. Também há ataques aéreos esporádicos. Eles não conseguiram chegar ao centro da cidade, que continua sob controle dos revolucionários", disse um morador chamado Ibrahim à agência de notícias Reuters pelo telefone.

"Muitos prédios foram destruídos, incluindo mesquitas. Cerca de 40 a 50 tanques estão participando do bombardeio."

Hussein Malla/AP
Rebeldes correm em meio a bombardeios em Ras Lanuf; mais um dia de confrontos na Líbia
Rebeldes correm em meio a bombardeios em Ras Lanuf; mais um dia de confrontos na Líbia

Um porta-voz do governo, Mussa Ibrahim, disse que o governo tem o controle da cidade mas que um grupo pequeno de combatentes ainda está opondo resistência.

"A situação é muito difícil. Ainda há bolsões de resistência, possivelmente 30 a 40 pessoas, escondendo-se nas ruas e no cemitério. Estão desesperadas", disse ele em Trípoli.

Um líbio que vive no exílio disse que na terça-feira conseguiu comunicar-se com um amigo na cidade que, em uma conversa rápida, descreveu cenas de combate em Zawiya.

"Meu amigo disse que a situação é terrível. Disse que as forças de Gaddafi estão tentando destruir a cidade. Muitos prédios já foram completamente destruídos, incluindo hospitais, cabos de eletricidade e geradores.'"

"As pessoas não têm como fugir, a cidade foi isolada. Todos aqueles que podem combater estão combatendo, incluindo adolescentes. As mulheres e crianças estão sendo mantidas escondidas. [...] As pessoas tentaram deixar a cidade. Os tanques deles [das forças de Gaddafi] estão em toda parte, disparando. Os rebeldes estão resistindo. O Exército de Gaddafi não está no controle. Os combates continuam."

Os relatos vindos de Zawiya não podem ser confirmados por observadores independentes porque tem sido impossível comunicar-se com residentes e combatentes rebeldes na cidade que antes mantinham contato regular com jornalistas.

Jornalistas estão sendo impedidos de entrar em Zawiya e outras cidades próximas da capital sem uma escolta oficial. Alguns repórteres que tentaram chegar à cidade por conta própria foram detidos pelas autoridades.

Os rebeldes líbios e as tropas de Gaddafi também se enfrentaram em torno da cidade litorânea de Bin Jawad, terminal petrolífero entre Sirte --cidade natal do ditador-- e Ras Lanuf, em poder dos oposicionistas, que conseguiram reforços para repelir um intenso fogo de artilharia.

Segundo a emissora Al Jazeera, os confrontos voltaram a atingir o local, inclusive com bombardeios da Força Aérea leal a Gaddafi, que combate as linhas de abastecimento rebelde.

Os rebeldes reforçaram suas tropas no local com o envio de mais combatentes e sobretudo de artilharia pesada nas últimas horas.

Segundo a Al Jazeera, os rebeldes apressam o envio de seus reforços, enquanto as brigadas de Gaddafi mobilizam mais efetivos para conter o avanço revolucionário sobre Sirte, cidade natal do ditador líbio, de vital importância pela acumulação de armas e por constituir o bastião das redes tribais pró-regime.

Os opositores redobraram sua determinação de chegar a Sirte como passo para libertar Misrata, isolada a leste pela terra natal de Gaddafi e a oeste por Trípoli.

A queda da cidade litorânea onde Gaddafi colocou a sede de alguns departamentos ministeriais e, sobretudo, montou um gigantesco pavilhão para montar suas cúpulas internacionais pode ser essencial para o desenrolar do conflito.

Também nesta terça-feira, um avião bombardeou um prédio residencial de dois andares em Ras Lanuf, base mais avançada da oposição na região leste da Líbia.

Membros das forças insurgentes correram para o local, mas até o momento não foram informadas vítimas no ataque.

Esta é a primeira vez que um ataque aéreo atinge casas em Ras Lanuf, um porto petroleiro estratégico que fica 300 quilômetros ao sudoeste da sede da oposição em Benghazi e é controlada desde sexta-feira (4) pelos insurgentes que há três semanas lutam contra o regime.

A explosão deixou uma cratera de dois metros de profundidade perto do edifício e vários estilhaços voaram a dezenas de metros.

A aviação líbia executa ataques diários contra posições dos insurgentes no leste do país.

A euforia revolucionária deu sinais nesta terça-feira de estar diminuindo. "Pessoas estão morrendo aqui. As forças de Gaddafi têm foguetes e tanques", afirmou Abdel Salem Mohamed, 21, à Reuters, perto de Ras Lanuf. "Você vê isso? Isso não é bom", afirmou, referindo-se a sua arma de fogo leve.

ULTIMATO

A liderança rebelde disse nesta terça-feira que, se o ditador renunciar dentro de 72 horas, não irá tentar levá-lo à Justiça.

"Se ele deixar a Líbia imediatamente, durante 72 horas, e parar com o bombardeio, nós, como líbios, iremos recuar de persegui-lo por crimes", disse Mustafa Abdel Jalil, chefe do Conselho Nacional Líbio, à Al Jazeera.

Mais cedo, a emissora de TV americana CNN informou que Gaddafi estaria trabalhando em um acordo para deixar o governo após 41 anos e para isso quer que os rebeldes da oposição garantam passagem segura para fora do país e que nem ele, nem sua família, sejam processados.

Gaddafi teria proposto um encontro do Parlamento líbio para acordar os termos da transição e os passos para sua renúncia. Segundo a TV Al Jazeera, os termos do ditador incluem ainda uma boa quantia em dinheiro.

O ditador teria inclusive enviado o ex-premiê Jadallah Azzouz Talhi para se reunir com os rebeldes e trabalhar na versão final de um acordo, pelo qual ele entregaria o poder a um comitê formado pelo Congresso Geral do Povo.

Mas os rebeldes rejeitaram qualquer oferta de negociação com o líder líbio para que ele deixe e o poder, e o governo afirmou que tais informações são "absolutamente sem sentido".

Representares da oposição líbia se encontraram na noite desta terça-feira com a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, em Estrasburgo, antes de comparecer ao Parlamento Europeu.

Países do bloco concordaram em adicionar os US$ 70 bilhões do fundo soberano líbio à uma lista de sanções. O embargo já cobre 26 líbios, incluindo Gaddafi e sua família.

A revolta líbia é a mais sangrenta da onda de protestos contra líderes autocráticos no norte da África e no Oriente Médio, que já viu os ditadores da Tunísia e do Egito renunciarem.

 

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